O Túmulo Han de Mawangdui: uma lenda imortal

O Túmulo Han de Mawangdui: uma lenda imortal

Situado na província de Hunan, na China, este sítio arqueológico permite-nos conhecer a história, a cultura e a vida social da China durante a Dinastia Han Ocidental, há mais de 2000 anos.
Publicado a
Atualizado a

Nos arredores orientais da cidade de Changsha, na província de Hunan, erguem-se duas colinas em forma de sela de cavalo, conhecidas localmente como “Ma’andui”, nome que, com o tempo, foi corrompido para “Mawangdui”. No verão de 1971, durante a escavação de um abrigo antiaéreo, alguns operários descobriram acidentalmente um palácio subterrâneo intocado durante 2000 anos - o Túmulo Han de Mawangdui. A escavação deste complexo funerário nobre da Dinastia Han Ocidental (202 a.C. - 8 d.C.) não só fez ressurgir do esquecimento uma senhora nobre chamada Xin Zhui, como também descortinou os mistérios da Civilização Han.

As investigações arqueológicas evidenciam que os túmulos de Mawangdui pertenciam a Li Cang - chanceler do reino de Changsha no início da Dinastia Han Ocidental (século II a.C.) -, à sua esposa Xin Zhui e ao seu filho Li Xi. Entre os três, o túmulo de Xin Zhui é o mais bem preservado e também o mais grandioso. A câmara funerária tem 20 metros de profundidade e o piso superior estava selado com uma espessa camada de argila branca e carvão vegetal preto, formando uma barreira hermética. No piso inferior, encontrava-se um conjunto de quatro caixões encaixados uns dentro dos outros. Quando os arqueólogos abriram o caixão interior, o mundo ficou estupefacto: a pele da Senhora Xin Zhui estava húmida e macia, algumas articulações ainda eram móveis e havia vestígios de sangue nos vasos sanguíneos. Esta dama nobre da Dinastia Han Ocidental, falecida no século II a.C., parecia ter escapado aos efeitos do tempo por dois milénios.

Ao contrário das múmias egípcias, a preservação do seu corpo não resultou de um processo intencional. O seu cadáver estava imerso em 80 litros de uma combinação de água subterrânea infiltrada e substâncias orgânicas em decomposição, que criaram um ambiente de temperatura e humidade constantes. Este milagre de conservação chocou a comunidade médica moderna.

Enquanto os túmulos de Li Cang e Li Xi se encontravam num estado bastante degradado, tendo sido recuperados poucos artefactos desses dois sepulcros, do túmulo de Xin Zhui foram desenterrados mais de 3000 objetos funerários, de entre os quais se des- tacam mais de 500 peças de seda e vestuário, incluindo túnicas, sapatos, meias e luvas de vários estilos - um autêntico desfile de moda da Antiguidade.

Uma das peças mais notáveis é uma veste de seda translúcida não-tingida com apenas 48 gramas que, mesmo dobrada dez vezes, permite ver claramente as linhas da palma da mão. Artesãos contemporâneos demoraram décadas a conseguir reproduzi-la com fidelidade. Foram também descobertas mais de 700 peças de laca requintada, decoradas com motivos de nuvens tão finos como fios de cabelo, que ainda hoje conservam o seu brilho após dois milénios. Mas o achado mais impressionante é uma pintura em seda com dois metros de comprimento e perfeitamente intacta em forma de “T”, encontrada sobre o caixão interior, a primeira descoberta do género na história da arqueologia chinesa. Pintada com pigmentos minerais, como cinábrio e azurite, a seda representa os três mundos - inferno, terra e céu - com imagens fantásticas de serpentes e dragões que sustentam a terra, e andorinhas voando em torno do sol e da lua, revelando a visão cósmica dos antigos Han.

No Túmulo Han de Mawangdui foram também descobertos 28 tipos de manuscritos em seda. Entre eles, a Wuxingzhan (A Divinação dos Cinco Planetas) descreve, em oito mil caracteres, as leis do movimento planetário com uma precisão de dados que pouco difere dos cálculos da era moderna. O Daoyin Tu (Mapa dos Exercícios de Respiração e Alongamento) apresenta 44 exercícios com fins terapêuticos, sendo o mais antigo manual ilustrado de exercício físico de que há conhecimento. Já as Tianwen Qixiang Zazhan (Divinações Diversas sobre Astronomia e Meteorologia) contêm representações de cometas que antecedem em mil anos os registos europeus. Estes achados provam que na Dinastia Han Ocidental germinavam já sementes de ciência. Até mesmo os 138 caroços de melão encontrados no estômago de Xin Zhui constituem amostras raríssimas para o estudo genético de plantas antigas.

O Túmulo Han de Mawangdui é património civilizacional de interesse mundial. Em 2024, por ocasião do 50.º aniversário da descoberta do túmulo, o Museu de Hunan, em colaboração com a Biblioteca Digital da China e o Laboratório de Arte Chinesa da Universidade de Harvard, lançou uma exposição digital que integra recursos académicos de ponta a nível global e apresenta uma nova interpretação dos túmulos de Mawangdui através de um espetáculo multimédia, que nos permite observar os objetos dali desenterrados, apreciar os detalhes do saber-fazer dos artesãos da Dinastia Han e reconhecer marcas autênticas da prosperidade cultural de há 2000 anos.

Para descobrir mais conteúdos fascinantes sobre a História e a cultura chinesas, siga a nossa página no Instagram e no Facebook em “Vislumbres da China”.

Iniciativa do Macao Daily News

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt