ESTREIAS: Sylvester Stallone regressa como Rocky Balboa
Será desta que a personagem do pugilista Rocky Balboa vai desaparecer dos ecrãs? Quem o disse foi o seu lendário intérprete, Sylvester Stallone, depois de concluir Creed II, a sequela em que regressa como treinador do jovem Adonis Creed (Michael B. Jordan). Convenhamos que é uma decisão sensata: a personagem já não supera o seu próprio envelhecimento. Além de ser francamente menos interessante que o primeiro Creed (2015), esta realização de Steven Caple Jr. não consegue mais do que imitar (mal) os pressupostos espetaculares dos primeiros títulos da série Rocky, lançado em 1976.
Esta é, sobretudo, uma semana para descobrir alguns dos títulos que marcaram as duas últimas edições do Festival de Cannes.
O mais "atrasado" (porque passou na Côte d"Azur em 2017) é O Amante Duplo, de François Ozon. Reencontrando Marine Vacth, a sua revelação de Jovem e Bela (2013), Ozon continua a explorar labirintos "hitchcockianos" do amor e da sexualidade. Os resultados são menores no interior da sua filmografia, mas não há dúvida que ele é dos poucos que continua a afirmar essa filiação no mestre do suspense, afinal filtrada pela herança de François Truffaut, mestre francês que, não por acaso, nos legou um precioso livro biográfico (em formato de entrevista) sobre Hitchcock.
Da competição de Cannes/2018, o destaque vai necessariamente para Dogman, de Matteo Garrone, retrato de um universo socialmente degradado que reforça a ideia de que há no atual cinema italiano um enérgico impulso criativo que não esqueceu as virtudes de uma imensa e multifacetada tradição realista.
A não esquecer também O Mistério de Silver Lake, de David Robert Mitchell, sofisticada tentativa de revitalizar toda uma herança do chamado "film noir". Mesmo considerando que os resultados estão marcados por um formalismo algo fácil, convém não esquecer que Mitchell é um cineasta empenhado em revalorizar o trabalho dos atores, neste caso com destaque para Riley Keough (que vimos, por exemplo, em Sorte à Logan, de Steven Soderbergh) e Andrew Garfield.
Ainda de Cannes, mas neste caso, da secção de Clássicos, importa descobrir aquele que é, por certo, um dos documentários mais brilhantes que se fizeram para assinalar o centenário do nascimento de Ingmar Bergman (1918-2007). Chama-se Bergman - Um Ano, uma Vida, tem assinatura de Jane Magnusson e organiza-se a partir de um original pressuposto informativo. Magnusson parte das memórias do ano de 1957 - marcado por dois filmes emblemáticos: O Sétimo Selo e Morangos Silvestres -, para construir uma memória de muitos e sugestivos ziguezagues temporais. Do fulgor cinematográfico ao fundamental labor teatral, redescobrimos Bergman em todas as frentes, da vida profissional aos sobressaltos do espaço familiar.