Morreu o "Brad Pitt de Vanuatu", que chegou a estar nos Óscares
Era conhecido como o "Brad Pitt de Vanuatu", alcunha que lhe chegou depois de ter sido escolhido para protagonizar o filme Tanna, de 2015, que chegou a entrar na corrida ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro. Agora, os responsáveis do filme anunciaram que Mungau Dain morreu em Port Vila, a capital do Vanuatu, na sequência de uma infeção numa perna que não foi tratada.
"Estamos devastados por saber da morte repentina hoje [sexta-feira] do nosso querido amigo Mungao Dain. Nós e tanta gente em todo o mundo conhecemos e adorávamos o Dain, o seu humor atrevido, as suas danças, como tocava flauta, o seu espírito generoso", anunciou a página de Facebook do filme Tanna, realizado por Martin Butler e Bentley Dean. Dain ainda não tinha 30 anos e deixa dois filhos pequenos.
Tanna - que é uma ilha do Pacífico mais conhecida pelo seu vulcão - foi o primeiro filme a ser rodado inteiramente no arquipélago do Vanuatu e foi rotulado como uma espécie de Romeu e Julieta. Relata a história verídica de dois membros de tribos diferentes que se apaixonaram, na década de 1980, e foram impedidos de casar, numa sociedade com crenças e regras culturais muito rígidas, em que os casamentos combinados dentro da tribo representam um papel fundamental na estabilidade social. O casal acabou por se suicidar, o que abalou fortemente a comunidade local na altura.
"Eles questionaram-se sobre o que podia levar a alguém a matar-se", explicou Bentley Dean à BBC no início de 2017. "Não havia precedentes de pessoas que se suicidavam por amor". A verdade é que esse foi apenas o primeiro de muitos casos que se sucederam de suicídios de pessoas que eram impedidas de casar por amor, o que obrigou à mudança das regras tribais. Hoje, o número de casamentos arranjados caiu para metade.
O filme acabou por não ganhar o Óscar mas conquistou, por exemplo, dois dos prémios mais importantes do Festival de Veneza em 2015 - de fotografia e da crítica. O elenco era todo constituído por membros da tribo local Yekal e Dain foi escolhido para ser o protagonista pelo próprio chefe da aldeia, que o selecionou pelo seu bom aspeto. "Chamavam-lhe o Brad Pitt de Vanuatu", conta Janita Suter, produtora e coargumentista do filme.
Suter e Dean são casados e mudaram-se durante sete meses para Vanuatu durante as filmagens, onde acompanharam o dia-a-dia da tribo. Mas não foram os únicos a viver desafios culturais. Durante a promoção de Tanna, Dain e outros membros do elenco puderam viajar para Los Angeles, Veneza e para a Austrália, onde ficaram em casa do realizador e da produtora. "Os nossos filhos pequenos davam-se muito bem com ele. Ele levou-os em todos os tipos de aventuras - em quedas de água e coisas do género. Ele era uma alma muito gentil", recorda Bentley Dean ao Guardian.