Maria João Pires: "Nunca reneguei a nacionalidade portuguesa"

De regresso a Belgais e com o projeto do centro de artes reativado, a pianista deu uma entrevista ao <em>Jornal do Fundão</em> em que regressou a 2009, quando o centro fechou, e refletiu sobre o momento atual da sua carreira.
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"Voltei porque tinha muitas saudades da casa. Principalmente por isso. E depois tinha uma grande vontade de fazer os meus próprios projetos e não só as coisas que vinham das ideias dos outros", diz Maria João Pires naquela que é a sua primeira entrevista desde que regressou a Belgais, em Castelo Branco, ao centro de artes que criou em 1999 e que terminou em 2009 em dificuldades económicas e entre um processo polémico que envolveu um arresto de bens.

Agora, quase uma década depois, o então Centro Belgais para o Estudo das Artes foi reativado como Centro de Artes de Belgais e ali existem já retiros musicais, cursos internacionais, alojamento e até produção de azeite. Atualmente a dar um ciclo de recitais que começaram em dezembro e se estendem até maio, no próprio Centro de Artes de Belgais, Maria João Pires, que em 2017 anunciou que deixaria de fazer digressões, é clara em relação ao que a fez regressar. "Regresso a Belgais para recriar o projeto artístico, para que seja um espaço de partilha com as pessoas, de criação, sem que isso tenha uma conotação comercial."

Ao Jornal do Fundão, a pianista explica que o fim daquele projeto artístico e educativo, que envolveu queixas por falta de apoio do Governo e um processo judicial com quatro ex-funcionários, a deixou "exausta". "Fiquei magoada com a injustiça das afirmações que fizeram, com acusações extremamente injustas que não correspondiam à verdade", afirmou, dizendo também nunca se ter queixado "da falta de apoio do Governo". "Queixei-me de falta de interesse, não de apoio que existiu em termos financeiros. Falo do interesse geral, com exceção da região que sempre me apoiou no projeto."

Quando a jornalista lhe diz que "chegou a exprimir vontade em renegar à nacionalidade portuguesa", Maria João Pires responde: "Nunca o fiz e nem nunca tive nacionalidade brasileira, como se disse quando vivi no Brasil. Há 40 anos que tenho dupla nacionalidade suíça e portuguesa."

A pianista, nascida em Lisboa a 23 de julho de 1944, explica que nesta sua nova vida Belgais está a tentar sobreviver "sem ajudas nenhumas" e que entre os planos para o futuro está a vontade de "repor o estúdio de gravação e começar a fazer discos aqui". "Gostava de gravar ainda alguns discos de obras que ainda não gravei. E gostava de fazer coisas em conjunto e em parceria com a comunidade. Todos nós temos talentos. Acho é que uns têm mais oportunidades que outros", acrescenta.

Maria João Pires diz que está "definitivamente a viver" em Belgais e conta que vai ao piano todos os dias, "pelo menos meia hora"."Acredito que a minha missão não é só encher salas de concertos. Eu já fiz isso. É sim transmitir a minha experiência de vida e partilhar tudo isso com as pessoas mais novas."

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