LEFFEST: 5 antestreias fundamentais
Mesmo sem ser uma obra-prima, esta adaptação de uma peça americana sobre um homem obeso a tentar reconciliar-se com a filha não deixará de ser um dos filmes mais falados da próxima temporada. Para já, tem Brendan Fraser num estado de generosidade abissal, depois porque prova que os tempos do teatro podem ser os tempos do cinema narrativo. Darren Aronovsky filma também o espaço da palco com uma liberdade contagiante, perfeita para dar vida a este conto de moral que evoca um imaginário à Stephen King. Ninguém sai inteiro desta sessão, é para ir preparado...
Um grupo de jovens soldados parece estar em África durante a Guerra Colonial. Mas para além do seu acampamento, parece estar um outro mundo...Esta é a premissa para o novo filme de Carlos Conceição, luso-angolano que reflete sobre uma herança de racismo português através do género, neste caso o filme de zombies.
Foi um dos filmes mais falados em Locarno e depois de Um Fio de Baba Escarlate (cuja estreia está incompetentemente atrasada...) pode mesmo falar-se em segurança de estilo. E há um lado de provocação nada barata, toda ela legítima. Anabela Moreira, João Arrais e Miguel Amorim são de bradar aos céus!
Tudo é sentimental no novo de James Gray, aqui a filmar a sua infância, tal como Spielberg o faz em Os Fabelman, outro dos tesouros das antestreias do Leffest. Mas a ideia e conceito de "sentimental" não traz a chantagem emocional e a piroseira que se associam a uma certa Hollywood. Armageddon Time é uma fábula sobre a tomada da consciência, neste caso sobre um menino a encontrar o seu lugar no mundo e no seio da família.
Será também o filme que coloca Anthony Hopkins na corrida para o melhor secundário na temporada dos prémios. Atenção, fortes chances de não chegar aos cinemas nacionais.
Foi uma das pérolas de Veneza e San Sebastián, um remake de Ikiru, de Akira Kurosawa, agora adaptado à Inglaterra dos Anos 1950 e com o tema do cavalheirismo britânico a substituir a honra japonesa. O desplante é uma ideia de Kazuo Ishiguro, Nobel de Literatura. Um "desplante" que funciona e retoma uma certa tradição clássica do cinema britânico dos Anos...50. Um filme que talvez só não vá mais longe por uma carga algo inflacionada de simpatia. Seja como for, tem um Bill Nighy brilhante na pele de um burocrata que descobre a vida quando percebe que tem encontro com a morte. Comovente, no mínimo...
Depois de The Card Counter, um dos grandes filmes de 2021, Schrader não abranda e está de volta com outra odisseia negra de expiação. Aqui apanha o processo de mudança de um homem amargurado com o seu passado de criminoso skinhead, interpretado com lucidez por Joel Edgerton, uma personagem que parece extensão do protagonista do filme anterior. E destas trevas nasce amor (mais do que expiação), num romance contado com cirurgia exata e sexo elegante, sempre com a sombra do fator religioso como escora de um sagrado único. Em Veneza dividiu muitas opiniões, mas é garantidamente um objeto a impor respeito.
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