Casa Manoel de Oliveira dá a ver histórias de refugiados

A guerra, as migrações e os problemas dos refugiados são temas para um ciclo apresentado pela Casa do Cinema Manoel de Oliveira, em Serralves - oito filmes para aprofundar o conhecimento de um drama contemporâneo.
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Inaugurada há cerca de três meses, a Casa do Cinema Manoel de Oliveira (Fundação de Serralves, Porto) surgiu como um espaço capaz de transcender a simples inventariação de memórias cinematográficas. Sem menosprezar tal vocação, o seu trabalho envolve também uma importante área de programação, agora exemplificada por um ciclo de inequívoca importância temática e simbólica: "Um Lugar sobre a Terra: o Cinema da Hospitalidade" (dias 21 a 23).

Estamos perante um exemplo de uma linha de programação (a que foi dada a designação de "Estetoscópio") com um objetivo primordial: "auscultar um cinema que, no cruzamento com a estética, a política e a sociologia, se confronta com os dilemas do presente." Tendo em conta a desvalorização crítica do cinema - e do pensamento cinematográfico - todos os dias promovida pelas formas mais poderosas do marketing do "entretenimento" (quase sempre ignorando os valores das mais nobres tradições populares que a história do cinema contém), eis uma proposta que importa enaltecer. Neste caso, tanto mais quanto se trata de refletir "sobre o modo como a guerra, as migrações e os problemas dos refugiados têm sido tratados no cinema contemporâneo."

São seis filmes resultantes de uma seleção da responsabilidade de Nicole Brenez, ensaísta e programadora de cinema de vanguarda na Cinemateca Francesa. Para além da complexidade dos respetivos contextos sociais e políticos, são trabalhos que nos recordam a importância, de uma só vez informativa e moral, de conhecer e pensar tais contextos sem os reduzir às imagens quase sempre breves e aceleradas de muitos circuitos mediáticos.

A apresentação dos filmes será precedida, no sábado (dia 21, 18.00) por uma conversa entre Nicole Brenez e António Preto, diretor da Casa do Cinema Manoel de Oliveira. Os oito filmes programados estão distribuídos por seis sessões:

Sábado, 19.00:
- La Nuit Remue (2012), de Bijan Anquetil - Retrato íntimo da amizade de dois jovens afegãos, exilados em Paris, reavaliando as suas experiências de vida; o realizador, nascido na capital francesa, é filho de um pai francês e uma mãe iraniana.

Sábado, 22.00:
- Newsreel 63 - The Train of Shadows (2017), de Nika Autor - Produção originária da Eslovénia que, aplicando uma lógica tradicional de actualidades cinematográficas, propõe um inventário dos cruzamentos da história dos comboios com a memória dos refugiados
- 1968: Un Archivo Ciego (2014), de Bani Khoshnoudi - Uma revisitação das revoltas estudantis no México ao longo do ano de 1968 (há ecos desses eventos no filme Roma, de Alfonso Cuarón); a realizadora nasceu em Teerão, vive e trabalha no Texas.

Domingo, 18.00:
- Meishi Street (2006), de Ou Ning - Conhecemos as transformações urbanas de Pequim para os Jogos Olímpicos de 2008 através do filme 24 City, de Jia Zhang-ke. Neste caso, esse processo é evocado através de imagens recolhidas pelos próprios cidadãos que lutaram pelo direito à habitação.

Domingo, 22.00:
- Regardez Cher Parents (2009), de Mory Coulibaly - Imagens da evacuação de um ginásio ocupado por refugiados em Cachan, nos subúrbios de Paris, em 2006; o realizador, ele próprio um refugiado, abandonou a Costa do Marfim após o golpe de estado de 1999.
- Le Pendule de Costel (2013), de Pilar Arcila - Testemunho documental sobre as movimentações da família da própria realizadora, originária da comunidade cigana da Roménia: uma saga através de cenários do seu próprio país, e também da França e Suíça.

Segunda-feira, 18.00:
- Les Sauters (2016) - Documentário sobre os refugiados que vivem no norte de Marrocos, no enclave espanhol de Melilha; a autoria é repartida por três realizadores: Moritz Siebert, Estephan Wagner e Abou Dakar Sidibé, nascidos, respetivamente, na Alemanha, Chile e Mali.

Segunda-feira, 22.00:
- Iraqui Short Films (2008), de Mauro Andrizzi - A Guerra do Iraque vista por dentro: nascido na Argentina, o realizador recolheu e montou uma coleção de pequenos videos (quase sempre de telemóvel) feitos por soldados, membros de milícias, trabalhadores de empresas privadas e rebeldes.

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