O ritual de purificação dos Arcade Fire é uma festa. E das rijas!
E pouco menos de um ano depois de terem tocado em Lisboa, no festival Kalorama, os Arcade Fire regressaram a Portugal. Desta vez o "ritual" da banda canadiana aconteceu no Passeio Marítimo de Algés como cabeças de cartaz do primeiro dia do NOS Alive - que decorre até sábado, 13 de julho.
A banda de Montreal, formada no final dos anos 1990 por Regine Chassane e o norte-americano Win Butler, começou o concerto de Lisboa com Sound and Vision (versão de 2013) de David Bowie como música de fundo. Em jeito de embalo para o que se iria seguir.
O início do ritual, sim, com coroas de rosas brancas espalhadas pelo palco, a imagem nos ecrã de uma floresta a arder, e a chegada ao palco de uma urna a queimar incenso, carregada por Regine, colocada na extremidade do palco junto ao público ao final do concerto.
Uma espécie de “purificação” para a festa que ali começava. O ambiente soturno e quase cerimonial foi logo substituído com a primeira música, Neighborhood#1(Tunnels), do álbum Funeral, lançado há 20 anos.
Álvaro Isidoro / Global Imagens
E sem descanso e de guitarra em punho, Win Butler e o resto da banda, onde agora não está o seu irmão Wil Butler, que apostou numa carreira a solo (atua no dia 18 de julho no Super Bock, Super Rock, no Meco), tocaram mais um tema de Funeral, Neighborhood#2 (Laika). E depois do primeiro “Olá Lisboa”, pelo vocalista Win, a cerimónia “fúnebre” continuou com mais Neighborhood, deste vez Power Out.
E como as boas músicas nunca envelhecem, Funeral, o álbum de estreia dos Arcade Fire, continua atual – quer na sonoriedade quer na mensagem – a cimentar, vinte anos depois a banda com uma das mais inovadoras de sempre do indie rock.
Ainda a celebrar Funeral, Win Butler desceu do palco e veio cumprimentar o público, como tantas vezes faz nos seus concertos, e seguiu-se Rebellion (Lies) com o coro do público.
Depois da cerimónia "fúnebre", os Arcade Fire convidaram o público a entrar no álbum mais recente , We (2022), com Age of Anxiety II (Rabbit Hole). O novo trabalho tem sido aclamado pela crítica internacional com um quase regresso às origens de Funeral. Caso para celebrar? Na dúvida, os Arcade Fire lançaram os os primeiros confettis de festa para cima do público.
Win agradeceu em português no final da música e samplou os agradecimentos na sua caixa de mistura para a introdução de Reflektor, música do álbum homónino de 2013 – a tal música que teve a participação de David Bowie. Sem parar, mais uma música do mesmo álbum, Afterlife, e mais uma ronda de Win junto do público, onde distribuiu algumas das flores brancas da coroas fúnebres que decoravam o chão do palco.
Álvaro Isidoro / Global Imagens
Win aproveitou para agradecer ao público e disse estar muito satisfeito por estar no mesmo palco onde minutos antes estiveram os Smashing Pumpkins, a banda preferida do seu amigo Josh Deu – um dos fundadores dos Arcade Fire que saiu da banda no final de 2003.
Seguiu-se mais um "clássico", entre tantos, No Cars Go, do álbum Neon Bible, de 2007. Esta é uma das músicas da banda que parece ter sido propositamente composta para ser tocada ao vivo acompanhada pelo coro da multidão. Funciona sempre. E no Passeio Marítimo de Algés não foi excepção. Depois Win falou sobre regressar a Lisboa, que para ele, segundo disse, é “como chegar a casa”. E mais uma vez agradeceu e novamente em português.
Seguiu-se Keep The Car Running e Ready to Start, ambas do álbum The Suburbs (2010), que o público mostrou saber (quase) de cor. No final, comunicativo e a divertir-se, Win perguntou se é seguro mergulhar nas águas do Tejo, ali mesmo ao lado do palco. Não convencido com a reação do público, sentou-se ao piano para tocar e cantar The Suburbs – nesta altura a sua companheira (de vida e de palco) Regine Chassane estava sentada a tomar as rédeas de uma das baterias em palco.
Mas por pouco tempo. Seguiu-se Sprawl II, canção cantada na íntegra por Regine e que a leva a "tomar" conta da cerimónia com as suas danças a fazer lembrar os gestos das cheerleaders norte-ameriacanas, mas sempre com um toque indie.
Seguiu-se o single mais pop de sempre dos alternativos Arcade Fire: Everything Now, do álbum do mesmo nome, de 2017, o trabalho "mal amado" pelo fãs mais devotados à criatividade alternativa da banda, que entretanto já fizeram as pazes com Win e companhia desde o lançamento de We.
Para o final da cerimónia ou festa ou concerto, o leitor que escolha, o regresso ao início e ao álbum Funeral com o hino Wake Up. A confirmar que há poucas bandas de rock alternativo como os Arcade Fire a dar tanta alegria, festa e agitação ao vivo – e já lá vão mais de 20 anos.
No final do concerto e depois de terem “nevado” confettis sobre o público, mal a música terminou, Win e Regine distribuíram junto do público as flores brancas que antes decoravam o palco, num gesto de despedida. Só que o público não queria o adeus ao fim de hora e meia de concerto, e continuou a entoar os coros de Wake Up por vários minutos. De tal forma que os quatro elementos da banda que ficaram em palco (Win, Regine, o animado percussionista Paul Beauburn e Richard Reed Parry) começaram a tocar dois instrumentos de percussão para acompanhar o coro do público do Alive. Um dos momentos altos da edição deste ano do NOS Alive, e ainda só decorreu o primeiro dia.
No final, o vocalista, suado, sorridente, e visivelmente feliz pelo ritual que conduziu, despediu-se com um “Até breve”. Assim seja!
O NOS Alive continua esta sexta-feira, 12 de julho, com Dua Lipa como cabeça de cartaz, e no sábado com os Pearl Jam.