Rodrigo Areias é um dos trunfos certos do PortoPostDoc

Começa este sábado a quinta edição do festival que repensa as ficções do real. <em>Hálito Azul</em>, de Rodrigo Areias, é o primeiro trunfo de um festival que vai à procura das revelações. Raúl Brandão e os Açores marcam o arranque.
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Ao quinto ano o PortoPostDoc é cada vez um dos maiores festivais de cinema. Este ano choca um fim de semana com o LEFFEST mas tem uma aragem diferente e um outro desígnio. Um festival dos filmes do real com uma mão cheia de trunfos. Retrospetivas, competição, filmes de escola, cine-concertos, fóruns e uma atmosfera de tertúlia que mexem com a baixa da Invicta.

Este ano, a grande novidade é a inclusão dos Cinemas Trindade, cada vez o polo mais alternativo da cinefilia a norte do país. O festival liderado por Daniel Ribas, Dario Oliveira e Sérgio Gomes tem formado públicos e aposta também numa relação de fidelização com um público local, embora também cada vez mais sentem-se na prática os ecos de internacionalização. Desde cedo que foi fácil descobrir jornalistas estrangeiros a querem cobrir este evento.

Um dos filmes mais aguardados é português e o PortoPostDoc conseguiu a sua antestreia mundial. É Hálito Azul, de Rodrigo Areias, a partir de Raúl Brandão. Trata-se de um dos pontas-de-lança da competição internacional. Um grande feito do festival, sobretudo porque se trata de mais um belo triunfo do cineasta de Guimarães, aqui a viajar para Ribeira Quente, nos Açores, e a documentar com uma beleza matreira o dia-a-dia da população piscatória. Uma câmara que olha para os homens, as mulheres e as crianças com uma dignidade serena. Depois, há também um trabalho de apropriação das palavras de Brandão que não cai em clichés baratos de "poesia ilustrada".

Como sempre, Areias filma as paisagens e as situações com um puro espírito rock n' roll, mais uma vez com a ajuda da música de Paulo Furtado, habitual companheiro das suas bandas sonoras. O filme passa já domingo, às 21.45, no arranque da competição internacional no Trindade. Mas não é a única pérola portuguesa do festival: Sobre Tudo Sobre Nada, jornada experimental de Dídio Pestana, também está na mesma competição e já tinha sido uma das coqueluches do Festival de Locarno.

Pestana filma a sua vida durante anos em SUPER 8 e como que estabelece um tratado romântico de um qualquer clube de corações partidos. É um filme delicado, delicadíssimo que pede espetadores em busca de uma doçura sensorial. Sobre Tudo Sobre Nada é uma outra prova forte da novíssima liberdade de um cinema português sem amarras. É exibido pela primeira vez no serão de dia 28, no Trindade, e é sessão "quente" - não deve estrear comercialmente tão cedo. Antes disso, na abertura, um documentário sobre um "cromo" do futebol, Carlos Henrique Cardoso. Chama-se Kaiser: O Grande Jogador que nunca Jogou Futebol, de Louis Myles, e promete ser o "agrada-multidões" do festival.

"Estamos no lugar que gostamos: o do cinema contemporâneo, com os seus encantos e contradições. Um festival de cinema, nos dias de hoje, tem que ser uma janela aberta para o futuro. Por isso, gostamos de ser um laboratório das experiências novas que os cineastas nos vão oferecendo. Só assim se descobrem milagres cinematográficos que nos fazem acreditar que o cinema ainda pode ser uma arte livre e humana". Palavras do diretor artístico Daniel Ribas, um dos responsáveis pela muito bem-vinda retrospetiva de Margarida Cordeiro e António Reis, pela aposta na média-metragem simpática Ainda Tenho Um Sonho ou Dois - A História dos Pop Dell'Arte, de Nuno Duarte e pela secção Transmission, que este ano revela Escola do Rock, documentário de Amadeu Pena da Silva ou o aguardado Ryuichi Sakamoto- Aysing at The Park Avenue Harmory, entre outros.

O PortoPostDoc não tem vedetas internacionais nem jurados mediáticos. Não precisa, é um festival da descoberta. O festivaleiro no Porto está numa festa de partilha. E segundo Daniel Ribas, é um festival que está a crescer passo a passo: "Achamos que já chegamos a um ponto interessante, mas é óbvio que queremos sempre um pouco mais. O novo financiamento do ICA possibilita outras aventuras, mas é ainda um terço do financiamento de outros festivais próximos de nós, como o DocLisboa ou o Curtas Vila do Conde". Para já, esta semana, uma coisa é garantida, os 130 filmes aqui mostrados são um exemplo de programação de luxo de cinema de autor.

PortoPostDoc

Deste sábado a 2 de dezembro no Rivoli, Trindade, Passos Manuel, Planetário do Porto, Escola das Artes, Belas Artes

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