Exclusivo Mulher no limite

Para a sua estreia na cadeira de realizadora, Maggie Gyllenhaal inspirou-se numa novela de Elena Ferrante. Protagonizado por Olivia Colman, A Filha Perdida é um delicado e desconfortável estudo de personagem a partir de uma visão da maternidade.

Numa pequena coluna publicada no jornal The Guardian, Elena Ferrante foi a primeira a congratular-se por Maggie Gyllenhaal, despida da pele de atriz, escolher adaptar um dos seus livros: "Há algo muito mais importante em jogo do que o instinto de proteger as minhas próprias invenções. Outra mulher encontrou neste texto um bom motivo para testar as suas capacidades criativas." E, de facto, diante do filme acabado, sente-se em A Filha Perdida qualquer coisa de território de experimentação, revelando a sensibilidade de Gyllenhaal atrás da câmara numa leitura visual que tanto nos aproxima da filigrana narrativa da escritora como projeta uma tradução íntima da realizadora. Terá sido a correspondência de Gyllenhaal com o universo mental da personagem (neste caso, também narradora) que a atraiu para a possibilidade de uma adaptação. Dir-se-ia um universo com um fio de thriller que conduz a uma verdade pouco agradável.

O filme em si assenta numa impressão de incómodo quase permanente, que é antes de tudo parte do fascínio da literatura de Ferrante, a autora italiana que melhor consegue chegar às dobras difíceis da intimidade feminina, sem medo das palavras que condensam sentimentos estranhos ou, pelo menos, que tendem a ser ocultados por vergonha. Com o título A Filha Obscura, a história está publicada entre nós pela Relógio d"Água, no livro Crónicas do Mal de Amor (com um prefácio de James Wood intitulado Mulheres nos Limites), e aí encontramos confissões tão límpidas e pouco convencionais como: "Observava as minhas filhas quando estavam distraídas, sentia por elas uma complicada alternância de simpatia e antipatia."

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