Sorrisos, choros e enchentes no dia em que Millie Bobby Brown subiu ao palco
O dia 15 de setembro era o mais aguardado da 6.ª edição do Comic Con Portugal, desde que a organização confirmou, há cerca de três semanas, a presença da atriz Millie Bobby Brown no último dia do evento. Com apenas 16 anos, a estrela de uma das mais aclamadas séries do momento, Stranger Things, da Netflix, levou ao rubro os dois mil fãs que conseguiram assistir à sua conferência, marcada para as 14h30, no maior auditório do festival, o Golden Theatre.
Uma minoria, quando comparada com as centenas e centenas de pessoas que faziam fila desde o anfiteatro principal até ao lado oposto do recinto. Quem ficou de fora, em filas durante horas, aponta o dedo à "má organização". Já quem esteve dentro, diz que o sacrifício de quatro horas fechado no auditório principal "valeu a pena"
Num dia em que as temperaturas atingiram os 29.ºC, pais, crianças e adolescentes queixavam-se da indisposição, fruto das horas passadas na fila, ao calor, e ainda da falta de ordenamento no Passeio Marítimo de Algés. Outros falavam sobre o número limitado de bilhetes para tirar fotografias ou ter um autógrafo com a atriz de Stranger Things (30 e 20 euros, respetivamente), que esgotaram em menos de meia hora, depois da abertura oficial das portas, às 10h00.
Só quem chegou ao Passeio Marítimo de Algés pelas 09h00, quando as portas do recinto ainda estavam fechadas mas a fila já se prolongava até à estação de comboios de Algés, conseguiu garantir a compra dos bilhetes para os autógrafos e fotos e, ainda, um lugar na fila para entrar no Golden Theatre. Às 12h00, a segurança já não deixava entrar mais ninguém, e ainda faltavam duas horas e meia para o início da conferência com Millie Bobby Brown.
Com o passar das horas, as filas mantiveram-se à porta do Golden Theatre com cada vez mais crianças e adolescentes à espera, chegando mesmo a bloquear a entrada para quem tentava entrar na conferência do ator Benedict Wong, que aconteceu uma hora antes, no mesmo auditório.
Muitos estavam vestidos com camisas à anos 80 numa homenagem à série passada na década de 1980, em que Millie Bobby Brown veste a pele de Eleven, uma personagem com poderes sobrenaturais.
Quem entrou no Golden Theatre entre as 10h00 e as 12h00 já não saiu mais por uma "questão de segurança", segundo a organização. Com apenas um posto de venda de água no interior e sem casas de banho, algumas crianças e adultos tentaram sair do anfiteatro apenas por uns momentos, ao que lhes foi dito que "já não poderiam regressar".
Foi o caso de Cláudia, 44 anos, mãe de Raquel, 13 anos, que abandonou o Golden Theatre apenas para ir "comprar comida para a filha e os amigos". "Chegámos ao Passeio Marítimo de Algés, às 09h00, e às 10h30 já estávamos cá dentro, para garantir o nosso lugar, e sim conseguimos ver a Millie Bobby Brown! Mas tivemos que ficar quatro horas sozinhas lá dentro porque a minha mãe foi buscar comida e já não a deixaram entrar", contou Raquel. A mãe acenou, explicando: "Tive de ficar à porta e, antes de começar, lá me deixaram entrar porque tinha a minha filha lá dentro". Questionada sobre o ordenamento no interior do auditório, Cláudia afirmou ter sentido "segurança".
O DN sabe que, inicialmente, foram os jovens que pertenciam à organização que garantiram o apoio dentro do Golden Theatre. Os seguranças só apareceriam já pelas 14h30, pouco antes da apresentadora Diana Taveira subir ao palco a pedir calma ao público que esperava pela atriz de Stranger Things.
Madalena e Inês, 12 anos, assistiram à conferência de Millie Bobby Brown, moderada por Nuno Markl, e asseguraram ao DN que "a espera valeu a pena". "Foi uma gritaria total, estava cheio e havia muita gente a chorar de emoção, mas conseguimos ouvi-la. Houve alguma confusão, mas depois só começaram com a conferência quando já estávamos todos sentados. Fiquei foi com pena dos que esperaram cá fora e viram tudo pelo ecrã".
Cá fora, uma hora antes da atriz subir ao palco, as expectativas baixavam, com muitas lágrimas de adolescentes e crianças a perceberem que a entrada seria difícil.
Embora a Comic Con Portugal tivesse referido no site que a presença nos auditórios estava limitada à capacidade existente, vários pais insistiram que "poderia ter havido uma comunicação mais transparente". Selma Santos, 40 anos, acompanhada pelas duas filhas, de 12 e 9 anos, afirmou ainda que a organização podia ter repensado a logística do auditório. "Eles conseguem saber qual é a afluência do público que quer vir à Millie Bobby Brown. E aí já conseguiam fazer uma antecipação maior e criavam um plano B. E em vez de terem um ecrã minúsculo no exterior, poderiam ter colocado um maior".
Não muito longe, um trio de amigas desanimava. Tudo porque não terem conseguido "respirar o mesmo ar que Millie Bobby Brown".