Margarida Balseiro Lopes,  Ministra da Cultura, Juventude e Desporto, e Miguel Pauseiro, presidente da APEL.
Margarida Balseiro Lopes, Ministra da Cultura, Juventude e Desporto, e Miguel Pauseiro, presidente da APEL.Gerardo Santos

Programa cheque-livro vai ter nova edição com valor reforçado

Anúncio do prolongamento do programa foi feito pela ministra da Cultura, Juventude e Desporto no lançamento da terceira edição da iniciativa Book 2.0 da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros.
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O programa cheque-livro que atribui 20 euros aos jovens nascidos em 2005 e 2006 para a aquisição de um livro e que termina no dia 15 de julho vai ter uma nova edição, anunciou esta quinta-feira a ministra da Cultura, Juventude e Desporto. Margarida Balseiro Lopes disse que o valor do cheque vai ser reforçado, mas não adiantou o montante.

A ministra falava na conferência de imprensa de lançamento da iniciativa Book 2.0, da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) e apanhou a associação de surpresa, de acordo com o presidente, Miguel Pauseiro. A associação considera que aumentar o valor do cheque é fundamental para uma maior adesão ao programa e tem defendido que o montante suba para 100 euros.

Fonte oficial do Ministério da Cultura disse ao DN que o novo valor ainda será definido, após avaliação dos resultados da primeira edição do programa que agora está a chegar ao fim, e que a segunda edição será lançada "até ao final do ano".

Na edição em curso, de acordo com dados preliminares da Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB) avançados pelo Ministério da Cultura, foram emitidos mais de 47 mil cheques-livro. Os números finais e o balanço da primeira edição do programa serão apurados após o próximo dia 15 de julho.

O Governo quer que o cheque-livro “chegue a mais jovens, em mais lugares, de norte a sul do país”, afirmou Margarida Balseiro Lopes na apresentação do Book 2.0 da APEL.

O presidente da APEL gostou de ouvir as palavras da ministra. "Acreditamos firmemente que esta é uma medida que tem que ter continuidade. É a partir dos jovens que nós, de facto, conseguiremos colmatar este desvio, de um ponto de vista civilizacional, que o nosso país tem. E, para tocar nos jovens, o cheque livro é uma ferramenta extraordinária", afirnou Miguel Pauseiro.

A medida foi lançada em março de 2024 para um universo estimado de 220 mil jovens. Estava previstro terminar em setembtro desse ano, mas dada a baixa adesão, o programa foi prolongado duas veses, primeiro para abri de 2025 e depois para 15 de julho.

Para o líder da associação de editores e livreiros esta primeira edição foi um teste que permitirá que o programa seja melhorado. "Eu nem sequer considero que esta tenha sido uma primeira edição. Foi um piloto, foi um teste. Aprendemos, vamos ver se agora somos capazes de corrigir. E, mais uma vez, congratulo a mensagem que a senhora ministra aqui passou, porque focou no aspeto da comunicação, focou também na componente do valor, e o valor é relevante", sublinhou.

Para a APEL, "não é ao longo do ano que vamos fazer leitores, mas também não é com 20 euros que vamos fazer leitores. Se pudermos equilibrar um pouco, entre ter um programa de um ano, com um valor que permita que haja recorrência de compra, começamos a colocar umas primeiras pedras naquilo que é um edifício, que vai demorar um tempo".

Para Miguel Pauseiro, é preciso reforçar a comunicação e a operacionalização nas livrarias do programa. O cheque-livro exige a ida às livrarias físicas para resgatar o valor, mas esta exigência poderá ter que ser repensada.

"Nós fomos os primeiros, na altura, com o ministro Pedro Adão e Silva, a dizer, ok, vamos fazer com que o incentivo seja ir à livraria e à livraria física. Mas perante os dados que temos hoje, acho que vale a pena parar e pensar", diz Miguel Pauseiro

"Não temos propriamente uma opinião fechada sobre o assunto, mas atendendo a este desvio para o litoral, entre Setúbal e Braga...Nós temos distritos em que têm um aderente ao programa cheque, enquanto retalhista. Temos outros distritos que têm três aderentes", acrescenta.

