"O luxo d'A Casa de Papel é dar-te mais janelas de oportunidade para trabalhar"
Como têm sido estes dias em Portugal?
Esther Acebo (EA): Estamos maravilhadas como as pessoas e como nos conhecem. Sim, estamos no nosso país vizinho, mas é incrível como nos felicitam e desejam sorte. Está a ser uma experiência muito boa. E foram apenas dois dias...eu quero ficar uma semana!
Itziar Ituño (II): Recordo-me de uns quantos abraços que recebi e fiquei com pele de galinha. Quando as pessoas felicitam-te com todo o amor do seu coração é uma coisa incrível. Por isso gosto de as olhar nos olhos quando lhes dou autógrafos, serve para agradecer terem vindo conhecer-nos. Tem sido muito, muito bonito.
Na primeira temporada de A Casa de Papel temos um fado a abrir o quinto episódio, no início da terceira temporada o grupo está em Portugal e a bandeira portuguesa aparece...há muitas referências a Portugal, é de propósito?
II: Para além de me chamar Lisboa quando me juntei ao grupo na terceira temporada! Não sei porque decidiram essa ligação, penso que é um piscar de olhos aos portugueses. Há muitos seguidores em Portugal. E porque não agradecer às pessoas que nos seguem dessa forma?
EA: Sim é uma forma de agradecimento, mas também sei que um dos guionistas está apaixonado por uma zona de Portugal, Vila Nova de Milfontes. Sei porque eu também estou e falamos disso. E adoramos os fãs portugueses. É muito bonito tudo o que estão a fazer. A eleição da música na série é feita por um motivo emocional e o fado tem algo...eu não sei falar português mas quando oiço o fado mexe comigo. No episódio em que o fado aparece estou a despertar de um estado inconsciente, e quando comecei a ouvir o fado desatei a chorar. Foi muito bonito que o tenham escolhido.
II: Foi o diretor desse episódio que o escolheu. No início acharam estranha a escolha, mas depois de terem visto a montagem e como ficou, o fado entra por nós adentro.
O que mudou nas vossas carreiras depois do boom de A Casa de Papel?
EA: Quase todos os atores vinham de trabalhar em projetos mais pequenos e agora, de repente, o nosso trabalho pode ser visto em tudo o mundo. É uma janela aberta. E bom sabermos que agora podem chegar-nos guiões de todo o lado do mundo, não só de Espanha mas da América Latina, dos Estados Unidos e de diferentes partes da Europa. Espero que cheguem opções e que nos abram portas para trabalhar pelo mundo.
II: O luxo que te dá a exposição internacional de A Casa de Papel, e que já não é apenas uma série mas um fenómeno social, é termos mais janelas de oportunidade para trabalhar. E o grande luxo de, como atrizes e atores, poder escolher o trabalho em queremos participar. E isso nem todos os atores o podem fazer. Passei anos a dizer que sim a tudo o que chegava, porque precisava de trabalhar e de pagar as contas no final do mês, agora posso escolher e dizer que não a umas coisas e sim a outras. É um luxo.
A série mudou a vossa relação com o dinheiro?
EA: Não. Realmente o que tenho em comum com a minha personagem na série é que o dinheiro está presente mas não é o motivo principal das nossas vidas. Na série há um motivo emocional muito importante, o dinheiro é um mero condutor da história. Não há nada mais pobre do que quem só tem dinheiro.
II: Na realidade o dinheiro é apenas papel. É um acordo social que decide que este ou aquele papelinho tem um determinado valor. Numa das cenas na qual a personagem do Professor rasga uma nota diz isso mesmo.
Agora mesmo na Europa os bancos estão a produz dinheiro sem parar porque estamos num momento em que a crise pode regressar e o dinheiro não é mais que papel. Se todos decidíssemos que aquele papel não vale tanto e que, por exemplo, o tempo é muito mais valioso mudava um pouco o paradigma das coisas. A série segue um pouco por aí, faz uma certa critica para pensarmos porque razão temos de aceitar esse padrão que nos impuseram, e que é bastante injusto na maioria do mundo. E eu estou com eles. Somos a resistência (risos).