Vale tudo no cinema português? Neste caso, nesta próxima temporada temos “produto” com celebridades, mas também cinema a sério e muita série de tv transformada em filme para as salas... Série e filme 'H
Vale tudo no cinema português? Neste caso, nesta próxima temporada temos “produto” com celebridades, mas também cinema a sério e muita série de tv transformada em filme para as salas... Série e filme 'HReinaldo Rodrigues/Global Imagens

Pessoa mas também César Mourão, Lili Caneças e Luciana Abreu

Num ano em que Pessoa, Cunhal e Salazar foram personagens em filmes nestes Encontros do Cinema Português, as novidades apontam a uma resistência contra a debandada de público. Cinema de autor com novas obras de José Filipe Costa, Edgar Pêra, João Nuno Pinto, Ivo Ferreira, mas também César Mourão ou Sónia Balacó...
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Pela nona vez, a NOS Audiovisuais promoveu um encontro entre produtoras, exibidores e distribuidores para mostrar a nova safra de filmes portugueses, entre o documentário e a ficção. Sem contar com filmes que já foram mostrados em festivais como Cannes e o Indielisboa - sobretudo os bastante acarinhados Mãos no Fogo, de Margarida Gil, Estamos no Ar, de Diogo Costa Amarante;  Grand Tour, de Miguel Gomes, Banzo, de Margarida Cardoso, e O Melhor dos Mundos, de Rita Nunes -, nos cinemas NOS Vasco da Gama viram-se trailers e excertos das longas-metragens que podem estrear entre os próximos meses e o ano de 2025.

Para já, percebe-se que a linha divisória entre cinema de grande público e o chamado nicho de arte & ensaio continua radical. Continuam a fazer falta os “filmes do meio”, aqueles que querem contar histórias mas que não fazem concessões à ideia de blockbuster. A par disso, algumas tendências: a primeira, uma aposta recorrente em Júlia Palha. A jovem estrela está em 3 filmes. Outra das tendências: estrelas fora do cinema: Lili Caneças é uma das figuras de Vive e Deixa a Andar, uma espécie de spoof lusitano a James Bond, da responsabilidade de Miguel Cadilhe, antigo produtor de Manoel Oliveira e o realizador de Curral de Moinas - os Banqueiros do Povo. Mas também vamos ter Ana Malhoa em A Idade da Pedra, de Gonçalo Oliveira, comédia que se diz inspirada em filmes como Os Flinstones ou Ano Um, e que imagina um telemóvel a cair numa gruta da idade pré-histórica a provocar uma batalha entre os alentejanos e os nortenhos. Por fim, ainda teremos uma outra protagonista improvável: Luciana Abreu em Rosa Brava, um filme de Hugo Diogo, cinema de ação com cenas de ação que terão coreografia ainda a ser executada com duplos internacionais. 

Outra figura recorrente destes Encontros é Pessoa, Fernando Pessoa. A Bando À Parte  apresentou as primeiras imagens de Cartas Telepáticas, de Edgar Pêra, a primeira longa nacional inteiramente criada através da Inteligência Artificial. Trata-se de um ensaio que imagina cartas imaginárias entre Lovrecraft e Pessoa, tudo a preto & branco. Sabe-se que vai estar num grande festival internacional. Onde está o Pessoa?, de Leonor Areal, também um ensaio a partir de um filme descoberto que terá as únicas imagens de Pessoa em movimento. Como a realizadora salientou, trata-se de uma espécie de Onde Está o Wally?. Tem já estreia comercial para este mês.

Numa altura em que foi anunciado o prémio do Canal Hollywood, destinado a incentivar filmes com potencial para mais de 100 mil bilhetes, impossível não destacar a estreia de César Mourão na realização em Podia Ter Esperado por Agosto, comédia romântica com o próprio César e a inevitável Júlia Palha. Como aqui foi dito por um dos produtores, as primeiras imagens confirmam ser um filme mais para sorrir do que para dar gargalhadas. Mais uma obra  que avançou sem dinheiro do ICA...

Das imagens mais surpreendentes vistas nestes encontros vieram da câmara de Ivo Ferreira com o seu Projeto Global, um épico de ação e romance sobre as FP 25 de Abril. Pelas primeiras imagens, parece uma obra com escala. Está previsto estrear em Portugal no próximo dia 24 de abril. O realizador estava visivelmente entusiasmado: “vai dar que falar às direitas e às esquerdas, uma rebaldaria, mas o cinema não pode de ter medo de tocar em feridas ainda em aberto. Mas nós viemos pela paz...”.

Imagens bem apelativas teve O Último Verão, de João Nuno Pinto, onde se conta como uma festa de família numa propriedade alentejana se torna num pesadelo em virtude de um violento incêndio num dia quente. Beatriz Batarda, Rita Cabaço e Margarida Marinho são as protagonistas de um projeto que conta a mesma situação sob três pontos de vista. 

O Presidente, de José Filipe Costa, farsa sobre Salazar foi um dos casos destes Encontros. Será um dos poucos filmes que pode surpreender comercialmente, sobretudo tendo em conta os aplausos obtidos na apresentação. Viu-se o antigo ditador a ser cozinhado em lume brando - o cinema antifascista pode passar por aqui.

Destaque ainda para a estreia de João Rosas nas longas de ficção com Educação Sentimental. Um conto “coming of age” sobre jovens de Lisboa. Os três excertos vistos revelam que o melhor que víamos nas curtas deste cineasta deve passar sem problemas para o formato da longa. Pedro Borges, o produtor, falou em estreia num festival internacional. Rezemos que Veneza esteja atenta....

Cineastas e atores de Prisma, Sónia Balacó e Zé Bernardino falaram sobre a importância do ”sítio de diálogo”.
Reinaldo Rodrigues/Global Imagens

Enorme potencial também para outras duas primeiras obras, Terra Vil, de Luís Campos, história situada em Entre-os-Rios num conto de infância que convoca memórias do terrível acidente que marcou esta terra do Douro. Lúcia Moniz está no elenco e o realizador adverte que é um projeto pensado para um público juvenil. A outra foi sem dúvida Prisma, de Zé Bernardino e Sónia Balacó, produção low-budget com os próprios realizadores que aborda o mundo das artes plásticas em Lisboa.

Foram ainda vistas as primeiras imagens de O Meu Jardim, de Sérgio Graciano, drama sobre os limites do amor, Os Infanticidas, de Manuel Pureza, comédia feita durante a pandemia; Camarada Cunhal, de Sérgio Graciano, thriller sobre a fuga de Álvaro Cunhal do forte de Peniche; A Pianista, de Nuno Bernardo, com Teresa Tavares e o tema da clonagem; Sonhar com Leões, de Paolo Marinou-Blanco, comédia dramática sobre a eutanásia; A Travessia, de Fernando Vendrell, mais outro filme com Júlia Palha, uma história sobre o feito de Gago Coutinho e Sacadura Cabral.

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