Nikola Tesla, o inventor maldito 

Um filme sobre o inventor cujas experiências contribuíram para o mundo tecnológico de hoje. <em>Tesla</em>, de Michael Almereyda, não tem pretensões de desvendar mistério algum.
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Ethan Hawke a cantar em karaoke Everybody Wants to Rule the World, dos Tears For Fears, uma narradora, figura de época, que faz pesquisas no Google, e uma luta com gelados de cone entre Nikola Tesla (Hawke) e Thomas Edison (Kyle MacLachlan). Estes anacronismos e delírios num biopic assinado por Michael Almereyda não são de estranhar. O realizador que no início do milénio nos deu uma versão contemporânea de Hamlet (também protagonizado por Hawke), e mais recentemente um retrato do psicólogo social Stanley Milgram, gosta de trocar as voltas às convenções e arriscar um jogo com o espectador. Saiu-se bastante bem nesse filme anterior, Experimenter, mas Tesla, sobre o inventor austro-húngaro que em terras americanas foi um dos grandes pioneiros no uso de corrente elétrica alternada, parece, em certa medida, um filme inacabado, um esboço biográfico e teórico que se tenta fixar na melancolia de Hawke, com uns floreados brechtianos e alguns "e se?".

A narradora desta história "verídica" é Anne Morgan (Eve Hewson), a filha do financeiro J. Pierpont Morgan, que na sua relação com Tesla vai fazendo apartes de guia turística em frente a um Mac, informando sobre os resultados fornecidos pelo Google. Apenas um dos exemplos da licença artística de Almereyda, que capta a visão futurista do homem solitário, os seus contributos para o desenvolvimento das tecnologias revolucionárias do último século, e como acabou por ficar na história da Ciência em jeito de nota de rodapé, ou um enigma à sombra de Edison, para quem trabalhou. O desentendimento científico entre os dois daria azo às suas experiências individuais, e em termos financeiros ficou provado que a inteligência de Tesla, mais do que um dom, foi a sua maldição...

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Porém, este não é o filme para se ficar a saber quem foi realmente Nikola Tesla (1856-1943), antes um exercício que se agarra a uma originalidade morna, sem impacto de maior no espectador. O segredo que, apesar de tudo, nos mantém presos até ao fim pode estar nos olhos tristes de Ethan Hawke. Mas mesmo esses não devolvem o choque elétrico que o "anti-biopic" promete.

dnot@dn.pt

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