Os Pogues fizeram "uma das mais belas canções de Natal", agora são acusados de discriminação

<em>Fairytale of New York</em> foi lançado há 31 anos e a imprensa considerou-a sempre "uma das mais belas canções de Natal de todos os tempos". Agora, a letra está a levantar polémica.
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Primeiro aparece Shane McGowan ao piano, e o som ali é calminho. Kirsty MacColl responde-lhe no mesmo tom, estão a falar daquela noite de Natal embriagada em que se conheceram em Nova Iorque. E que se beijaram num canto e dançaram a noite toda no meio de bêbedos.

Começa a festa, com os rapazes do coro da polícia nova-iorquina a cantar uma cantiga irlandesa (os polícias da cidade são sempre irlandeses) e os sinos a dobrarem pela noite de Natal.

E depois - antes de voltarem à festa, e ao coro dos polícias, e aos sinos - vem uma zanga. São presos, ela chama-lhe vadio, ele chama-lhe rameira e pode bem ser que ambos tenham razão. A meio da letra ela também lhe chama faggot, versão americana para "panilas". E é por isso que agora as coisas estão como estão.

Passaram 31 anos desde que os Pogues lançaram Fairytale of New York, uma cantiga que conta a história de dois vagabundos que interrompem a lástima dos seus dias para viver um amor de Natal.

Na Irlanda, terra de origem da banda, estalou nesta semana uma polémica, quando um locutor da rádio nacional pôs em causa o uso da expressão "faggot" na canção, alegando que era linguagem imprópria e ofensiva para a comunidade LGBT.

"Perguntei a dois colegas gays o que achavam disto", escreveu Eoghan McDermott num tweet que entretanto já apagou. "Um achava que se devia censurar, outro disse que se devia simplesmente banir a canção. Nenhum deles gosta da música. A expressão não tem nenhuma utilidade social e deve sair."

Nas horas seguintes, as redes sociais explodiram, com gente a apoiar a ideia de que a frase era homofóbica, e com outra a chamar ao locutor de rádio e seus seguidores a "brigada do politicamente correto".

Tanto que o próprio vocalista Shane McGowan veio a público responder à polémica: "A palavra foi usada pela personagem, porque cabia no seu tipo de discurso", disse num comunicado da sua editora, a Virgin Media.

"Não é suposto que ela seja uma mulher simpática ou sequer salutar. É uma mulher de uma certa geração, num certo momento da sua história em que a sorte se esgotou e ela está desesperada."

Já em 2007, a BBC tinha apagado a expressão das suas emissões, para que os ouvintes mais suscetíveis não a ouvissem. A RTÉ, entretanto, demarcou-se do seu locutor, dizendo que não baniria nem limitaria a canção.

Eoghan McDermott também já deu a polémica por encerrada, dizendo que percebia os argumentos mas queria levantar uma questão pertinente.

Fairytale of New York está na lista das melhores canções de Natal da BBC, da RTÉ, da VH1, da NME, do Channel Four ou da Rolling Stone. Kirsty MacColl, a vocalista feminina que profere a palavra que agora criou polémica, morreu em 2010 quando um barco embateu contra o seu peito enquanto ela mergulhava com a família numas férias no México.

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