Fachada da Albuquerque Foundation.
Fachada da Albuquerque Foundation.Paulo Spranger

Nova casa da cerâmica em Portugal, Albuquerque Foundation abre as portas em Sintra neste sábado

De acordo com a curadora da exposição permanente Becky Mcguire, a fundação tem a coleção mais importante de arte de exportação asiática e de cerâmica chinesa no mundo.
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É já neste sábado (22) que a Albuquerque Foundation, situada no Linhó, em Sintra, abre oficialmente as portas ao público. O espaço, que abriga a maior coleção privada de porcelana chinesa exportada do mundo, promete colocar a região no centro da arte e da história da cerâmica, através de exposições da coleção, exibições de convidados e residências artísticas para especialistas do meio. 

“A fundação nasce para mostrar, cuidar e preservar a coleção Albuquerque, mas não só: ela nasce como uma homenagem à cerâmica”, começa por dizer a brasileira Mariana Teixeira de Carvalho, presidente do Conselho de Administração da fundação e neta do Renato Albuquerque, empresário do ramo da construção que, ao longo de quase sete décadas, reuniu cerca de 2600 peças de porcelana de exportação dos séculos XVI a XVIII, época das dinastias imperiais Ming e Qing na China.

Mariana Teixeira de Carvalho, presidente do Conselho de Administração da Albuquerque Foundation.
Mariana Teixeira de Carvalho, presidente do Conselho de Administração da Albuquerque Foundation.PAULO SPRANGER

O local do ambicioso projeto, que teve as obras iniciadas em 2020, não foi escolhido à toa: a quinta localizada na Rua António dos Reis era nada mais, nada menos que a casa de férias da família Albuquerque. Responsável pela pela idealização do bairro Alphaville, em São Paulo, Renato Albuquerque desde cedo teve relação com Portugal, onde idealizou os bairros da Quinta da Beloura, em Sintra, e da Quinta Patino, em Cascais. Foi entre as idas e vindas no país que adquiriu o terreno em Linhó e, por cá, deu continuidade à sua coleção que havia iniciado no Brasil.

“Tentamos deixar a casa o mais próximo do original”, conta Mariana ao falar com a imprensa no antigo escritório do avô, que agora é a biblioteca da fundação. “Os livros são da coleção dele, de literatura de porcelana e cerâmica chinesa e serão usados como fonte de pesquisa para quem quiser se aprofundar no tema ou para historiadores, estudantes ou plantados políticos”, prossegue. 

Projeto que mescla o antigo e o contemporâneo e o encontro entre o Ocidente e o Oriente, a Albuquerque Foundation será um dos novos principais pólos culturais de Sintra e chamar a atenção dos amantes de cerâmica que estiverem em Portugal. De acordo com a  curadora da exposição permanente, a acadêmica Becky Macguire, trata-se da “coleção mais importante de arte de exportação asiática e de cerâmica chinesa no mundo”. 

Algumas das peças da coleção.
Algumas das peças da coleção.PAULO SPRANGER

“O mais emocionante para mim é que essa coleção conta uma série de histórias incríveis sobre os intercâmbios culturais entre o Oriente e Ocidente e, não só: são peças que tem influência do sul asiático, das arábias, misturas do mundo islâmico, do mundo cristão, mundo chinês, japonês, indiana, tudo entra nisso”, começa por dizer Macguire, responsável por escolher as primeiras peças que ficarão expostas por, segundo Mariana Carvalho, pelo menos, 18 meses. “O que tentamos fazer nesta exibição inaugurada, mostrando menos de um décimo da coleção completa, é apresentar a diversidade que ela tem, a riqueza, a sua profundidade, e o tanto de tesouros presentes de tantas diferentes épocas e séculos”, explica Maguire.

Já as exposições contemporâneas da fundação, construída em novo prédio da quinta - assim como o da exposição permanente - tem a curadoria do italiano Jacopo Crivelli Visconti. Para a primeira exposição da Albuquerque Foundation, o curador foi responsável pela escolha do artista multidisciplinar americano Theaster Gates, que na manhã deste sábado participa da inauguração da fundação com uma performance musical que traz uma mistura entre do soul e o gospel com suas influências da música japonesa, chinesa e indiana.

Jacopo Crivelli Visconti é o diretor da fundação e curador das exposições contemporâneas.
Jacopo Crivelli Visconti é o diretor da fundação e curador das exposições contemporâneas.PAULO SPRANGER

“É uma performance realmente fascinante e muito pertinente ao ver a exposição. Para mim, o Theaster Gates é o artista ideal para começar essa programação. É um artista negro, norte-americano, que ao longo de sua carreira, sempre fez questão de abordar de forma crítica questões econômicas, sociais, políticas, raciais e, além de ser um ceramista desde o início de seu trabalho, está na alma dele. Outro ponto que dialoga com o projeto é que ele ele aprendeu a fazer cerâmica no Japão, com mestres japoneses e foi a partir desse interesse pela cerâmica que ele começou a ter um interesse mais amplo pelas culturas orientais em geral”, conta o italiano ao apresentar a primeira exposição contemporânea da história da fundação, A mão sempre presente, aos jornalistas.

“O Theaser é um profundo conhecedor da história da cerâmica japonesa, chinesa, coreana, e também da cultura e das práticas de outros lugares da Ásia. Então, a relação entre culturas diferentes, e especificamente a relação entre uma cultura ocidental e oriental, estão no cerne do trabalho dele, muitas vezes a partir da própria cerâmica. São questões que fizeram com que ele fosse, para mim, um artista essencial para começar essa programação”, complementa.

Theaster Gates posa para foto com Mariana Carvalho.
Theaster Gates posa para foto com Mariana Carvalho.PAULO SPRANGER

Ambas áreas da exposição, tanto da permanente, quanto as temporárias, são exibidas em prédios construídos do zero na quinta e também trazem o encontro com o contemporâneo pretendido pelos responsáveis da fundação. Já a casa original abrange a área do restaurante, da biblioteca e, os antigos quartos da família, serão em breve espaço para residências artísticas. 

“O programa de residência artística e de pesquisa não é destinado apenas para artistas, mas também curadores, escritores, pesquisadores e acadêmicos que queiram se aprofundar nos temas da coleção de cerâmica geral ou cerâmica contemporânea”, conta a presidente do Conselho de Administração da fundação, prevendo que os processos de candidatura sejam iniciados para o segundo semestre. 

Uma das obras de Theaser Gates.
Uma das obras de Theaser Gates. PAULO SPRANGER

Aberta ao público de terça-feira a domingo, entre as 10:00 e as 18:00, a Albuquerque Foundation terá acesso gratuito, uma vez por semana, para estudantes do município de Sintra e visitas de escolas públicas com a presença de monitores durante todo o ano. Além do foco para os jovens, haverá espaços para iniciativas para o público da terceira idade, também com visitas guiadas. 

O projeto arquitetónico da fundação teve a assinatura da empresa de urbanismo brasileira Bernardes Arquitetura. Responsável pela rara coleção, Renato Albuquerque, aos 97 anos, está em Portugal para a inauguração do espaço e, na tarde desta sexta-feira, foi condecorado pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, em cerimónia no Palácio de Belém, em Lisboa. 

Área da exposição permanente da fundação.
Área da exposição permanente da fundação.PAULO SPRANGER

nuno.tibirica@dn.pt

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