Os Óscares europeus castigaram Polanski e Almodóvar
Os EFA, os European Film Awards, também conhecidos como os Óscares do cinema europeu, voltaram a casa, a Berlim, para uma cerimónia que dispensou o "glamour" de Hollywood e celebrou o espírito da Academia europeia, um cinema de autor com afinidade para o grande público. Uns EFA que quiseram seguir o óbvio e punir cineastas que têm uma obra. Cineastas a concurso com filmes na primeira pessoa, de Almodóvar a Bellochio.
A surpresa da noite surgiu através da derrota de Pedro Almodóvar na categoria de realização e melhor filme. O espanhol era o favorito com Dor e Glória mas o prémio foi para um ausente Yorgos Lanthimos, autor de A Favorita, produção inglesa que já tinha estado nas andanças da Academia americana. Os jurados da Academia europeia foram sensíveis ao estardalhaço estético de uma câmara que procura chocar num triângulo amoroso com a Rainha Ana, da Inglaterra no século XVIII. A Favorita, de forma monótona, vence ainda, imagine-se, o prémio de melhor comédia.
A noite não foi também simpática para o cinema português. Gabriel Abrantes, com Les Extraordinaires Mésaventures de La Jeune Fille de Pierre, produção francesa, e Leonor Teles, com Cães que Ladram aos Pássaros, encomenda da Câmara Municipal do Porto, saíram de mãos a abanar na competição das curtas-metragens. Apesar de grande impacto nos maiores festivais internacionais, o cinema português continua eternamente ausente dos EFA. A exceção nestes prémios foi Artur Pinheiro, diretor de arte de filmes como O Grande Circo Místico e As Mil e uma Noites, jurado para os prémios de excelência.
Do seu teatro em Madrid, via satélite, Antonio Banderas agradeceu o EFA de melhor ator, batendo o também favorito Pierfranco Favino, de O Traidor, de Marco Bellochio. "O Almodóvar foi um milagre na minha vida. Ele é um homem que eu amo, que admiro. E em Dor e Glória foi muito especial ser o seu alter-ego. Estou a ficar muito emocionado, estou muito agradecido, mas daqui a 40 minutos vou estar a representar neste palco, que loucura!", comentou a estrela espanhola com lágrimas nos olhos.
Nas atrizes, a vitória foi para Olivia Colman, em A Favorita, atriz britânica que já tinha vencido nos Óscares. Colman foi também uma das ausentes e enviou um vídeo do seu telemóvel com um discurso breve e seco.
A cerimónia juntou nomes como a cineasta Claire Denis, o cineasta David Yates, Wim Wenders, o ator Claes Bang, entre outros, numa cerimónia sem rasgos de humor mas com um ritmo bem conseguido. Juliette Binoche foi uma das homenageadas e uma das poucas francesas que conseguiu vir de Paris até à capital alemã, escapando ao estado de alvoroço provocado pelos protestos nas ruas da cidade. Ao DN contou que sentiu que este prémio foi com uma festinha no seu ombro: "dessa maneira, senti-me honrada... Ganhar este EFA não é pesado, antes pelo contrário...Devo esta honra aos meus anjos interiores, mas também aos meus demónios".. No seu tocante discurso sublinhou a importância das artes neste mundo: "vivemos uma grande crise no mundo e é por isso que agora a arte é mais importante do que nunca. Quero dar um recado a todos os atores: escolham bem os vossos filmes. É importante que o cinema possa fazer parte dessa mudança".
"Não estou nada excitado, este é apenas um prémio, mais um. Não é por este EFA que vou ficar melhor ou pior cineasta", revelou o veterano Werner Herzog ao DN enquanto chegava à gala de ontem. O cineasta alemão recebeu o EFA de carreira numa altura em que está cada vez mais experimental no seu cinema. O cineasta de Aguirre e Fritzcarraldo afirmou ainda não ser nada alérgico à difusão de cinema por "streaming": "antes pelo contrário: essa via veio criar ainda mais possibilidades ao cinema. Mas não dispenso ver cinema numa sala, sou um entusiasta". Na atribuição do EFA, a Academia preparou uma ária cantada por uma soprano com uma letra hilariante. E foi precisamente o Presidente da Academia de Cinema Europeia, Wim Wenders, a dar-lhe o prémio de carreira, lembrando que em estudante, quando tinha 23 anos, foi marcado por uma aula sua onde afirmou que o cinema era um caso de vida ou de morte. Aos 77 anos, Werner Herzog, residente em Los Angeles, continua a fazer cinema de vida ou de morte... "Continuo a ser um soldado de cinema", disse bem alto depois de ser ovacionado de pé.
Em 2020, os prémios já têm data e local: dia 12 de dezembro, em Reiquiavique, na Islândia. Espera-se que, ao contrário deste ano, os vencedores façam questão de estarem presentes....
Melhor Filme: A Favorita
Melhor Comédia:A Favorita
Melhor Realizador: Yorgos Lanthimos- A Favorita
Melhor Descoberta: Os Miseráveis, de Ladj Li
Melhor ator: Antonio Banderas- Dor e Glória
Melhor atriz: Olivia Colman- A Favorita
Prémio do Público: Cold War- Pawel Pawlikowski