Morreu o cartoonista Augusto Cid

O cartoonista conhecido pelo seu estilo acutilante morreu aos 77 anos.
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O cartoonista e escultor Augusto Cid, de 77 anos, morreu esta quinta-feira em Lisboa, disse à agência Lusa um familiar. Cid estava doente já há algum tempo.

Augusto Cid destacou-se como cartoonista, tendo trabalhado em vários jornais e revistas, nomeadamente Vida Mundial, O Diabo, Grande Reportagem, O Independente e no semanário Sol, assim como na TVI, sempre com uma perspetiva da atualidade, tendo editado, entre outros títulos, o catálogo "Cid, o Cavaleiro do Cartoon", que acompanhou a exposição homónima.

Provocador, teve livros apreendidos após o 25 de abril e satirizou frequentemente figuras do poder como Álvaro Cunhal, Pinto Balsemão e Ramalho Eanes (por exemplo nos livros O Superman e Eanito, El Estático. Foi ele que, em 1974, desenhou o símbolo com as três setas do PPD, partido a que esteve bastante ligado - fez cartoons no jornal Povo Livre e era amigo de Sá Carneiro. Em 1984 publicou Camarate, livro sobre o acidente que vitimou Sá Carneiro.

Açoriano, nascido na Horta em 1941, frequentou a Escola Superior de Belas Artes de Lisboa e publicou as primeiras caricaturas ainda nos anos 50, tendo colaborado com o semanário humorístico A Parada da Paródia.

Como escultor, tem várias obras no país, como a peça de homenagem às vítimas dos atentados de 11 de setembro de 2001, instalada no cruzamento das avenidas de Roma e Estados Unidos da América, em Lisboa, e a dedicada a Nuno Álvares Pereira, em Lisboa, no Restelo, inaugurada em novembro de 2016, pelo Presidente da República, entre outras individualidades.

O cartoonista é "irresponsável por natureza"

Em 2008, depois de ter ganho a 10ª décima edição do Porto Cartoon World Festival, Augusto Cid admitia que o cartoon em Portugal "já esteve melhor, já teve melhores dias", pois, dizia, o fator "risco", presente noutros tempos, tinha desaparecido, levando consigo parte da motivação. Sobretudo nos tempos mais agitados politicamente, como durante o PREC, o cartoon tinha uma importância, uma repercussão e um impacto que hoje duvido que tenha", afirmava Augusto Cid, apesar de "os jornais com alguma projeção continuarem a procurar bons cartoonistas". "Esses tempos eram mais motivantes", "mais desafiantes". "Hoje posso fazer aquilo que me der na cabeça quase sabendo, de antemão, que nada me vai acontecer". Por exemplo, "fiz vários livrinhos, tal como O Superman, e tenho muitos amigos que me dizem que tenho que fazer o livrinho do Sócrates, mas não tenho motivação". Além disso, "julgo que não há motivação para o comprar". "Dantes ainda não estava feito e já me estavam a tirar das mãos para ler", contava o cartoonista.

Talvez a maior liberdade de expressão dos nossos dias não se desse bem com um dos mais importantes traços da personalidade de Augusto Cid, seduzido pelo risco, e pelo desejo de o pisar. "O cartoon é um espaço de opinião, uma tomada de posição", e "o cartoonista é um irresponsável por natureza". "Se tiver o azar de atacar determinado tema, ou alguém, e chegar à conclusão que o fez injustamente (algo que já aconteceu com todos os cartoonistas), não há que pedir desculpa, há que passar à frente". Apesar de tudo, Augusto Cid admitia que, por vezes, havia desenhos que guarda para si, ou para a sua roda de amigos, porque "não são publicáveis". Por exemplo, "porque ninguém deu por isso", por essas situações. "Nesses não tenho qualquer preocupação", porque não vão chegar às páginas dos jornais.

O velório de Augusto Cid realiza-se na sexta-feira, a partir das 17:00, na Basílica da Estrela, em Lisboa, onde será rezada missa de corpo presente no sábado, pelas 10:00, seguindo-se o funeral para o cemitério do Alto de São João, onde será realizada a cerimónia de cremação.

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