Iberanime. Viagem pela Cultura Pop Japonesa num fim de semana
O festival de cultura pop japonesa Iberanime, regressou a Lisboa e chamou centenas de visitantes ao pavilhão 2 da Feira Internacional de Lisboa. O recinto encheu-se de cosplayers, gamers, fãs de animes e mangás.
"É muito entusiasmante. Acho que estávamos todos um bocadinho em pulgas para organizar este evento porque foram dois anos quase de organização com frustração de não termos conseguido executar o ano 2020, depois o mesmo aconteceu em 2021. Portanto, 2022 é o grande ano e estamos super orgulhosos e satisfeitos", afirmou André Manz, organizador do Iberanime, em conversa com DN no decorrer do evento.
Às dez horas da manhã de sábado a fila para entrar no pavilhão já ia extensa. Começava na entrada do recinto até à zona de restauração perto do rio Tejo com um tempo de espera de hora e meia a duas horas.
Ao entrar no pavilhão, tudo aconteceu ao mesmo tempo. Do programa de dois dias tinha desde concertos, como a banda Gaijin Sentai, brasileiros que cantam e tocam música pop japonesa, aos workshops sobre gaming e saúde mental.
O nome anime refere-se a animação japonesa e mangá é o nome utilizado para designar banda desenhada japonesa. Já a arte do cosplay é quando através de maquilhagem e vestuário alguém se veste de uma determinada personagem.
Do lado esquerdo da entrada, encontrava-se a avenida dos artistas, um lugar em que pequenos negócios puderam vender os seus desenhos em formato de autocolantes, porta-chaves, marcadores de livros, etc. Uma das bancas pertencia a Tomás Sousa, que conseguiu lugar através de um concurso lançado pelo evento. Com autocolantes e prints de desenhos de diferentes animes que deu a conhecer o seu trabalho.
"Nas últimas semanas como sabia que era para um evento de anime aproveitei a oportunidade para fazer mais personagens que achei serem relevantes e que as pessoas se pudessem relacionar mais. Por isso, decidi desenhar mais personagens de anime e de jogos", explicou o artista.
"Eu vim mais pelo ambiente, pelos artistas e pelas pessoas que já me seguem nas redes sociais e já conhecem o meu trabalho enquanto artista", acrescentou.
Na última banca desta avenida estava Sérgio Clemente, rodeado dos seus quadros de personagens de animes, de filmes da Marvel e de Star Wars. A sua juventude foi passada com o anime do Dragon Ball e por essa razão é personagem que faz mais trabalhos, depois "vieram os outros".
Com 44 anos, já faz feiras e eventos desde 2019 para vender e divulgar o seu trabalho. "Eu gosto mais é do contacto com o público e como podem ver as minhas obras ao vivo é bem diferente de ver online, dão outro valor."
Saindo da avenida dos artistas, espalhados por um único pavilhão estavam espalhados lojas de merchandising e bancas de diferentes atividades.
Isabelle Rios veio de Espanha para a FIL vender peluches e figuras de anime. O gosto por Lisboa e gosto pela cultura pop japonesa atrai-a para este mundo. "Eu gosto deste tipo de coisas porque é muito engraçado conhecer novas pessoas. Só acho que os bilhetes são um bocado caros, em Espanha é mais barato do que aqui."
Já o casal de portugueses, Luís Moreira e Ilda Pacheco, apostaram numa banca dedicada a jogos mais clássicos e antigos como Nintendo DS que se misturam com algum merchandising mais atual como figuras Funko Pop. Desde das primeiras edições que marcam presença no Iberanime e foi com estas feiras que mais tarde lançaram a sua loja.
"Temos uma loja de retrogaming e merchandising. Adoramos o ambiente que se gera e este convívio também de conhecer outros fornecedores. No dia-a-dia nós não vivemos isto. O que nos atrai também é ver esta diversidade de personagens", explicou Ilda Pacheco.
