Daisy Edgar-Jones e Glen Powell: caçadores de tempestades.
Daisy Edgar-Jones e Glen Powell: caçadores de tempestades.

O efeito-tornado Glen Powell

Não traz nada de novo, mas é um digno entretenimento na senda de Spielberg. Quase 30 anos depois de 'Twister', o original, 'Tornados' vem reforçar o carisma de uma estrela recém-descoberta: Glen Powell.
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É verdade que a protagonista de Tornados começa por ser Daisy Edgar-Jones (a atriz de Normal People), na pele de uma jovem cientista, Kate, que tem um plano para “domar” a fúria do fenómeno natural do título. Mas não passa muito tempo até que a personagem de um YouTuber exibicionista, que aqui prefere “cavalgar” os tornados, atraia a nossa atenção para lá da sua postura de espalha-brasas: esse indivíduo, Tyler, irresistivelmente interpretado por Glen Powell - a estrela que se revelou em Assassino Profissional, de Richard Linklater -, é o genuíno motivo para se entrar nesta aventura apenas eficaz no propósito... Isso e a reação química entre ele e a esquiva Kate.

Estamos perante uma sequela independente do Twister de 1996, com Helen Hunt e Bill Paxton, e não será um pormenor sem importância que ambos tenham Steven Spielberg  como produtor executivo.

Na comparação com o filme original, há uma fraqueza em Tornados que dificilmente se conseguiria contornar: num tempo de muitas tempestades e episódios climáticos extremos, já pouco resta de surpresa ou arrepio diante das imagens de um tornado. Já não é, em linguagem comercial, a garantia de uma “experiência única”.

E se reconhecemos que os efeitos especiais permitem agora uma reprodução acurada do que significa estar no centro desse espetáculo impetuoso do vento, é de louvar que o realizador Lee Isaac Chung não se tenha deixado deslumbrar demasiado pelos poderes do digital. Quer dizer, o foco da ação está, em primeiro lugar, nos laços que unem as personagens - numa sequência inicial, é a tragédia de um tornado que define o low-profile  de Kate daí para a frente, da mesma maneira que outro tornado funciona como símbolo de um romance em formação ciclónica.

De resto, convenhamos que o próprio Lee Isaac Chung não seria a aposta mais óbvia para realizar um blockbuster de verão. Depois do intimíssimo Minari, como assimilar um modelo de produção tão diferente?  Talvez se possa resolver a estranheza com um facto: tanto as memórias de infância de Minari  como os eventos de Tornados se inscrevem na paisagem do Oklahoma, e Chung sabe como tocar na identidade rural americana de forma a não cair na abstração. 

É essa identidade, claramente assumida com doses astronómicas de charme pelo cowboy  de Glen Powell, que aguenta o filme numa nota segura, ainda que sempre à beira do drama genérico, com objetivos claros de entretenimento e, também por isso, pouca ganga sentimental.

Entenda-se: Tornados não inova, nem acrescenta coisa alguma ao que quer que seja, mas na sua simples vibração old school, num certo desejo de explorar a energia prática do ecrã, consegue justificar o logótipo da Amblin (produtora de Spielberg).

Aliás, não é por acaso que se escolhe um cinema como abrigo perto do final. Dentro dessa estrutura frágil - não-concebida para resistir a tornados, como alguém observa - reúne-se um grupo de pessoas a experienciar o medo numa condição coletiva. Eis o ponto. 

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