Morreu Ulay, artista pioneiro da performance e ex-companheiro de Marina Abramovic

Pioneiro e provocador, o artista de 76 anos estava doente há anos. "Era um artista e um ser humano excecional", comentou Marina Abramovic que foi sua parceira de vida e de trabalho durante 12 anos.
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Frank Uwe Laysiepen - artista conhecido como Ulay - morreu esta segunda-feira (2 de março) em Ljubljana, na Eslovénia, aos 76 anos de idade devido a complicações relacionadas com o cancro linfático.

Apesar de ser um artista incontornável na área da fotografia e da performance, Ulay tornou-se conhecido sobretudo com a sua colaboração com a artista sérvia Marina Abramovic, que conheceu em 1976 em Amesterdão. A sua relação amorosa e profissional durou 12 anos. Juntos, exploraram a arte da performance levando o corpo e a mente ao limite, numa série de trabalhos a que chamaram "Relation Works". Em Light/ Dark (1977), por exemplo, Ulay e Marina ficavam frente a frente, dando estaladas na cara um do outro, num crescendo de violência.

Em Imponderabilia, em 1977, colocaram-se nus sob a ombreira de uma das portas da Galeria de Arte Moderna de Bolonha e os visitantes tinham que passar, apertados, entre eles:

Entre 1981 e 1987, o casal produziu uma série de 22 performances, com o título Nightsea Crossing, que apresentaram em vários locais: ficavam sentados em frente um do outro durante sete horas por dia, tranquilos e silenciosos.

Na sua última obra em conjunto, intitulada The Lovers (1988), Ulay e Marina caminharam ao longo da Grande Muralha da China durante três meses: ele começou no deserto de Gobi e ela no Mar Amarelo, cada um caminhou 2400 quilómetros e encontraram-se a meio do caminho; sem falarem, despediram-se com um aceno de adeus.

Depois de anos sem se falarem, Marina e Ulay voltaram a encontrar-se em 2010 durante a exposição dela no MoMA, em Nova Iorque, The Artist is Present: O emocionante encontro foi filmado para o documentário sobre Marina Abramovic:

No ano seguinte, foi-lhe diagnosticado cancro. Em 2015, Ulay processou Abramovic num tribunal holandês, alegando que ela havia violado um contrato de 1999 que abrangia as obras que eles criaram juntos. Marina Abramovic teve de pagar-lhe direitos de autor no valor de mais de 250 mil euros. No entanto, depois disso, os dois voltaram a ficar amigos e participaram em 2017 no documentário The Story of Marina Abramovic and Ulay.

"É necessário muito tempo, talvez uma vida inteira, para entender o Ulay", disse uma vez Marina Abramovic. Esta segunda-feira, no seu instagram, escreveu: "Foi com muita tristeza que soube da morte de meu amigo e ex-parceiro Ulay hoje. Ele era um artista e um ser humano excecional, que fará muita falta. Neste dia, é reconfortante saber que a sua arte e o seu legado viverão para sempre ".

Nascido em 1943 na cidade alemã de Solingen, Ulay viveu e trabalhou em Amesterdão, onde foi fotógrafo para a Polaroid, antes de se mudar para Ljubljana, na Eslovénia. Atualmente vivia entre estas duas cidades.

A Fundação Ulay publicou no Facebook: "Ulay era incomparável. Como ser humano e como artista. A alma mais gentil, um doador. Um pioneiro, um provocador, um ativista, um mentor, um colega, um amigo, um pai, um marido, família. Um procurador de luz, um amante da vida, um viajante, um lutador. Um pensador brilhante, que tem ultrapassado limites e sofrido dores, de modo altruísta e destemido, ético, elegante, espirituoso. Ele, que influenciou tantos."

Richard Saltoun, cuja galeria homónima de Londres representa o artista, disse em comunicado: "Ulay era o espírito mais livre de todos - um pioneiro e provocador com uma obra radical e historicamente única, operando na interseção da fotografia e nas abordagens conceituais da performance e da arte corporal".

Em novembro de 2020, uma grande retrospetiva do trabalho de Ulay será inaugurada no Museu Stedelijk, em Amesterdão, na Holanda.

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