Book 2.0 para "plano de ação"

O presidente da APEL apresentou esta quinta-feira a terceira edição do Book 2.0, uma iniciativa que considera ser "um momento de reflexão para gerar conteúdos para a definição de uma estratégia" destinada a reforçar a leitura e a compra de livros em Portugal. "Mas não queremos só teorizar, não queremos apenas e só ter um bonito documento no final para todos nós lermos e para andarmos num circuito fechado. Queremos que daqui saia um plano de ação", reforçou, com a Ministra da Cultura sentada ao seu lado.

O evento vai decorrer nos dias 3 e 4 de setembro na Fundação Champalimaud, em Lisboa, e não por acaso. Para Miguel Pauseiro, Portugal tem que ser ambicioso e deve haver "um desígnio nacional que nos faça estar entre os melhores do mundo", tal como a Fundação Champalimaud é uma referência internacional.

"Ler ainda não é um hábito regular e transversal a toda a sociedade portuguesa. Indicadores de compra per capita no nosso país são dos mais baixos da Europa. Estamos 30% abaixo de Espanha. Estamos 40% abaixo de Itália. Estamos 80% abaixo dos países baixos. No Reino Unido compra-se mais do dobro de livros per capita do que em Portugal. Em França compra-se quase quatro vezes mais livros per capita do que em Portugal. O número de livrarias em Portugal é criticamente baixo. Então, quando comparados com todos estes países, é verdadeiramente impressionante o quão longe estamos destes mercados", aponta Miguel Pauseiro.

O atraso é grande, apesar do aumento da venda de livros. "É verdade que nos últimos anos temos vivido um momento de entusiasmo em torno do livro. Entre 2021 e 2024 o mercado do livro português cresceu de forma acumulada um pouco mais do que 30% em valor e ligeiramente menos do que 30% em unidades", informou.

Só em 2024 houve um crescimento de 9% em valor e de 6% em número de unidades no mercado livreiro (cerca de 14 milhões de livros), e os números do primeiro semestre de 2025 - tradicionalmente mais fraco do que a segunda metade do ano, que apanha o Natal - apontam para uma continuação do crescimento, com uma subida de 9% em valor e 8% em unidades vendidas.

A explicar este dinamismo, segundo o presidente da APEL, estão "as redes sociais, a penetração nos jovens. Porque o segmento onde este crescimento está ancorado, é um crescimento nos segmentos mais baixos da população, entre os 15 e 24 e os 25 e 34 anos".

"No fundo, o motor deste crescimento tem sido a ficção. Ficção infantil ou juvenil, também. E o livro importado", explica.

A terceira edição do Book 2.0 decorrerá sob o mote "A Reinvenção das Espécies" e propõe uma reflexão, este ano, sobre "o papel do livro, da ciência e da tecnologia na formação de uma sociedade mais crítica, informada e inclusiva".

O evento beneficia do Alto Patrocínio do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e entre os oradores nacionais confirmados estão Analita Alves dos Santos, Carlos Fiolhais, Dino D’Santiago, Mariana Nunes, Mário Daniel e Nuno Crato e outros oradores nacionais. Entre os oradores internacionais vão participar Cassie Chadderton (Reino Unido), Daniel Benchimol (Espanha), Gvantsa Jobava (Geórgia), Johan Pehrson (Suécia), José Eduardo Agualusa (Angola), Meg Jay (EUA), Paula Pimenta (Brasil) e Pedro Pacífico (Brasil).

O presidente da APEL diz que a internacionalização deste evento está na agenda da associação, para reforçar a cooperação no setor editorial e livreiro com outros países. "Algures na Europa, não quero adiantar, neste momento, um país em concreto. Nas outras edições nós tivemos participantes um pouco por toda a Europa. E, pelo menos, dois países, duas congéneres da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros mostraram-se interessados em que ajudássemos a organizar um evento deste tipo. Foi uma das coisas que mais me surpreendeu", conta Miguel Pauseiro. 

 Margarida Balseiro Lopes,  Ministra da Cultura, Juventude e Desporto, e Miguel Pauseiro, presidente da APEL.
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