Agora que acabou a terceira temporada de The White Lotus (Max) e ficámos a saber quem afinal morre, é tempo de recobrar o espírito com outro tipo de thrillers televisivos, longe da sátira social, mais afirmativos do drama humano e do próprio labor da investigação. Aproveitando a novidade que chega hoje ao catálogo do Disney+, propõe-se aqui uma mão-cheia de séries, disponíveis no streaming, para quem aprecia o viciante movimento da dúvida e a busca afincada da verdade. A RAPARIGA ROUBADA (Disney+) Do Reino Unido surge esta adaptação de um romance de estilo “noir nórdico”. Partindo do livro Playdate, da autora meio americana, meio norueguesa Alex Dahl, A Rapariga Roubada mexe com um medo profundo de todos pais: o desaparecimento de uma criança. Tudo acontece na sequência de um atraso de Elisa (Denise Gough), que chega à escola da filha, Lucia, para a ir buscar, quando esta já se encontra no exterior a brincar com uma nova colega. A mãe dessa menina, uma ilustre desconhecida chamada Rebecca (Holliday Grainger), oferece-se prontamente para acolher em sua casa uma festa do pijama só com as duas crianças, e Elisa, depois de muita hesitação, acaba por consentir, sem imaginar a remota possibilidade de, no dia seguinte, Lucia já não estar no local onde fora deixada... De olhos postos no drama dos pais, na reviravolta doméstica, no trabalho da polícia e numa jovem jornalista obstinada – peça essencial deste xadrez humano, que usa da competência e do instinto para ir ao encontro de respostas difíceis –, em apenas cinco episódios, The Stolen Girl (título original) combina a febre do mistério com uma narrativa bem articulada, onde cabem zonas cinzentas e traumas reprimidos. . DARKNESS – AQUELES QUE MATAM (Filmin) Por falar em traumas, os dinamarqueses são dos melhores a analisar a psique por trás das ações. Será essa, aliás, a função da protagonista de Darkness – Aqueles que Matam, Louise Bergstein (Natalie Madueño), uma psicóloga que trabalha como assessora da polícia de investigação, estudando cenas de crime para chegar aos processos da mente, e assim fazer o perfil do assassino. Neste caso, há um duplo homicídio que conduz as atenções para um jovem pouco condizente com os padrões do crime calculado... Na Filmin ainda só está disponível uma temporada de oito episódios, mas vale a pena entrar neste universo de solidão, olhares sóbrios, sensibilidade feminina e diferentes camadas de violência. . MANHUNT (Filmin) Com uma lista notável de séries de crime, é também na Filmin que se encontram as duas temporadas deste brilhante thriller britânico, um dos mais vistos no Reino Unido, encabeçado pelo ator Martin Clunes. Cada temporada – com três e quatro episódios, respetivamente – segue uma história verídica e o modo como um certo detetive-chefe, Colin Sutton (Clunes), lidou com os casos em mãos: a primeira centra-se no homicídio de uma jovem estrangeira em 2004, e a segunda acompanha a caça ao ladrão e agressor sexual que, entre 1992 e 2009, assombrou a zona sudeste de Londres. Sem um pingo de sensacionalismo e com um impecável procedimento old school, Manhunt é o tipo de série que fascina pela lógica pura do trabalho de investigação, com todas as nuances da dúvida e do método, e um detetive lhano e honroso. . THE BUREAU (SkyShowtime) No início do ano chegou à SkyShowtime uma versão americana deste sucesso francês intitulado Le Bureau des Légendes (2015-2020). Essa versão recente, The Agency, com Michael Fassbender e Jeffrey Wright à frente de um elenco recheado, foi uma boa porta de entrada para os espectadores que queriam navegar os bastidores da espionagem à Le Carré... Isto antes de conhecer o original que a inspirou. No catálogo da mesma plataforma, com o título The Bureau, a série criada por Eric Rochant é uma verdadeira masterclass de conceito e artesanato thrillesco: no coração dos serviços secretos franceses, seguimos o recrutamento e as missões de longa duração de um grupo de agentes que se debate com as próprias vulnerabilidades da profissão, entre a identidade lesada e a intimidade perdida. Para quem entrar na viagem, estão disponíveis as cinco temporadas. . C.B. STRIKE (Max) Pouco se tem falado desta que é uma das melhores séries de detetives dos últimos anos. E a que se deve tal omissão? Muito provavelmente, às polémicas culturais com J.K. Rowling, a autora que assina, sob o pseudónimo Robert Galbraith, a série de livros homónima. Por sinal, uma vertente bastante curiosa e adulta da escritora da saga Harry Potter. Protagonizada por Holliday Grainger (também n’A Rapariga Roubada) e Tom Burke, dupla que forjou uma química irresistível enquanto “par de detetives apaixonados que não o admitem”, Cormoran Strike e Robin Ellacott, aqui está uma série na grande tradição humana do policial, que dispensa os maneirismos do género: ele é um veterano da guerra do Afeganistão, com uma perna amputada e o olhar triste; ela uma alma expedita que ajuda a resolver casos com um talento impressionante. A quarta temporada de C.B. Strike estreou em janeiro na Max, e aguarda-se a quinta, referente ao romance A Sepultura de Água.