"Que a minha morte seja de uma forma que dê um belo epitáfio para uma campa rasa"
A sua virtude preferida?
As públicas virtudes costumam ser muito desinteressantes, pelo que prefiro as privadas.
A qualidade que mais aprecia num homem?
Sentido de humor.
A qualidade que mais aprecia numa mulher?
Sentido de humor.
O que aprecia mais nos seus amigos?
A própria amizade.
O seu principal defeito?
O principal? Os meus defeitos são uma espécie de grande comunidade democrática, muito ativa, onde não há principais nem secundários.
A sua ocupação preferida?
E se for aquela desocupação Pessoana de ter um livro para ler e não o fazer?
Qual é a sua ideia de «felicidade perfeita»?
A minha ideia é que não existe «felicidade perfeita».
Um desgosto?
Os verdadeiros, nunca os exporia aqui, e não vou inventar um só para ficar bem neste retrato.
O que é que gostaria de ser?
Não acho que esteja assim tão mal que tenha desejos de ser outro.
Em que país gostaria de viver?
Estou contente com este e acho ridículo o hábito de glorificar outros.
A cor preferida?
Um arco-íris delas.
A flor de que gosta?
Girassol.
O pássaro que prefere?
No céu, andorinhas e estorninhos; no prato, perdiz; na gaiola, nenhum.
O autor preferido em prosa?
Lembro-me sempre do Monsieur de la Palisse, que consta que falava em prosa sem saber que o fazia.
Poetas preferidos?
Os que escrevem as letras das canções que nos acompanham todos os dias, sem nos lembrarmos dos seus autores porque ficam na sombra dos cantores.
O seu herói da ficção?
Zé Povinho
Heroínas favoritas na ficção?
Maria da Paciência.
Os heróis da vida real?
Todos os Zés Povinhos, deste país e do mundo inteiro, que são capazes de fazer grandes manguitos às injustiças e às dificuldades que lhes surgem na vida.
As heroínas históricas?
A padeira de Aljubarrota.
Os pintores preferidos?
Talvez por deformação profissional, mais do que pintores, lembro o impacto que me provocaram alguns quadros: a primeira vez que vi o Retrato de Fernando Pessoa, por Almada Negreiros, na Gulbenkian; A Guernica, ainda no Cason del Buen Retiro, em Madrid; a Decapitação de São João, por Caravaggio, na Catedral de La Valeta, em Malta; o Retrato do imperador Rudolfo II, por Arcimboldo, no castelo de Skokloster, na Suécia; o Ceifeiro, de Júlio Pomar, nas reservas da Galeria 111 ou os Macaquinhos no Sótão, de Paula Rego, na coleção Luísa e Manuel Pedroso de Lima... mas, sobretudo, confesso que tenho a sorte de conviver com um artista que me fascina todos os dias: Rafael Bordalo Pinheiro.
Compositores preferidos?
Depende da hora do dia, da disposição do momento, da companhia.
Os seus nomes preferidos?
João Simões Magalhães e todos os que têm til, para me poder divertir com a forma como os estrangeiros desesperam a nasalar o ditongo.
O que detesta acima de tudo?
Não me dou nada bem com pessoas que agem de uma forma que contraria o seu melhor juízo sobre a maneira de conseguir aquilo que querem, comprometendo assim os seus próprios objetivos e vontades. Durante muito tempo chamei a esta atitude irracionalidade (e até cobardia), mas depois aprendi que os gregos já a tinham definido com o conceito de acrasia.
A personagem histórica que mais despreza?
As intriguistas, representadas no Astérix pelo Tullius Détritus, n" A Zaragata.
O feito militar que mais admira?
Feitos militares não são bem a minha praia, mas já confessei a minha admiração pela padeira de Aljubarrota.
O dom da natureza que gostaria de ter?
Fotossíntese. Gostava bem de poder transformar o dióxido de carbono em oxigénio.
Como gostaria de morrer?
Já que tem de ser, que seja de uma forma que dê um belo epitáfio para uma campa rasa.
Estado de espírito atual?
Bem, obrigado. E vocês?
Os erros que lhe inspiram maior indulgência?
Os que prejudicam quem os comete.
A sua divisa?
Nenhuma em especial, mas gosto do que diz Sérgio Godinho: E viva o dia em que já não precisas / De reis nem gurus nem frases-chave nem divisas.