Morreu Larry Flynt, fundador da revista "Hustler". Tinha 78 anos

Larry Flynt fundou a revista pornográfica "Hustler", em 1974.
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O empresário da indústria pornográfica, Larry Flynt, fundador da revista Hustler (1974) e um defensor da liberdade de expressão, morreu esta quarta-feira na sua casa em Los Angeles, aos 78 anos.

Segundo o The Washington Post, a notícia da morte de um dos nomes mais relevantes da indústria pornográfica foi confirmada pelo irmão Jimmy Flynt, não tendo sido revelada a causa da morte.

O site TMZ, que avançou com a notícia, refere que Flynt morreu de insuficiência cardíaca.

Em 1974, lançou a revista pornográfica Hustler e o seu império de negócios cresceu para incluir dezenas de títulos de revistas, sites de pornografia na internet, clubes e um casino.

A Hustler surge como concorrente direta da Playboy, que o próprio Larry Flynt considerava "desatualizada". Esta versão considerada mais atual pelo fundador tinha imagens muito explícitas e um tom deliberadamente escandaloso.

Foi a partir daqui que começou o império de Flynt, que progrediu para estúdios dedicados à produção de filmes pornográficos.

Em 1978, Flynt ficou paralisado da cintura para baixo depois de ter sido baleado pelo supremacista branco, Joseph Paul Franklin, após a publicação de fotos de sexo inter-racial na Hustler. Associado a este episódio, seguiram-se outros problemas de saúde, incluindo um vício intermitente em analgésicos ao longo dos anos.

Flynt, que estava numa cadeira de rodas - banhada a ouro - desde a tentativa de homicídio, sempre foi uma figura controversa. Precisamente em 2013, na altura em que o Joseph Paul Franklin, ia ser executado, no Missouri, o magnata apelou para que não tal não acontecesse.

"Tenho todos os motivos para ficar feliz com isto, mas não estou", disse, em outubro desse ano, ao The Hollywood Reporter, um mês antes da execução de Franklin.

O império de Flynt foi estimado entre 100 e 500 milhões de dólares.

Em outubro de 2017, o fundador da revista pornográfica "Hustler", deu o considerado 'último golpe' de uma vida controversa ao oferecer numa página do diário norte-americano The Washington Post dez milhões de dólares (mais de oito milhões de euros) por quaisquer informações que ajudassem no primeiro processo de destituição do então Presidente dos Estados Unidos, o republicano Donald Trump.

Na opinião de Larry Flynt, este era um "dever prioritário"

Em 2000, o empresário abriu um casino baseado na revista que fundou, em Los Angeles (Califórnia), mas este investimento durou pouco.

A 'explosão' da Hustler deu-se em 1975, quando a revista publicou fotografias da antiga primeira-dama dos Estados Unidos, Jacqueline Onassis, casada com o antigo Presidente John F. Kennedy, despida. Flynt pagou a um paparazzo 18 000 dólares (mais de 16 000 euros) para fotografar a antiga primeira-dama sem o consentimento da própria. A revista vendeu mais de um milhão de cópias só com esta edição.

Um ano depois foi julgado em Cincinnati por acusações de obscenidade e crime organizado. Condenado entre sete a 25 anos de prisão, Flynt abandonou o estabelecimento prisional com apenas seis dias de pena cumprida, por alegações de conduta imprópria durante o julgamento e parcialidade.

Depois de uma capa a satirizar, em novembro de 1983, um anúncio do televangelista Jerry Falwell, Flynt foi processado pela personalidade parodiada, que acusava a empresa do magnata de invasão de privacidade de danos emocionais intencionalmente infligidos.

Condenado a pagar 150 000 dólares (mais de 145.000 euros), Flynt recorreu ao Supremo Tribunal em 1988, que unanimemente decidiu, com base na primeira e 14.ª Emendas da Constituição norte-americana previnem uma figura pública de ser ressarcida por danos emocionais que sejam infligidos por intermédio de uma caricatura, sátira ou paródia dessa figura pública que uma pessoa razoável não tivesse interpretado como factual.

"Para meu espanto, vencemos", escreveu Flynt.

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O caso tornou-se central para os julgamentos sobre liberdade de expressão, que, entretanto, foi citado inúmeras vezes em situações semelhantes e para vários argumentos legais, razão pela qual Flynt se intitulou o defensor da liberdade de expressão.

O caso e a vida de Flynt foram imortalizados no filme The People vs. Larry Flynt (1996), dirigido por Milo Forman e protagonizado por Woody Harrelson, que esteve nomeado para os Óscares.

"Devo admitir que nunca comprei a revista Hustler e acredito que nunca comprarei", escreveu Forman na introdução da autobiografia de 1996 de Flynt.

"Mas, enquanto eu viver, sempre admirarei Larry Flynt: a sua vida, a sua coragem e a sua tenacidade."

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