MARO. Há uma nova voz na música portuguesa

A jovem música, que estudou na Berklee College of Music e hoje vive em Los Angeles, sobe nesta sexta-feira ao palco do Capitólio, em Lisboa, e no domingo atua na Casa da Música
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Há uma semana que músicos como António Zambujo, Luísa Sobral, Ana Moura, Rui Veloso, Carolina Deslandes ou Samuel Úria cantam temas dela, numa contagem decrescente até ao concerto desta sexta-feira no Cineteatro Capitólio. O primeiro descreveu-a como "a jovem talentosa que nos traz esperança". Mas quem está por detrás das quatro letras do seu nome, MARO?

A mãe é professora de música, como, ainda antes, a avó. "A minha mãe tinha uma regra cá em casa: têm todos de fazer o quinto grau de piano. Depois podem desistir, podem fazer o que quiserem." O pai toca guitarra e nas viagens de carro ouvia coisas tão diferentes como vozes búlgaras ou Beatles. No banco de trás, ela - muitos anos depois elogiada por Tracy Chapman pela sua versão de Fast Car - cantava com os irmãos.

"Quando cantávamos era meio a gozar, e muitas coisas do tipo: O nosso galo é bom cantor. Nem se ouvia realmente bem nenhuma das nossas vozes. Cantar a sério eu cantava em segredo", conta MARO, nome artístico de Mariana Secca, que nesta sexta-feira às 22.00 sobe ao palco do Capitólio, com Carolina Deslandes como convidada, e, no domingo, da Casa da Música. Até ao concerto desta noite, MARO convidou oito músicos para cantarem oito temas seus. A contagem terminou com a irmã, Matilde Secca.

Vinda de Los Angeles, onde hoje vive depois de terminar a licenciatura na Berklee College of Music, em Boston, recebe-nos à porta com uma camisa parecida com aquela se vê na capa do último dos três volumes que compõem o seu primeiro álbum, homónimo, e só editado nas plataformas digitais. No primeiro volume, a camisa é branca, está por preencher e, atravessado o meio do caminho, o segundo volume, já com algumas cores, chegámos ao final, com cores exuberantes.

O álbum de Mariana Secca (ascendência italiana, de "há muitas gerações atrás", diz) tem uma ordem cronológica. Deixa, a canção que abre o primeiro volume, tem mais de dez anos. Foi escrita quando ela tinha 12 anos, depois do divórcio dos pais. "Foi, na altura, o que eu precisei de dizer a mim mesma, era o que eu precisava de ouvir. Foi natural cantar aquilo. Mas eu podia só tê-lo dito, ou só ter escrito aquilo num pedaço de papel, mas saiu música. Acho que aconteceu isso com quase todos os temas. Olho para os álbuns e vejo mesmo as etapas da vida e penso: que engraçado as coisas que eu senti em cada altura."

Não quis mexer em nada, nem na escolha de palavras que agora por vezes lhe parece infantil. "Eu estou a mostrar que isto é uma história, e portanto vou manter o início como foi." Essa história, paralela ao álbum, começa com MARO no quarto à procura dos acordes que ouvira o pai tocar na guitarra, a refilar - "Odeio Scarlatti!" - com os estudos de piano no Conservatório, e pronta para um dia se tornar veterinária. "Está tão longe agora da realidade: veterinária. Não parece real, não é?"

Ficou um ano a estudar para subir as notas no curso de Ciências, no ensino secundário, para garantir que entrava em medicina veterinária. E foi nessa altura que percebeu que não seria por ali. "Quando percebi fui logo procurar na internet, nesse dia, foi um bocado uma epifania. Descobri a Berklee. Candidatei-me e recebi um email a dizer: "A tua candidatura foi aceite, tens uma audição daqui a duas semanas em Paris.'"

Enquanto fez a licenciatura em piano, MARO criou uma rubrica chamada Berklee People, de que há dezenas de registos em vídeo. Convocava diferentes músicos da escola, vindos de todo o mundo, e gravavam. "No início de cada semestre fazia uma lista com os temas que queria fazer, os estilos que queria fazer, as pessoas, o arranjo. É fácil, numa escola com cinco mil músicos, haver competição. A Berklee People começou por causa disso [para combater isso, haveria de explicar]. Depois as pessoas começaram a aderir imenso. Eu era muito discreta, dizia "olá" a toda a gente, mas depois ninguém sabia o que eu fazia. No fim já vinham ter comigo: "Olha se precisares, eu adorava estar num dos vídeos.""

Naquela escola de música em Boston, uma das mais prestigiadas do mundo, cantou-se Sérgio Godinho ou Ornatos Violeta por causa de MARO.

Durante a conversa, ela trauteia aqui e ali uma canção, sempre a propósito de coisas diferentes, de O nosso galo é bom cantor ao Corcovado de Tom Jobim ou ao tema clássico que o pai tocava na guitarra. No final, pega na sua para tocar e cantar Flying to L.A.

"O terceiro volume do álbum é uma celebração da minha escolha de vida: largar tudo para ir estudar música. Antes era mais uma escrita para segredo e hoje é: eu adoro o que faço, e estou mesmo feliz por poder tocar como carreira. Isso influenciou muito a escrita. Há qualquer coisa diferente. E ouve-se." No palco, a jovem música atravessará as canções da viagem que a trouxe ali.

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