Assim que foi decretado o novo encerramento temporário das escolas, um post na página de Facebook da RTP2 anunciava a extensão horária do espaço infantil Zig Zag, fazendo destaque à famosa série didática Era Uma Vez... a Vida, cujos episódios de meia hora podem juntar pais ou irmãos mais velhos à frente do ecrã. Este comunicado da direção terminava com um "esperamos que compreendam as alterações à programação", talvez assumindo que os espetadores sem filhos pequenos possam ser menos sensíveis ao papel pedagógico de um canal televisivo. E a verdade é que, nestes dias em que as crianças e adolescentes voltam para casa sem um programa escolar para seguir, não é de todo desprovido de sentido - qualquer espetador compreenderá - procurar-se alternativas de entretenimento que sejam também, de alguma maneira, escolhas formativas..Para além da programação televisiva, uma pesquisa rápida por filmes de animação em algumas plataformas de streaming permite perceber que há boa oferta por entre muitas propostas coloridas mas relativamente descartáveis. Da Filmin ao Disney+, sugerimos algum do melhor cinema de animação para ver em casa. Entenda-se: filmes que são mais do que diversão fast-food, para miúdos e graúdos..Não há muitos catálogos de streaming que privilegiem as produções independentes. É o caso da Filmin, onde se pode encontrar, por exemplo, a animação brasileira Tito e os Pássaros, de Gabriel Bitar, André Catoto e Gustavo Steinberg, fábula expressiva sobre a epidemia do medo, ao lado de um maravilhoso título francês - nomeado para Óscar - A Minha Vida de Courgette, de Claude Barras, obra-prima stop motion que segue a história e as emoções de um menino levado para uma casa de acolhimento depois da morte da mãe..Também de animação japonesa se faz a oferta da Filmin, com viagens mágicas como Mary e a Flor de Feiticeira, de Hiromasa Yonebayashi, qual piscadela de olho à temática Harry Potter; Mirai, de Mamoru Hosoda, à volta do nascimento de um bebé e dos sentimentos que provoca no irmão mais velho; e Ponyo à Beira Mar, a aventura aquática de Hayao Miyazaki que se encontra igualmente disponível na Netflix. Porém, as maiores raridades são do estúdio irlandês Cartoon Saloon, responsável por algumas das mais belas animações "artesanais" dos últimos anos. Falamos de Brendan e o Mundo Secreto de Kells e A Canção do Mar, ambos de Tomm Moore (de quem estreou há pouco tempo Wolfwalkers, na Apple TV+), narrativas que nascem do imaginário das lendas irlandesas, sendo A Canção do Mar o expoente máximo dessa abordagem mitológica ao evocar as Selkies (mulheres-focas) através da aventura de dois irmãos. Do mesmo estúdio e produzido por Angelina Jolie, A Ganha-Pão, de Nora Twomey, será um olhar mais maduro sobre a condição das mulheres no Afeganistão, protagonizado por uma menina que se faz passar por rapaz para conseguir comprar os bens essenciais para a casa, na sequência da captura do pai por talibãs..Faz agora um ano que a Netflix adquiriu 21 filmes do Studio Ghibli. Um golpe de mestre no que à cultura do cinema de animação diz respeito, ou não fosse esse estúdio, fundado por Hayao Miyazaki e Isao Takahata, a grande marca japonesa em competição direta com a qualidade Disney - de resto, continua a ser o único estúdio de língua não inglesa que alcançou o feito do Óscar, precisamente com um dos sucessos mundiais de Miyazaki, A Viagem de Chihiro..Assim, é importante lembrar que há todo um património à disposição dos mais novos (e não só) na plataforma Netflix, que é como quem diz, filmes que ajudam a crescer. De Miyazaki, para além dos referidos A Viagem de Chihiro e Ponyo à Beira Mar, encontram-se Nausicaä do Vale do Vento, O Castelo no Céu, A Princesa Mononoke, O Meu Vizinho Totoro, Porco Rosso, O Castelo Andante, Kiki - A Aprendiz de Feiticeira e, o mais "adulto", As Asas do Vento. Qualquer um destes títulos símbolo do calibre de imaginação, valores e consciência ecológica que é apanágio do seu realizador, um verdadeiro artesão do desenho animado, a par com Takahata, de quem se pode descobrir o comoventíssimo O Túmulo dos Pirilampos, sobre dois irmãos a tentar sobreviver no Japão durante a Segunda Guerra Mundial, mas também Pom Poko: A Grande Batalha dos Guaxinins, os suaves retratos familiares Memórias