Metallica voltam à versão sinfónica. E continuam imbatíveis

A maior banda de <em>heavy metal</em> do mundo juntou-se outra vez em palco com a Orquestra Sinfónica de São Francisco, para recriar o momento que em 1999 lhe valeu um Grammy com o álbum <em>S&M</em>. Vinte anos depois, o efeito surpresa de<em> S&M2</em> já não é o mesmo, mas volta a provar que, ao vivo, o quarteto californiano continua sem igual.
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Quando, a 21 e 22 de abril de 1999, os Metallica se juntaram pela primeira vez à Orquestra Sinfónica de São Francisco, para gravarem o álbum ao vivo S&M, a ideia até nem era a mais original e já tinha sido recorrentemente repetida desde 1969, quando os Deep Purple inauguraram esta tendência, numa atuação conjunta com a Royal Philharmonic Orchestra. Mas sendo a banda inglesa uma das principais e assumidas influências do baterista dos Metallica Lars Ulrich, é como se houvesse um fio condutor até esse momento, que acabaria por se tornar um dos pontos mais altos da carreira do quarteto de São Francisco. A ideia inicial, curiosamente, partiu do maestro Michael Kamen, que, após assistir à atuação dos Metallica na cerimónia dos Grammys de 1992, desafiou a banda a fazer um concerto com uma orquestra clássica.

Mas a ligação da banda à música erudita já era mais antiga, muito por culpa do falecido baixista original do grupo, Cliff Burton, um apreciador e conhecedor de compositores clássicos, em especial de Johann Sebastian Bach, cuja influência pode ser detetada nalguns dos temas mais épicos dos Metallica, especialmente nos álbuns Ride The Lightning e Master of Puppets.

Seriam ainda assim necessários alguns anos para tal acontecer, mas os quase dez milhões de cópias vendidas e o Grammy conquistado com S&M, considerado um dos melhores álbuns ao vivo de sempre, provaram que, afinal, os Metallica ainda conseguiam surpreender, mesmo a fazer algo já tantas vezes tentado por outros.

À época, a banda atravessava uma crise interna e de criatividade, que ainda se prolongaria por mais alguns anos, e o sucesso comercial de S&M acabou por ajudar a disfarçar tal facto. Mesmo assim, a receita não mais seria repetida, até ao ano passado, quando a banda decidiu voltar a reunir-se com a Orquestra Sinfónica de São Francisco, para a inauguração do Chase Center, em São Francisco, com dois concertos, a 6 e 8 de setembro, que contaram com a presença de 40 mil elementos dos clubes de fãs da banda, vindos de quase 70 países.

Um momento novamente imortalizado em disco (e vídeo), no álbum S&M2, agora finalmente editado e o qual regista o espetáculo de mais de duas horas e meia que juntou em palco James Hetfield, Lars Ulrich, Kirk Hammett e Robert Trujillo aos 80 membros da orquestra, dirigidos pelo maestro Edwin Outwater e pelo lendário diretor musical Michael Tilson Thomas.

Porém, e ao contrário de há 20 anos, o efeito surpresa já não é o mesmo, até porque metade dos 20 temas do alinhamento já estava presentes no álbum original, muitos deles com arranjos idênticos. São, aliás, apenas sete as músicas escritas pela banda que não estavam incluídas no disco ao vivo de 1999, mas isso é o menos, até porque há clássicos que têm de estar sempre presentes em qualquer concerto dos Metallica, como Wherever I May Roam, One, Master of Puppets, Nothing Else Matters ou Enter Sandman, a sequência de luxo que encerra o álbum, para total delícia dos fãs.

Como é habitual, o espetáculo começa ao som de The Ecstasy of Gold, o clássico de Ennio Morricone, que os Metallica adotaram como tema de abertura dos concertos desde 1983, seguindo-se uma vertiginosa versão do instrumental The Call of Ktulu, porventura um dos melhores momentos do disco, apenas suplantado pelo momento de tributo a Cliff Burton, o baixista original da banda, falecido em 1986. Curiosamente protagonizado não pelo baixista Robert Trujillo, mas pelo contrabaixista da orquestra, Scott Pingel, ele próprio um fã de Cliff, como faz questão de salientar James Hetfield. O tema escolhido foi o instrumental (Anesthesia) - Pulling Teeth, originalmente editado em 1983, no álbum Kill 'Em All, que começa por ser interpretado de modo delicado e clássico, para em seguida, com o recurso a pedais de distorção, ser transformado num dos momentos mais rock and roll de todo o disco, numa bonita e surpreendente homenagem ao músico e à própria obra da banda, pelo modo como foge ao óbvio.

Quanto ao resto, são uns Metallica iguais a si próprios, enquanto animais de palco, tal como todos os que já tiveram oportunidade de os ver ao vivo tão bem sabem. E ninguém vai a um concerto dos Metallica à espera de novidades, mas sim de emoções fortes, e isso é coisa que não falta neste S&M2.

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