Netflix retira cena de suicídio da primeira temporada de 'Por Treze Razões'
Dois anos depois da estreia, a Netflix decidiu retirar a cena do suicídio de Hannah da primeira temporada da série Por Treze Razões.
Quando a série estreou, em 2017, foi bastante aplaudida por promover o debate e a tomada da consciência de vários problemas que afetam os jovens, desde o bullying à auto-mutilação passando pela violência sexual. Mas também houve várias críticas ao facto de a série mostrar o suicídio como uma solução plausível.
Ouvida pelo DN, na altura, Maria Azenha, ex-vice-presidente da SOS Voz Amiga - linha que apoia pessoas com problemas de solidão, dependências, em risco de pôr fim à vida - afirmou que "é positivo, com algumas reservas, levantar o tema do suicídio", que "ainda é um estigma". Mas o modo como é apresentado na série da Netflix, levanta muitas questões: "Tem cenas gráficas muito violentas, que vistas por um adolescente ou uma pessoa em fragilidade emocional, podem despertar comportamentos de imitação".
Durante a série, criticou Maria Azenha, "nunca é apresentada uma alternativa para o suicídio, um caminho de esperança". Além disso, prossegue, "as cassetes são cartas de suicídio atirando as culpas para os outros, como se fosse um ato de vingança". Hannah "vem conduzir a uma glorificação do suicídio", está associada a uma "figura de herói". Um dos riscos, explica, é que os adolescentes podem confundir "realidade com ficção". "Há uma tendência para romantizar."
Os produtores defenderam a inclusão da cena, apesar de terem recebido inúmeras mensagens de protesto, quer de especialistas quer de escolas que alertavam para o facto de vários adolescentes revelarem sinais de ansiedade e depressão depois de terem visto Por Treze Razões.
Devido a toda a discussão, a série passou a ter, na segunda temporada, um aviso no início de cada episódio que incentiva os jovens a procurar ajuda caso estejam a passar por alguns dos problemas abordados na série: "No minuto em que começares a falar, as coisas ficam mais fáceis".
Agora, a plataforma diz que tomou a decisão de eliminar a cena do suicídio seguindo "o conselho de especialistas em medicina" e depois de analisar "todo o debate sobre a série", cuja terceira temporada estreia em 2020. A nova versão, que já está disponível, não tem a cena de três minutos em que a personagem Hannah (interpretada por Katharine Langford) se suicidava, de uma forma considerada demasiado explícita, passando diretamente para a cena seguinte, em que o corpo dela é encontrado.
O criador de Por Treze Razões, Brian Yorker, deixou uma mensagem no Twitter explicando que era sua intenção fazer uma série que "ajudasse os espectadores jovens a sentirem-se vistos e ouvidos, e encorajasse a empatia em todos os outros espectadores". "O nosso objectivo criativo ao retratar a realidade feia e dolorosa do suicídio de maneira tão graficamente detalhada, na primeira série, era dizer a verdade sobre o horror de tal ato, e garantir que nunca ninguém desejaria imitá-lo", escreveu. No entanto, os autores da série ouviram os conselhos da médica Christine Moutier, da Fundação Americana para a Prevenção do Suicídio e de outras instituições, e concordaram com a possibilidade de a cena ser reeditada pela Netflix.
"Nenhuma cena é mais importante do que a vida da série e do que a mensagem que devemos tomar conta uns dos outros", disse Brian Yorker, que acredita que esta alteração irá fazer com que a série ajude ainda mais pessoas, sobretudo os espectadores mais vulneráveis.
Baseada no livro de Jay Asher, publicado em 2007, Por Treze Razões conta a história de um jovem, Clay, de 17 anos, cuja melhor amiga, Hannah, se suicidou. Ele encontra uma caixa com cassetes que ela gravou, em que explica motivos que a levaram ao desespero - desde a cultura de mexericos do liceu ao abuso sexual, passando pela falta de apoio dos amigos e da escola.