Operação Fronteira – o prazer de ficar com a respiração cortada

Provavelmente, a mais ambiciosa produção da Netflix. <em>Operação Fronteira/Triple Frontier</em> é um thriller que nos agarra pelos colarinhos. Um acontecimento hoje em streaming, com Ben Affleck e Oscar Isaac.
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Atualizar o clássico de 1948 de John Huston, O Tesouro da Sierra Madre, sem cowboys mas com soldados americanos num contexto moderno. Este foi o desafio inicial de Mark Boal que escreveu este guião para Kathryn Bigelow, cineasta que acabou por passar o projeto a J.C. Chandor, cineasta da nova geração que impressionou meio mundo com o filme anterior, o majestoso Um Ano Muito Violento (2014). Aliás, Chandor chega ao projeto e mete o seu nome na autoria do argumento.

A história de cinco membros do exército americano que numa missão não oficial vão executar um perigoso barão da droga numa selva da América do Sul. Além de um "cachet" não oficial, estes cinco mercenários metem-se na missão pela promessa de levar a fortuna do cartel. E dito e feito. O esconderijo do criminoso latino está forrado com notas que ultrapassam os 150 milhões de dólares. O problema é sair de lá com os sacos de dinheiro...

A partir da primeira meia-hora, a intriga dedica-se essencialmente às peripécias deste grupo em regressar a casa com a fortuna, incluindo um voo que se despenha em plenas montanhas dos Andes e a crescente desconfiança entre eles.

Triple Frontier é o que se pode chamar de exemplo de novíssima geração de filme de ação, uma espécie de Os Mercenários /Expendables com neurónios. Adulto e com densidade psicológica, é ainda um espetáculo com uma escala grande, porventura uma das maiores apostas de sempre dos Netflix Originals, ainda que inicialmente tenha sido pensado para ser um "blockbuster" da Paramount, com Tom Hanks, Will Smith, Johnny Depp e Tom Hardy.

Na encarnação da Netflix os escolhidos foram Ben Affleck, Charlie Hunnam , Oscar Isaac, Garret Hedlund e Pedro Pascal, todos eles perfeitos para dar vida a máquinas de guerra com fraquezas humanas e com arcos dramáticos bem trabalhados.

O que é verdadeiramente imponente no trabalho de Chandor, além da caracterização psicológica destes soldados em perdição moral, é a forma como mistura ingredientes de um típico filme de Hollywood de aventuras com um discurso político que alude para o imperialismo americano quase terrorista. Em última instância, estes cinco mercenários matam e roubam num país da América do Sul supostamente a bem da guerra às drogas. Tal como em Sicario, fica uma reflexão sobre os conflitos ideológicos da presença militar do exército americano em países desta região. Uma história com um longo passado.

Pena só que Boal e Chandor não consigam no último terço serem mais subtis no "pathos" do conto sobre a ganância humana. Mas Operação Fronteira tem os "timings" certos nas regras de filmar ação em contexto de guerra e selva. O diretor de fotografia Roman Yasnanov consegue tirar partido de uma sensação de estarmos reféns da selva da América Latina e, sem grande esforço, o filme passa bem do registo de missão de golpe para a história de sobrevivência humana, nomeadamente a partir do momento em que os homens têm de sobreviver nas geladas montanhas dos Andes.

Tal como em Quando tudo Está Perdido, aquele drama com Robert Redford sozinho e perdido no oceano, Chandor assina outra peça de cinema físico e com um diálogo entusiasmante com a natureza, embora o que salte mais ao olho seja seja a forma como encena a degradação da natureza humana. E, já agora, com uma adrenalina que mexe connosco.

Em Portugal está agora disponível no streaming da Netflix mas nos EUA teve direito a um lançamento limitado nas salas, o local ideal para ver este espetáculo de cortar a respiração.

*** estrelas (razoável)

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