No meio de bancas de merchandising, e de uma onde se faziam tatuagens, havia uma área dedicada a videojogos. Um dos stands presentes era onde estava Guilherme Alves, um dos streamers (creadores de conteúdo de videojogos em redes sociais como youtube e twitch) de jogos. Aqui, os visitantes podiam sentar-se e experimentar diferentes consolas. "Independentemente de ser um evento assim mais ligado a animes e mangás. Acho sempre importante ter a área de jogos", referiu.
Ainda dentro dos videojogos, realizou-se um workshop de gaming e saúde mental, onde quatro médicos, que também estão ligados aos videojogos, levantaram a questão de qual é o limite e a dependência no gaming.
Por sua vez, a Embaixada do Japão esteve também presente com vários stands com informações sobre programas de estudo no país e de como aprender a língua japonesa. Nessa zona, encontrava-se também um workshop de Origami e uma banca onde se podia escrever o nome em japonês.
Sendo um evento de cultura pop japonesa, os participantes normalmente são fãs de anime, mangá, gaming e cosplay. Para André Manz, organizador do Iberanime, este é um evento generalista mas que toca em áreas muito particulares. "Cada vez mais há capacidade para mobilizar outro tipo de público para este evento porque todos nós de alguma maneira estamos ligados com a cultura pop ou porque crescemos a jogar videojogos ou porque crescemos a ler banda desenhada. Acho que toda a gente uma vez na vida devia experimentar vir ao Iberanime", comentou.
De casaco rosa, pintura de corpo azul e peruca também rosa, Marta Canedo vestia a pele de Akaza, antagonista do filme de Demon Slayer: Kimetsu no Yaiba, que esteve em exibição nos cinemas portugueses. Visitante habitual do evento, faz cosplay todos os anos. "É uma forma de me exprimir e deitar cá para fora coisas que não são da realidade. Serve um bocado para fugir à realidade e expressar-me o quanto posso."
Daniela Santos é a primeira vez que visitou o Iberanime de Lisboa, tendo participado em edições anteriores do evento no Porto. Vestia as roupas da personagem Sakura, a caçadora de cartas. Este anime chegou a ser transmitido na RTP 1 entre 2001 e 2003 e no Canal Panda de 2004 a 2007. "Acho que fazer cosplay é uma maneira engraçada de abraçar o evento e de nos revelarmos, mostrando aquilo que gostamos. É uma forma de representar uma personalidade que às vezes gostaríamos de ser."
Daniela vê o Iberanime como um espaço onde se pode ser outra pessoa. "É uma boa maneira de conhecermos várias pessoas e saber que há mais pessoas que tem o mesmo gosto que nós que não é de todo estranho como algumas pessoas nos fazem pensar", acrescentou.
É possível encontrar famílias inteiras a participar nas atividades do eventos. É o caso de Xavier Carmo, que veio com os filhos pela primeira vez ao evento. Apesar da sua filha ser a maior fã da cultura pop japonesa na família, o pai partilha o mesmo gosto. "Vim cá porque a minha filha adora manga e desenhos japoneses, mas eu também gosto. Eu sempre vi anime e li mangá quando era miúdo. E Ela para além de ver e ler também faz os desenhos iguais e tudo. Uma das coisas que ela quer mesmo fazer é ir para o Japão estudar desenhos e animação."
Orlando e Anabela Gama foram também pela primeira vez ao evento, sendo que lhes chamou mais atenção foram os cosplays dos outros. "É a primeira vez e estou a adorar. Estes eventos são para inclusão de pessoas diferentes. Ajuda muita gente que se sente excluída a sentir-se bem consigo mesma e incluídos num grupo tão grande", disse Anabela.
Os dois dias do evento acabaram da mesma forma. Ao som da música Daddy de PSY e da música Caramelldansen, milhares de pessoas juntaram-se em frente do palco principal a seguir os passos de dança da mascote vermelha do Iberanime, o IA. Um evento que André Manz considera não existir um momento tão icónico no mundo como este.
A edição do Iberanime no Porto já tem data. O evento vai regressar nos dias 22 e 23 de outubro no Exponor em Matosinhos.