Reações à morte de Maria Teresa Horta. Marcelo evoca lugar único no feminismo e jornalismo
O Presidente da República evocou Maria Teresa Horta, que morreu esta terça-feira, aos 87 anos, lembrando o seu papel único na literatura portuguesa, e assinalando a forma como se dedicou à "militância feminista", à "polémica desassombrada" e à "franqueza erótica".
Marcelo Rebelo de Sousa recordou, numa nota publicada no 'site' da Presidência, a obra "Novas Cartas Portugueses" (1973), de que foi coautora com Maria Velho da Costa e Maria Isabel Barreno, que lhe granjeou o lugar de única escritora viva a figurar num "livro recente sobre o cânone literário português".
Essa obra, que partiu das "Cartas Portuguesas" atribuídas a Mariana Alcoforado, faz "um retrato sociologicamente cru e linguisticamente inventivo da condição feminina nos anos finais da ditadura", valendo às autoras a perseguição judicial, mas também "vasta repercussão internacional".
"A partir daí o nome de Maria Teresa Horta ficou associado como poucos à militância feminista, tanto no domínio político-social como no literário, bem como à polémica desassombrada e à franqueza erótica. Poeticamente, esteve ligada à contenção afirmativa da Poesia 61, que depois prolongou por outros caminhos; na ficção, uma das suas obras com mais impacto foi a biografia romanceada da Marquesa de Alorna, de quem era descendente", recordou o chefe de Estado.
Marcelo Rebelo de Sousa destacou ainda o ativismo de Maria Teresa Horta no jornalismo, no âmbito do qual "dirigiu o suplemento cultural de A Capital, foi chefe de redação da revista Mulheres e colaborou com os principais jornais portugueses".
Maria Teresa Horta, que o Presidente da República classificou como "uma inspiração e um exemplo", foi agraciada com o grau de Grande-Oficial da Ordem da Liberdade em 2024.
"Morreu um pedaço de história", diz escritora e jornalista Patrícia Reis
A escritora e jornalista Patrícia Reis dedicou-lhe perto de cinco anos de trabalho exaustivo, em que leu e viu tudo sobre Teresa. Diz ao DN que “morreu um pedaço de história”. “Sobra o legado dela e que talvez estes tempos que estamos a viver nos obriguem a olhar para o legado de pessoas como a Teresa, para os honrar. A Teresa foi uma das grandes vozes da literatura portuguesa, com pouco reconhecimento tanto da academia como dos prémios. Uma pessoa inteira, muito coerente com as suas convicções e as suas ideias”, afirmou, emocionada, numa reação à morte.
A escritora, poeta e jornalista Maria Teresa Horta, a última das "Três Marias", que afrontou o Estado Novo e se afirmou como expoente do feminismo em Portugal, na vida e na literatura, morreu esta terça-feira aos 87 anos.
PCP destaca resistência ao fascismo e defesa das mulheres
O PCP expressou pesar pela morte da escritora Maria Teresa Horta, destacando a sua "intervenção de resistência ao fascismo e ativismo em defesa da emancipação da mulher".
"Destacada mulher da cultura, escritora e poetisa, com extensa obra publicada -- como Tatuagens, Cidadelas Submersas ou Nossa Senhora de Mim - e importante percurso enquanto jornalista com participação em diversos jornais e revistas, Maria Teresa Horta tem um rico e diversificado percurso de vida marcado por uma intervenção de resistência ao fascismo e de ativismo em defesa da emancipação da mulher", lê-se numa nota do PCP.
Os comunistas salientam a co-autoria de "Novas Cartas Portuguesas", com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, que ficaram conhecidas como "As Três Marias", que viria ser alvo de censura e de julgamento das autoras, em 1972.
"Maria Teresa Horta foi diretora da Revista Mulheres, publicação pioneira na reflexão audaz sobre a igualdade e emancipação das mulheres", destaca igualmente o PCP na nota em que refere que foi distinguida em 2022 com o grau de Grande-Oficial da Ordem da Liberdade.
"À família, o PCP expressa o pesar pelo seu falecimento", declaram.