Delfim Sardo, administrador do CCB.
Delfim Sardo, administrador do CCB.Rita Chantre / Global Imagens

“Portugal tem muitos festivais, este tem na sua génese espelhar a diversidade cultural”

A 1.ª edição do festival Belém Soundcheck arranca hoje já com três concertos esgotados. Ao DN o administrador do CCB, Delfim Sardo explica as características de um evento que aposta na diversidade musical.
Publicado a
Atualizado a

Inquietação é o nome do concerto de Camané que hoje, às 20.00 horas, irá inaugurar o novo festival bianual de música do CCB, o Belém Soundcheck. Mas inquietação também podia ser adjetivo para este novo evento musical que aposta na inovação exploratória e na multiplicidade de universos musicais, desafiando assim a inquietar o público. A começar pela originalidade do espetáculo de Camané, que vai atuar no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém, e que irá interpretar uma escolha pessoal de parte do repertório de fados que José Mário Costa compôs para si, alguns dos temas irão para lá do tradicional trio de guitarras e apresentarão outras sonoridades.

Duas horas mais tarde, às 22.00, no Pequeno Auditório do CCB será a vez da cantora Maria João apresentar o concerto Songs for Shakespeare, que consiste em material musical e performativo original em que as palavras de William Shakespeare são o ponto de partida.

O primeiro dia do Belém Soundcheck encerra com um set d e DJ no foyer do Grande Auditório, com entrada livre - sessões que se repetem todas as noites com outros intervenientes. 

Em conversa com o DN, Delfim Sardo, administrador do CCB, explicou a génese do evento: “A ideia deste festival foi sempre a do cruzamento de públicos e de tipologias musicais. Portugal tem muitos festivais, e este, que arranca antes de todos os outros, tem na sua génese espelhar a diversidade cultural que o CCB tem vindo a apresentar.”

No dia da conversa, terça-feira, eram três os concertos esgotados: Camané, Soundwalk Collective com Patti Smith e a britânica Tirzah. “As nossas expectativas para o festival são necessariamente altas, embora este seja o ano zero. Portanto, vai ser uma edição com a qual vamos aprender. Contudo, ter já três concertos esgotados é importante e deixa-nos satisfeitos”, explica Delfim Sardo, justificando as escolhas artísticas desta primeira edição: “Estabelecemos um patamar de extrema qualidade.”
“São projetos desafiantes e interessantes nos quais os músicos apresentam projetos que não são exatamente do seu foco central artístico, ou pelo menos não têm sido aquilo que o público mais tem visto deles. Portanto, há aqui um caráter de novidade e de inovação exploratória, o que é obviamente um risco, mas que é a nossa aposta”. O objetivo, segundo o administrador do CCB é atrair público com apetências variadas .

No segundo dia, amanhã, a música barroca estará em destaque. Pelas 20.00 horas, no Grande Auditório, o ensemble Il Giardino Armonico, criado em 1985 por Giovanni Antonini, apresenta-se com o violoncelista e compositor Giovanni Sollima, num programa com obras de Vivaldi, entre outros compositores barrocos. Às 22.00, no Pequeno Auditório, é a vez do músico brasileiro Amaro Freitas apresentar o seu novo disco Y’Y - lançado a 1 de março - no qual faz uma homenagem à floresta da Amazónia e aos rios do Norte do Brasil. No final, como em todos os dias de festival, a sessão de DJ no foyer do Grande Auditório.

A performance (e exposição) de Patti Smith

E ao terceiro dia de festival, sábado, 23 de março, a atenção estará centrada no concerto/performance dos Soundwalk Collective com a norte-americana Patti Smith. A artista de 77 anos estará presente um dia antes, sexta, na inauguração da exposição Evidence, no MAC/CCB. A mostra apresenta sons, filmes, objetos e criações recolhidas ao longo das viagens do coletivo Soundwalk Collective com Patti Smith e conduz o público por uma instalação que une fotos, textos e obras originais de Smith. 

Entrevista ao Administrador do CCB, Delfim Sardo
Álvaro Isidoro / Global Imagens

Já o concerto/performance de sábado, irá decorrer no Grande Auditório, às 19.00 horas, apresentando uma trajetória de percursos sonoros deixados por poetas, cineastas, revolucionários e episódios extraordinários da humanidade.

Ainda no mesmo dia, a música experimentalista da britânica Tirzah apresenta-se ao público português pela primeira vez. A artista irá apresentar músicas do seu álbum de estreia trip9love…???, de 2023, no Pequeno Auditório às 21.00 horas.

No domingo, último dia do festival, apresenta-se a Kremerata Baltica às 17.00, no Grande Auditório. Fundada em 1997 pelo violinista Gidon Kremer, a Kremerata Baltica é uma orquestra formada exclusivamente por jovens músicos bálticos selecionados pelo violinista. O Soundcheck termina com uma sessão de DJ até às 23.00 horas.

Questionado sobre o que poderá ficar destes três dias de concertos, Delfim Sardo afirma que seria interessante “despertar nas pessoas a curiosidade por ver o que ainda não conhecem”. “Depois desta edição, teremos tempo para ganhar balanço para o próximo, daqui a dois anos, avaliar e corrigir o que não esteve tão bem.” 

Se o Soundcheck se tornará o grande festival do CCB, Delfim Sardo prefere esperar para ver : “Acho que é prematuro estarmos agora a falar do futuro. Para nós, neste momento, o que é importante é usufruir da oferta deste ano que, acredito, é muito boa.”

Para o administrador, o que parece certo é a existência de um público cada vez mais preparado para descobrir coisas novas: “É muito mais interessante ser-lhe dada a possibilidade de ver o que ainda não sabe, e de ser surpreendido.”

Delfim Sardo acredita que o público português começa a estar preparado para tal. “Reparamos que em Portugal, ao contrário de alguns países, nomeadamente na Europa, os públicos estão muito segmentados, os públicos das artes performativas não são os das artes visuais, etc. No entanto nas gerações mais novas, essa abertura é completamente distinta. E portanto, é acompanhar. O papel das instituições é estar com atenção, disponíveis, e serem flexíveis e acompanhar os criadores e as apetências que já vamos encontrando nos públicos mais jovens.”

filipe.gil@dn.pt

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt