"Na geração de escritores anterior à minha ainda se olha para as redes sociais com desdém"
Inês Pedrosa

"Na geração de escritores anterior à minha ainda se olha para as redes sociais com desdém"

Pedro Freitas, de 26 anos, é mais conhecido como Poeta da Cidade e acaba de lançar o seu segundo livro de poemas: 'Vim Sem Tempo'. Ao DN falou sobre a importância das redes sociais no seu percurso e como olha para a poesia feita em Portugal.
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O primeiro livro, lançado em 2022, foi inspirado numa relação que teve. Este segundo livro é uma homenagem à sua avó. Isto quer dizer que escreve para as mulheres da sua vida? 
Pode, e até certo ponto é verdade. Comecei a escrever muito novo, com cerca de sete ou oito anos, poesia em específico, e de facto já esses primeiros poemas eram endereçados à minha avó, à minha mãe, ou a namoradas que eu tinha na altura, nos primeiros anos de escola. É engraçado olhar para trás e  sentir que isso manteve-se. Não sei até que ponto é que é consciente, ou que é algo que faço deliberado, mas de facto até agora deu-se assim.

Ainda se recorda do primeiro poema que escreveu? 
Recordo-me, porque foi à minha mãe, e ela emoldurou-o e ainda lá está na parede do meu quarto. Foi na altura em que descobri o hip-hop e o rap, e não sabia se queria ser rapper ou se queria ser poeta...e imaginei um nome de rapper para mim, Falcão Negro, e é um poema sobre a morte, é um bocado macabro, mas lembro-me bem. 

Como foi o processo criativo deste novo livro, Vim Sem Tempo
O livro, como disse, é uma homenagem à minha avó, mas parte de um exercício linguístico que tenta desmistificar o conceito de tempo nas suas várias concepções. Nós olhamos para o conceito de tempo e atribuímos-lhe diferentes valores, quando falamos de tempo religioso, por exemplo, em que existe um Deus omnipotente e pleno. Falamos de um tempo abstrato ou socialmente construído, que é aquele que nos rege enquanto sociedade, e depois falamos do tempo orgânico, aquele que rege a natureza. E aquando da morte da minha avó inteirei-me que teria de aprender a lidar com a inexistência de uma pessoa que me foi tão importante em todas estas concepções do tempo, no orgânico, no socialmente construído e no religioso. E, portanto, o livro tenta articular um pouco de como é que eu posso almejar uma vida ou uma existência, bem ciente de que terei de o fazer sem esta pessoa em específico. 

Qual é a importância das redes sociais na sua carreira? 

O seu primeiro livro é uma viagem de 2014 a 2021, que é aproximadamente o período da sua adolescência. De que forma é que sentiu que a sua escrita amadureceu? 

Como disse numa entrevista, o primeiro livro tinha objetivo de provar que as pessoas liam e compravam poesia. E agora com este segundo livro, quais são os objetivos? 
Exatamente os mesmos. Porque, independentemente de ter corrido bem, o correr bem continua a ser um número residual. A poesia, em conjunto com o teatro, continuam a ser os géneros literários menos comprados em Portugal. Portanto, obviamente que o meu objetivo principal é colocar mais pessoas a ler poesia. Mas, talvez em segundo lugar, ou lado a lado, é poder servir de uma porta de abertura para a poesia. Pessoas que, se calhar, a única interação que têm com a poesia é aquilo que recebem no ensino secundário. E, de facto, ou é muito bem ensinado, ou um jovem sai do ensino secundário a achar que a poesia é uma seca e depois nunca mais volta a tocar nela. E, nesse sentido, aquilo que faço, o meu trabalho, vai muito nessa procura de pessoas que acreditam que, se calhar, a poesia é uma seca, mas estão dispostos a dar uma chance a uma pessoa que tem empacotado a poesia de uma forma mais atraente. E daí aventurarem-se por outros caminhos e outros poetas.

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