Jorge Carlos Fonseca: "O português nunca se extingue"

O presidente de Cabo Verde defende importância da língua portuguesa na 20 edição do Correntes d'Escritas e a passagem de testemunhos entre escritores de várias gerações.
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Parecia a pontualidade de Cabo Verde os 43 minutos de atraso da sessão de abertura do Correntes d'Escritas com uma intervenção do presidente Jorge Carlos Fonseca, mas os habitantes da Póvoa queriam selfies com o presidente Marcelo e nada havia a fazer. Antes da voz do presidente 'estrangeiro' ainda se ouviram no palco temas por um coro que parecia ter escolhido o primeiro especialmente para Carlos Fonseca: 'Jorge anda ver o meu país de marinheiros'. A sorte é que se cantavam as 'lanchas dos poveiros' e não as naus das Descobertas, mesmo que de vez em quando os versos descarrilassem para questões politicamente pouco corretas...

A conferência tinha como tema As Letras da Língua e a Mobilidade dos Criadores na CPLP e Jorge Carlos Fonseca não se poupou em palavras sobre literatura e em defender uma nova prática de integração nos vários países de língua portuguesa, perante um cineteatro cheio que nem um ovo. Aliás, o presidente não vinha à Póvoa há 54 anos, data em que ganhou o prémio de visitar o continente e onde hoje lança o seu novo livro, A Sedutora Tinta das Minhas Noutes.

A língua portuguesa é um tema que lhe é caro e preocupa-o que jovens e professores do seu país não a falem tanto como gostaria devido ao uso do crioulo. "O português nunca se extingue e é o que permite ocupar espaço no mundo e identificar-nos perante outras línguas", considerou.

Mesmo que a seguir revelasse que fora pelos jornais desportivos portugueses que aprendeu muito da língua portuguesa, bem como pelos grandes autores do seu país, portugueses, brasileiros, a par de leituras de outros países.

A língua portuguesa, diz, "é um legado histórico de 800 anos capaz de ultrapassar utopias" que, saindo da Galiza desceu do norte da Póvoa para o sul com uma estrutura própria que viajou até aos países que falam português. "É uma língua oceânica em viagem permanente".

Para o escritor e presidente já foi uma "língua imperial mas agora habita em estados livres e falar do português no Correntes d'Escritas confirma que é uma língua de futuro mesmo que o escritor ou poeta pouco se preocupem com tal enquanto escrevem. Porque o escritor vive numa ilha no momento em que cria".

Adiantou que nos próximos 40 anos nascerão mais cem milhões de falantes de português e que estes lerão o que já foi escrito: "Os escritores ficam connosco para toda a vida." E todos os livros, refere, "vão ligar-se uns aos outros", fazendo de "uma língua europeia que se forma fora da Europa, no lago Atlântico onde é falada".

A língua que falamos "levou-nos a criar uma comunidade em que os seus habitantes devem mover-se em liberdade" e a presidência da CPLP por Cabo Verde até ao próximo ano, avança, defende essa tese. "Uma comunidade é onde os muros são abatidos e os cidadãos não são proibidos de circular", situação que o presidente deseja que vá sendo alterada pelos vários estados. E dá como exemplo o Correntes d'Escritas e a forma como os escritores vêm até à Póvoa sem dificuldades, sendo as artes uma forma de integrar os vários países onde se fala a língua portuguesa: "Estas são as melhores pontes." A CPLP, defende, "deve ser o motor para esta integração".

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