Recriando Cyrano com música
A peça de Edmond Rostand regressa numa inesperada e consistente versão musical: Cyrano tem uma partitura composta por elementos da banda The National.
Face ao musical Cyrano, somos tentados a perguntar: será que a sua existência resulta de um efeito West Side Story? De facto, não: as respetivas etapas de produção foram mais ou menos paralelas (afetadas pela pandemia) e, em boa verdade, a primeira projeção pública de Cyrano (setembro de 2021, no Festival de Telluride) até foi anterior ao lançamento do filme de Steven Spielberg.
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Seja como for, esta nova realização do britânico Joe Wright é mais um reflexo de uma curiosa "teimosia" estética que tem pontuado a produção de língua inglesa nas últimas décadas. A saber: a possibilidade de recuperar algumas matrizes clássicas do género musical, porventura seduzindo setores do público mais jovem que têm sido (des)educados através de modelos bem diferentes de espetáculo.
Estamos perante uma adaptação, não diretamente da peça de Edmond Rostand (publicada em 1897), mas sim do musical Cyrano, de Erica Schmidt (estreado em 2018). Como sempre, a paixão de Cyrano por Roxanne está assombrada pelas suas características físicas: na peça, e na maioria das versões, é o seu imenso nariz que o faz hesitar na confissão do seu amor; Schmidt, também responsável pela adaptação da peça ao cinema, optou por representar um Cyrano de pequena estatura. Escreveu, aliás, a pensar no seu marido, o ator Peter Dinklage (famoso pela série A Guerra dos Tronos), intérprete do musical que aqui retoma o papel, reencontrando também a sua Roxanne, Haley Bennett (que vimos recentemente no magnífico Swallow - Distúrbio).
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Com música e canções compostas por elementos da banda The National, Cyrano consegue resolver com discreta elegância os prós e os contras de um espetáculo que podia correr o risco de se esgotar numa ostentação banalmente decorativa. Era isso, precisamente, o que acontecia na versão de Ana Karenina (2012) assinada por Wright. Desta vez, a exuberância dos cenários não esmaga a singularidade das personagens - além do mais, Dinklage e Bennett são magníficos na interpretação de um amor enredado nos seus fantasmas.
dnot@dn.pt
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