O Prazer, Tempo e Desilusão ganham forma humana e lutam pela alma de Beleza num jantar de Natal. Isto é o que acontece na “oratória” Il Trionfo del Tempo e del Disinganno de Georg Friedrich Händel, que chega ao Teatro São Luiz, em Lisboa, com uma produção do Teatro Nacional São Carlos. Estará em cena a partir desta quarta-feira e até este domingo.O autor desta obra, Georg Friedrich Händel , escreveu-a em 1707 para um libreto em italiano do Cardeal Benedetto Pamphili. Este foi ainda sujeito a duas revisões: uma em 1737 e outra em 1757. Pouco se sabe sobre a estreia deste trabalho e quem foi o elenco original.O Teatro Nacional São Carlos decidiu dar vida a esta obra por nunca ter sido trazida para Portugal e pela sua facilidade de deslocamento. “Nós estamos numa época um bocado complicada, com o facto de não termos casa. E, portanto, estamos a apostar em produções de ópera que sejam fáceis de deslocar de Lisboa. Esta oratória é mais económica do que uma ópera, porque uma ópera são mais personagens. E assim também é uma boa hipótese de trazer uma peça que nunca foi vista em Portugal”, diz ao DN o maestro João Paulo Santos, responsável pela programação do Teatro São Carlos.O maestro João Paulo Santos relembra que no século XVIII oratórias como estas eram criadas por razões religiosas. “Se formos à essência que levou Händel a escrever isto, a ideia é termos de abandonar todas as leviandades e nos entregarmos a Deus”. No entanto, o conteúdo dos textos consegue transformar a mensagem dos mesmos. “É precisamente o que as encenações nos podem dar, não desvirtuam em nada o sentido do texto, mas trazem-lhes uma maneira diferente de olhar para estas figuras”. A encenação é da responsabilidade do italiano Jacopo Spirei, que já trabalha com o Teatro São Carlos há alguns anos. Para o encenador, esta peça levanta questões importantes e atuais para os dias de hoje. “A personagem da Beleza, que representa a juventude, de certa forma, é puxada entre duas forças. Uma é o Prazer e a outra é o Tempo e a Desilusão. E o dilema está entre planear a vida, dedicar a sua vida a um bem maior, ou viver a nossa vida ao máximo e aproveitar cada momento em que podemos viver neste planeta” explica. Nesta peça as personagens são colocadas em contexto familiar e num jantar de Natal, existindo um conflito de gerações sobre as temáticas levantadas. “Acho que as dinâmicas de família são transculturais. A forma como vivemos com os nossos pais, como discutimos assuntos e como todos somos forçados a ter um Natal juntos. Isso acontece em todos os lugares do mundo”, acrescenta. .Um pormenor que Jacopo Spirei destaca nesta obra é o facto de a personagem Prazer dizer que se ficarmos sempre ansiosos, não vamos conseguir viver a nossa vida. “Isso é muito verdadeiro. E é algo que descobri mais tarde na vida. É muito curioso, porque isso é sobre juventude, mas descobri como apreciar as pequenas coisas mais tarde”.Mas a interpretação fica ao trabalho do público. “O que nós fizemos aqui foi olhar para as perguntas e deixar cada membro do público dar sua própria resposta. Nós criámos um espetáculo que é divertido e que dá o espaço suficiente para diferentes respostas”, acrescenta o encenador. Relativamente à parte musical, João Paulo Santos acrescenta que a maior dificuldade é em termos vocais, porque as obras de Händel eram feitas à medida, seguindo os cantores que tinham à disposição. “Händel normalmente trabalhava em sítios muito importantes e o Sr. Cardeal tinha à sua disposição vários músicos”. O elenco conta com Eduarda Melo, Ana Vieira Leite, Cátia Moreso e Marco Alves dos Santos, que são acompanhados pela Orquestra Sinfónica Portuguesa. O espetáculo é em italiano com legendas em português. Esta produção irá passar também por Braga. No entanto, o desejo é que seja representada mais vezes. “Nós gostávamos que para o ano se voltasse a repetir, pelo menos em mais um ou dois sítios, de maneira a rentabilizar artisticamente a produção”, sublinha o maestro João Paulo Santos. O preço dos bilhetes variam entre 12 e 25 euros.