Jornalistas do DN premiados com reportagem na mais discreta fronteira da Europa
De férias, na Bulgária, o jornalista do DN Ricardo J. Rodrigues e o fotógrafo da Global Imagens Rui Oliveira acabaram "na mais discreta fronteira da União Europeia" a fazer uma reportagem sobre refugiados e migrantes que são caçados, como se fossem animais, por milícias armadas e elogiadas pelo executivo búlgaro, um estado-membro europeu.
Esta reportagem foi premiada esta quarta-feira com uma menção honrosa do Prémio AMI - Jornalismo Contra a Indiferença. Na justificação do júri, sublinha-se que Ricardo J. Rodrigues expôs "de forma corajosa uma prática inaceitável e violadora dos direitos humanos num país da União Europeia e com a conivência dos poderes políticos".
A União Europeia pagou seis mil milhões de euros à Turquia "para estancar" a entrada de refugiados e migrantes nas suas fronteiras, recorda Ricardo J. Rodrigues. "Temos a Comissão Europeia a ir à Bulgária", enquanto o primeiro-ministro búlgaro elogia grupos de caçadores, que adquiriram tanques, um helicóptero e armas para "caçar refugiados", literalmente isto: "Caçar seres humanos", como explicou o jornalista do DN.
Na reportagem, Ricardo J. Rodrigues e Rui Oliveira conheceram alguns destes "seres humanos", como uma mulher afegã que fugiu por que o marido queria que a filha de 18 anos casasse com um homem de 60 e tais, ou uma família síria, em que o pai foi devolvido à procedência, separando-o da mulher e filho. "Numa Europa que se diz humanista e em que a extrema-direita cresce, isto é uma emergência do nosso tempo", apontou Ricardo.
O jornalista do DN sublinhou que era uma "honra" ser homenageado "ao lado" dos outros jornalistas premiados. "O Mal-Entendido - as doenças a que chamamos cancro", da autoria de Miriam Alves (SIC). Outros três trabalhos de Sibila Lind e Liliana Valente (Público), de Sofia da Palma Rodrigues e Diogo Cardoso (Divergente) e e Vânia Maia (Visão) receberam também menções honrosas.
"O jornalismo português tem uma das melhores gerações de profissionais", apesar de trabalhar "com poucos meios", "em condições extremamente adversas". "Ainda hoje fechou um jornal", notou, referindo-se ao encerramento de O Corvo - Sítio de Lisboa, uma publicação online de jornalismo local. "A democracia fica mais fraca de cada vez que fecha um jornal."
"O jornalismo é aliado dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos e sem jornalismo não há democracia", defendeu o repórter do DN.
O prémio da AMI foi entregue a Miriam Alves, da SIC, por causa de um trabalho que, na opinião do júri do Prémio, é um "impressionante e exaustivo trabalho de investigação, colocando em diálogo de forma surpreendente, diferentes ângulos da doença, provando que há muito a aprender e a fazer no campo da prevenção".
Os outros trabalhos premiados foram "Pedrógão Grande: Eis que fazem novas todas as coisas", de Sibila Lind e Liliana Valente (Público), por ser um trabalho que consegue mostrar, com sensibilidade e originalidade, uma realidade que o país viveu intensamente; "Terra de todos, Terra de alguns", de Sofia da Palma Rodrigues e Diogo Cardoso (Divergente), por ser uma reportagem cativante que revela a forma como as grandes multinacionais enganam e exploram os pequenos agricultores moçambicanos; e "Chernobyl - Onde vivem os fantasmas", da autoria de Vânia Maia (Visão), que vem lembrar-nos a importância das opções estratégicas no campo da energia e as suas consequências.
O júri foi constituído por Bárbara Baldaia, Raquel Moleiro, Rita Colaço (autoras dos prémios vencedores no ano passado), Maria João Pinto (doadora da AMI) e Fernando Nobre, presidente da AMI.