de Ontem e A Família Yamada, e a obra-prima de aguarela O Conto da Princesa Kaguya. Este foi o derradeiro filme de Takahata e é o exemplo mais perfeito da sua depuração visual e narrativa, aqui inspirada num dos textos fundadores da tradição literária japonesa sobre uma menina nascida de uma cana de bambu..Ainda da Ghibli, há coisas muito boas como O Sussurro do Coração, de Yoshifumi Kondo, um romance adolescente com uma protagonista que adora ler (já não existem personagens assim...); O Reino dos Gatos, de Hiroyuki Morita, sobre uma jovem involuntariamente comprometida com um gato príncipe, num universo mágico; A Colina das Papoilas, do filho de Miyazaki, Goro; O Mundo Secreto de Arriety e Memórias de Marnie, ambos de Hiromasa Yonebayashi, o realizador de Mary e a Flor de Feiticeira. Não sendo Ghibli, o recente anime Os Gatos também Choram, centrado numa jovem que se transforma em gato quando usa uma máscara misteriosa, é a prova de que o espírito criativo desse estúdio continua a influenciar as produções nipónicas..Como é evidente, o serviço de streaming Disney+ é, por excelência, o palco maior do cinema de animação, com os clássicos do estúdio do Rato Mickey à distância de um clique, tal como as produções Pixar. Para quem já viu o badalado Soul, talvez esteja na hora de rever outros momentos brilhantes do realizador Pete Docter, como Up - Altamente e Divertidamente, ou a amorosa viagem galáctica de Wall-E (com argumento original de Docter)..A HBO Portugal, por sua vez, entre as sagas Shrek, O Panda do Kung-Fu e Gru - O Maldisposto, tem um inédito nas nossas salas: O Livro da Vida, de Jorge R. Gutiérrez. Esta produção de Guillermo del Toro, que literalmente enche os olhos, foi muito referida pela crítica americana como sendo a inspiração para o oscarizado Coco, de Lee Unkrich e Adrian Molina. Isto porque a ação de ambos os filmes acontece no Dia dos Mortos, uma forte tradição mexicana que é retratada de forma mais emocional em Coco (é Disney, para todos os efeitos) e com uma boa dose de diversão em O Livro da Vida. A aventura de crescimento é garantida, assim como uma incrível paleta de cores.
Assim que foi decretado o novo encerramento temporário das escolas, um post na página de Facebook da RTP2 anunciava a extensão horária do espaço infantil Zig Zag, fazendo destaque à famosa série didática Era Uma Vez... a Vida, cujos episódios de meia hora podem juntar pais ou irmãos mais velhos à frente do ecrã. Este comunicado da direção terminava com um "esperamos que compreendam as alterações à programação", talvez assumindo que os espetadores sem filhos pequenos possam ser menos sensíveis ao papel pedagógico de um canal televisivo. E a verdade é que, nestes dias em que as crianças e adolescentes voltam para casa sem um programa escolar para seguir, não é de todo desprovido de sentido - qualquer espetador compreenderá - procurar-se alternativas de entretenimento que sejam também, de alguma maneira, escolhas formativas..Para além da programação televisiva, uma pesquisa rápida por filmes de animação em algumas plataformas de streaming permite perceber que há boa oferta por entre muitas propostas coloridas mas relativamente descartáveis. Da Filmin ao Disney+, sugerimos algum do melhor cinema de animação para ver em casa. Entenda-se: filmes que são mais do que diversão fast-food, para miúdos e graúdos..Não há muitos catálogos de streaming que privilegiem as produções independentes. É o caso da Filmin, onde se pode encontrar, por exemplo, a animação brasileira Tito e os Pássaros, de Gabriel Bitar, André Catoto e Gustavo Steinberg, fábula expressiva sobre a epidemia do medo, ao lado de um maravilhoso título francês - nomeado para Óscar - A Minha Vida de Courgette, de Claude Barras, obra-prima stop motion que segue a história e as emoções de um menino levado para uma casa de acolhimento depois da morte da mãe..Também de animação japonesa se faz a oferta da Filmin, com viagens mágicas como Mary e a Flor de Feiticeira, de Hiromasa Yonebayashi, qual piscadela de olho à temática Harry Potter; Mirai, de Mamoru Hosoda, à volta do nascimento de um bebé e dos sentimentos que provoca no irmão mais velho; e Ponyo à Beira Mar, a aventura aquática de Hayao Miyazaki que se encontra igualmente disponível na