Jogar, escolher, absorver. A experiência com "Detroit: Become Human"
É reconfortante chegar ao final de um videojogo e ficar desconfortável. Pode ser porque gostámos muito e durante 3 segundos parece que a nossa vida deixou de fazer sentido (como pode acontecer com um bom livro), mas também pode ser porque experienciámos algo que mexeu connosco. E, afinal, que mais podemos pedir daquilo que é, ao fim ao cabo, exatamente uma experiência?
Em Detroit: Become Human, que saiu a 25 de maio deste ano, a narrativa é rainha mas temos de a contemplar desconfiados e atentos. Até porque ela não vive por si sem as escolhas do jogador - e sem aborrecimentos.
O título do jogo não podia ser mais claro. A ação passa-se numa moderna e ágil Detroit, EUA, no ano de 2038. E become human ("tornar-se humano") é a expressão ideal para um mundo virtual e futurista em que humanos e androides coabitam. Controlamos três personagens, todas androides: Connor, que ajuda as autoridades; Kara, uma modelo para tarefas domésticas; e Markus, um androide que ajuda um artista idoso.
Destinados a servir, alguns androides começam então a ganhar "vida", a agir por si, a desequilibrar o objetivo humano para as máquinas. Querem ser livres e ter direitos. Cabe ao jogador decidir o caminho deste brotar de alma robótico.
As três personagens, todas já fora da subserviência e com objetivos próprios, têm vários finais possíveis, o que leva a uma combinação muito grande de desfechos, a boas conversas e discussões entre amigos e vários regressos ao início da história para tentar alcançar algo diferente. A temática, por si, como sempre, é interessante e disruptiva, podendo o jogador expressar a sua opinião na história do jogo que saiu exclusivamente para a PlayStation 4.
Cabe ao jogador decidir: sim vamos decidir a rebelião, sim vamos fugir, sim vamos lutar. E a coerência dos atos apenas é importante se quisermos que assim seja. Para jogar, basta escolher, às vezes com tempo, outras vezes com muita pressão, definindo todo o rumo da história (o arrependimento surge muitas vezes, diga-se). Felizmente, os requisitos são apenas estes e não estamos dependentes da habilidade que temos com um comando na mão.
No final, permanece a vontade. A paz ou a guerra está nas mãos de quem joga, assim como a vida e a morte. Neste caso, a definição das mesmas, até porque os androides dizem que querem viver. Resta saber se queremos e cremos, ou não.