Obra de Banksy autodestrói-se depois de ser vendida por 1,2 milhões

Uma das maiores partidas da história da arte
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É uma das obras mais famosas do artista Banksy: chama-se "Girl With Balloon" e uma versão em tela foi leiloada pela Sotheby's esta sexta-feira, em Londres, tendo sido arrematada por 1,042 milhões de libras (1,2 milhões de euros). Mas logo que o martelo assinalou a venda, a obra autodestruiu-se. A moldura escondia uma destruidora de papel, que foi ativada nesse momento.

A imagem partilhada por Banksy mostra a surpresa das pessoas no local, face a uma partida que está a agitar o mundo da arte. "A ir, a ir, foi", escreveu o artista na legenda.

"Parece que fomos Banksy-ados," disse Alex Branczik, da Sotheby's, citado no Financial Times. "Estamos a tentar perceber o que isto significa no contexto do leilão", acrescentou.

O jornal diz ainda que não é claro se a partida vai desvalorizar ou aumentar o valor da obra. "Já falámos com o comprador que ficou surpreendido. Estamos a discutir os próximos passos", disse a Sotheby's ao FT.

"Girl With Balloon" tornou-se popular depois de ter aparecido numa parede em Shoreditch, no este de Londres. Deu origem a milhares de reproduções e esta, do próprio Banksy, foi pintada com spray e acrílico em tela. Mas o artista urbano que começou a pintar paredes parece não se ter rendido completamente ao mundo das galerias, leilões e museus - apesar de já ter sido votado como o mais popular no Reno Unido.

A identidade do artista conhecido como Banksy não é conhecida, embora seja alvo de muita especulação. Ficou famoso pelos seus graffiti, poéticos mas também marcados pela sátira e crítica social.

Há um quase consenso no mundo das artes de que Banksy tenha nascido nos arredores de Bristol, em Inglaterra. Quase tudo o resto é especulação. Como o próprio disse uma vez em entrevista que considerava o trabalho de 3D, ou Robert Del Naja, uma das suas inspirações, nasceram rumores de que Banksy era ele, um dos fundadores dos Massive Attack.

A teoria ganhou força em 2017, com vários jornais a estabelecerem paralelos entre as digressões da banda de trip-hop e as obras que apareciam nas paredes das cidades. Mas nunca houve confirmação oficial.

Certo é que Bansky há muito que deixou de ser o rapazinho de calças de ganga, correntes e brincos de prata, e ar jovial com que Simon Hatteston, jornalista do Guardian, o descreveu há 15 anos. Banksy é hoje um homem de meia-idade, não que isso o faça um milímetro menos rebelde.

Esta imagem de 2015 é bem prova disso. Um mural sobre a Palestina, feito em 2015 após uma viagem do artista àquele território. Impregnado de crítica social, mas compreensível o suficiente para agradar às massas. Assim é Banksy.

Certo é que este homem, seja lá ele quem for, é considerado hoje um ícone cultural britânico. Mesmo que ninguém saiba quem ele é, Banksy é tão popular como a rainha ou Lady Di, os Blur ou - quase, vá - os Beatles.

A sátira e a mordacidade têm nele uma das mais poderosas assinaturas deste século. E vejam bem a piada: Banksy vendeu uma obra por um balúrdio e depois destruiu-a. Há cinco anos, fez precisamente o contrário: instalou uma banca em Central Park e vendeu dezenas de obras suas a 60 dólares - que afinal valiam centenas de milhares cada uma.

Mas há um certo conforto na forma como Banksy nos faz sentir desconfortáveis. Teremos sempre ele para nos tirar o tapete.

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