Miguel Gameiro & Pólo Norte. “A música não era vista como profissão. Hoje, as coisas profissionalizaram-se”
Leonardo Negrão

Miguel Gameiro & Pólo Norte. “A música não era vista como profissão. Hoje, as coisas profissionalizaram-se”

A banda vai celebrar 30 anos com um concerto no Sagres Campo Pequeno, em Lisboa, no dia 29 de março. João Tiago Oliveira, guitarrista, e Miguel Gameiro estiveram à conversa com DN sobre este marco.
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O que é que significam 30 anos de carreira?

João Tiago Oliveira (JTO): Significa o convívio com as pessoas, o contacto com as pessoas. Esta sempre foi uma banda que privilegiou sempre esse contacto. É uma celebração conjunta entre a banda e as pessoas que seguiram sempre o grupo. Não pensamos tanto na idade, porque realmente quando pensamos em 30 anos, há muitas memórias que vêm à cabeça.

Dessas memórias, há alguma história mais engraçada que aconteceu durante esses 30 anos?

Miguel Gameiro (MG): Há muitas. No início, fizemos primeiras partes de concertos de algumas bandas portuguesas. E num dos concertos dos The Gift, em Almada, chegámos ao recinto do espetáculo atrasados. Estava, na altura, um agente de autoridade que não nos deixava passar, não tínhamos identificação e as credenciais. No entanto, era uma altura em que nós andávamos de um lado para o outro com merchandising do grupo e alguém se lembrou que tínhamos um póster para mostrar ao agente. E ele respondeu ‘posters todos temos’ e não nos deixou entrar.

E como é que fizeram para entrar?

MG: Depois alguém chamou alguém e lá nos deixaram entrar.

E nestes 30 anos, o que é que acham que mudou mais na indústria da música?

MG: Mudou muita coisa. A própria indústria e a forma como os músicos estão na música é completamente diferente. Acho que naquela altura nós começámos na música um bocadinho por loucura e por gostarmos muito. Não que hoje em dia os músicos não o façam também, mas naquela altura pensava-se muito. A música não era vista como propriamente uma profissão, no verdadeiro sentido da palavra. Hoje em dia não, as coisas profissionalizaram-se bastante. Também as condições de trabalho, técnicas, mudaram bastante e evoluíram muito. E acho que, de facto, criou-se uma indústria musical. Hoje em dia consegue-se viver da música e estar na música a 100%.

E o que é que mudou para vocês, enquanto banda?

JTO: Há muito mais informação. Nós deixamos de ter editora no final dos anos 2000 e essa máquina é feita por nós. O que nunca mudou foi as pessoas gostarem da banda e irem aos concertos. O que mudou foi todo o processo de promoção da banda. Há muita informação e há sempre artistas novos e há sempre muita coisa a aparecer. Às vezes é mais difícil fazer uma promoção e estar junto dos meios de comunicação. A decisão de não termos editora acabou por surgir naturalmente. Conseguimos fazer as coisas à nossa maneira, como gostávamos, nos timings que decidimos e como queremos. Nós estamos felizes neste formato hoje em dia. E isso foi uma mudança importante.

Qual é a maior dificuldade de conciliar as duas facetas: a de ter uma banda e fazer o próprio agenciamento?

MG: A dificuldade é, de facto, ter que se pensar em tudo. Uma coisa é o pensamento criativo e musical. Outra coisa é o pensamento estratégico e empresarial para conseguir chegar ao público, aos municípios, aos agentes de espetáculos, etc. Portanto, temos que pensar nestas valências todas. Mas no final do dia, se nós gostarmos do que fazemos, o retorno acaba por ser bastante positivo. Controlamos melhor o que é que fazemos, como fazemos e quanto fazemos. Tornamo-nos mais independentes.

Numa entrevista, mencionaram que ninguém na banda queria ser músico quando começaram. Como é que isto aconteceu?

MG: A música, para mim, era um bocadinho mais vista como entretenimento, um hobby, algo para nos encontrarmos e nos reunirmos. Pegávamos numa guitarra, levávamos para o liceu, fizemos uma banda para tocarmos com os amigos. Nós próprios não víamos a música como uma profissão, por assim dizer. Tínhamos a nossa ideia de curso superior, de seguir aquele caminho clássico. A questão é que depois, de facto, começámos a ver que gostávamos muito de fazer isto, de fazer música.

Sobre o concerto, o que é que nos podem revelar?

MG: Nestes 30 anos deu para fazer muitas canções que passaram muito na rádio, que as pessoas conhecem, e essas são obrigatórias. Mas também, ao mesmo tempo, vamos trazer algumas novidades. É um concerto diferente, com outras canções que são menos conhecidas. Depois temos algumas surpresas que não podemos revelar. E temos convidados, o Pedro Abrunhosa e a Mariza, em duetos connosco no palco. E temos uma outra participação, de outra pessoa, que não podemos revelar.

Porque decidiram ter a Mariza e o Pedro Abrunhosa como convidados?

MG: A Mariza, pelas colaborações que fiz com ela a título individual como Tempo Não Para e Sem Ti para os álbuns dela, e pelo facto de ela ter cantado connosco O Teu Nome. E o Pedro porque sempre gostámos dele. Somos amigos e criámos uma ligação também de estrada. O álbum Viagens saiu mais ou menos na mesma altura em que sai o nosso primeiro disco e cruzámo-nos muitas vezes na estrada.

Qual é que é agora o próximo passo para Miguel Gameiro e os Pólo Norte?

MG: Vamos continuar a fazer os concertos que fazemos todos os anos. Depois, irei fazer um álbum de duetos também.

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