Netflix. Porém, as maiores raridades são do estúdio irlandês Cartoon Saloon, responsável por algumas das mais belas animações "artesanais" dos últimos anos. Falamos de Brendan e o Mundo Secreto de Kells e A Canção do Mar, ambos de Tomm Moore (de quem estreou há pouco tempo Wolfwalkers, na Apple TV+), narrativas que nascem do imaginário das lendas irlandesas, sendo A Canção do Mar o expoente máximo dessa abordagem mitológica ao evocar as Selkies (mulheres-focas) através da aventura de dois irmãos. Do mesmo estúdio e produzido por Angelina Jolie, A Ganha-Pão, de Nora Twomey, será um olhar mais maduro sobre a condição das mulheres no Afeganistão, protagonizado por uma menina que se faz passar por rapaz para conseguir comprar os bens essenciais para a casa, na sequência da captura do pai por talibãs..Faz agora um ano que a Netflix adquiriu 21 filmes do Studio Ghibli. Um golpe de mestre no que à cultura do cinema de animação diz respeito, ou não fosse esse estúdio, fundado por Hayao Miyazaki e Isao Takahata, a grande marca japonesa em competição direta com a qualidade Disney - de resto, continua a ser o único estúdio de língua não inglesa que alcançou o feito do Óscar, precisamente com um dos sucessos mundiais de Miyazaki, A Viagem de Chihiro..Assim, é importante lembrar que há todo um património à disposição dos mais novos (e não só) na plataforma Netflix, que é como quem diz, filmes que ajudam a crescer. De Miyazaki, para além dos referidos A Viagem de Chihiro e Ponyo à Beira Mar, encontram-se Nausicaä do Vale do Vento, O Castelo no Céu, A Princesa Mononoke, O Meu Vizinho Totoro, Porco Rosso, O Castelo Andante, Kiki - A Aprendiz de Feiticeira e, o mais "adulto", As Asas do Vento. Qualquer um destes títulos símbolo do calibre de imaginação, valores e consciência ecológica que é apanágio do seu realizador, um verdadeiro artesão do desenho animado, a par com Takahata, de quem se pode descobrir o comoventíssimo O Túmulo dos Pirilampos, sobre dois irmãos a tentar sobreviver no Japão durante a Segunda Guerra Mundial, mas também Pom Poko: A Grande Batalha dos Guaxinins, os suaves retratos familiares Memórias de Ontem e A Família Yamada, e a obra-prima de aguarela O Conto da Princesa Kaguya. Este foi o derradeiro filme de Takahata e é o exemplo mais perfeito da sua depuração visual e narrativa, aqui inspirada num dos textos fundadores da tradição literária japonesa sobre uma menina nascida de uma cana de bambu..Ainda da Ghibli, há coisas muito boas como O Sussurro do Coração, de Yoshifumi Kondo, um romance adolescente com uma protagonista que adora ler (já não existem personagens assim...); O Reino dos Gatos, de Hiroyuki Morita, sobre uma jovem involuntariamente comprometida com um gato príncipe, num universo mágico; A Colina das Papoilas, do filho de Miyazaki, Goro; O Mundo Secreto de Arriety e Memórias de Marnie, ambos de Hiromasa Yonebayashi, o realizador de Mary e a Flor de Feiticeira. Não sendo Ghibli, o recente anime Os Gatos também Choram, centrado numa jovem que se transforma em gato quando usa uma máscara misteriosa, é a prova de que o espírito criativo desse estúdio continua a influenciar as produções nipónicas..Como é evidente, o serviço de streaming Disney+ é, por excelência, o palco maior do cinema de animação, com os clássicos do estúdio do Rato Mickey à distância de um clique, tal como as produções Pixar. Para quem já viu o badalado Soul, talvez esteja na hora de rever outros momentos brilhantes do realizador Pete Docter, como Up - Altamente e Divertidamente, ou a amorosa viagem galáctica de Wall-E (com argumento original de Docter)..A HBO Portugal, por sua vez, entre as sagas Shrek, O Panda do Kung-Fu e Gru - O Maldisposto, tem um inédito nas nossas salas: O Livro da Vida, de Jorge R. Gutiérrez. Esta produção de Guillermo del Toro, que literalmente enche os olhos, foi muito referida pela crítica americana como sendo a inspiração para o oscarizado Coco, de Lee Unkrich e Adrian Molina. Isto porque a ação de ambos os filmes acontece no Dia dos Mortos, uma forte tradição mexicana que é retratada de forma mais emocional em Coco (é Disney, para todos os efeitos) e com uma boa dose de diversão em O Livro da Vida. A aventura de crescimento é garantida, assim como uma incrível paleta de cores.