Uma produtora que se tornou sinónimo de um certo tipo de entretenimento marcado pelo grau visionário de Steven Spielberg. Cada vez que um filme tinha no genérico a silhueta da bicicleta de Elliot e ET a voar em frente à lua já se criava uma expectativa, um capital de reconhecimento. Spielberg criou esta sua produtora como forma não de criar um império mas antes para marcar a paisagem de Hollywood com uma ideia de ambiente próprio na qual se reforçavam temáticas ligadas ao fantástico, à aventura e ao sobrenatural, em especial com conivência com valores patrimoniais de um certo cinema de conceito familiar, mesmo quando se reconvertiam códigos da série B ou de uma ilustração muito concreta do subúrbio americano. Tudo isto à luz da estética dos "eighties", a década em que os estúdios de Hollywood perceberam que colocar no cartaz "Steven Spielberg apresenta" era uma galinha de ovos de ouro....Um típico filme da Amblin, realizado ou não por Spielberg, tinha as bases fundadoras do seu cinema: estrutura narrativa fluida e, geralmente, grupos de amigos e a sua relação com os processos de crescimento na adolescência ou na infância. Mais recentemente, o modelo Amblin serviu de inspiração para J. J. Abrams criar Super 8, obviamente com o próprio aval de Spielberg e da Amblin, já para não mencionar a premissa de Stranger Things, o fenómeno da Netflix, e Caça-Fantasmas: O Legado, de Jason Reitman. São homenagens a um espírito e a uma cristalização que mudou o cinema americano..Uma escola que terá tido o apogeu em filmes como Os Goonies (1985), de Richard Donner, Regresso ao Futuro (1985), de Robert Zemeckis, e Gremlins - O Pequeno Monstro (1984), de Joe Dante, e sob a qual se pintava uma certa erupção de uma juventude americana em plena euforia de um estilo de vida consumista em contraplacagem com uma jovial ameaça do mal, nunca muito assustador ou trágico. Celebra-se, isso sim, uma energia de juventude pura e norte-americana até ao tutano, tendo sido através deste logo que nomes como os realizadores acima referidos, espécie de protegidos de Spielberg, ganharam um lugar na indústria. Trava-se de um sistema de linha de produção que era rentável e estava estabelecido como fábrica de sonhos..A Amblin marcou um tempo e era uma forma do génio profícuo de Spielberg não estar parado, funcionando como curadoria. Com a aliança com os produtores Frank Marshall e Kathleen Kennedy conseguia-se uma liberdade e um aperfeiçoamento de estilo, algo que a Disney na altura tinha perdido. Mas foram os estúdios Walt Disney a permitir que Spielberg produzisse para Zemeckis Quem Tramou Roger Rabitt, um dos filmes mais ambiciosos da Amblin. Aliás, a Amblin ganhava também estatuto de estúdio e um dos apetites de Spielberg eram as animações..Do património da animação nada verdadeiramente memorável não obstante a qualidade de Fievel - Um Conto Americano e Em Busca do Vale Encantado, ambos de Don Bluth, homem da animação que depois saiu e deixou Spielberg criar a Amblination, já sem o efeito desejado: Balto e o segundo Fievel não foram propriamente blockbusters....Nos anos 90, Spielberg, impulsionado por David Geffen e Jeffrey Katzenberg, cria um estúdio de animação a sério, a DreamWorks, mas isso é outra história....dnot@dn.pt