Hollywood, a pandemia e o quinto Beatle
A 93.ª cerimónia promete ser realmente diferente: mais cenários, mais ligações ao exterior e um cineasta, Steven Soderbergh, a integrar a equipa de produção do espetáculo.
Como vai ser a 93.ª cerimónia dos prémios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood? Podemos responder com uma verdade de la Palice, reforçada pela conjuntura pandémica: os Óscares de 2021 (a partir das 23h50, RTP1, com a passadeira vermelha), vão ser bem diferentes do formato tradicional. Desde logo, porque o Dolby Theatre, sala emblemática do espectáculo (desde a sua abertura, em 2001), terá o protagonismo repartido com outro lugar, no mínimo, inesperado: a Union Station, a maior estão ferroviária de Los Angeles, cenário também associado à mitologia de Hollywood através de filmes como Blade Runner (1982) ou O Cavaleiro das Trevas Renasce (2012).
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Aliás, as diferenças começam no trio responsável pela concepção do evento. Além de dois nomes ligados à produção cinematográfica e televisiva, Stacey Sher e Jessie Collins, há um "intruso" que merece destaque. É ele Steven Soderbergh, o realizador de títulos como Sexo, Mentiras e Video (1989), Ocean"s Eleven (2001) ou Contágio (2011), já distinguido com um Óscar de realização por Traffic - Ninguém Sai Ileso (2000).

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A provar que o envolvimento de Soderbergh não será rotineiro, a sua fotografia no dossier de imprensa da cerimónia é deliciosamente desconcertante: enquanto Sher e Collins surgem em convencionais grandes planos de bilhete de identidade, Soderbergh apresenta-se vestido à maneira dos Beatles na lendária capa do álbum Sgt. Pepper"s Lonely Hearts Club Band (1967). Em boa verdade, a pose não é inédita, uma vez que ele já tinha usado a mesma imagem num dossier da Directors Guild (sindicato dos realizadores).
Questionado por Steve Pond, jornalista do site The Wrap, sobre tão insólita escolha, a sua resposta não podia ser mais eloquente: "Eu sou o quinto Beatle."
Numa conferência de imprensa sobre os preparativos, os elementos revelados foram escassos, embora pontuados por uma afirmação sugestiva: mais do que um desfile de estrelas e números musicais, a cerimónia vai "parecer-se com um filme". Como? Tudo indica que através de uma multiplicação de ligações ao exterior (EUA e Europa), de modo a "compensar" o facto de, em princípio, a plateia do Dolby Theatre estar ocupada apenas por nomeados e apresentadores. Soderbergh foi especialmente claro na informação técnica: em vez da utilização do Zoom, susceptíveis dos mais variados percalços, tais ligações serão feitas através de meios televisivos mais fiáveis.

Imagem do projeto do Academy Museum of Motion Pictures
Há dias, o "Variety" revelou as diferenças que irão marcar a apresentação das canções nomeadas. Assim, algumas delas (não se sabe quais) integrarão o espectáculo através de gravações feitas no Museu da Academia - mais exactamente, no telhado do museu. A escolha envolve um calculado simbolismo: o Academy Museum of Motion Pictures tem tido uma história atribulada, primeiro com a inflação do seu orçamento (que terá ficado próximo dos 500 milhões de dólares), depois com os adiamentos da inauguração, primeiro por atraso na construção, depois devido à pandemia - seja como for, a abertura está agora agendada para 30 de setembro.

Oito títulos para o Óscar de Melhor Filme
Este ano a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas escolheu oito títulos, num máximo possível de dez, para o Óscar de Melhor Filme. Eis as outras categorias em que estão nomeados (ordenados pelo número total de nomeações):
MANK (10)
- realização (David Fincher)
- actor (Gary Oldman)
- actriz secundária (Amanda Seyfried)
- som, cenografia, música, caracterização, guarda-roupa, fotografia
O PAI (6)
- actor (Anthony Hopkins)
- actriz secundária (Olivia Colman)
- argumento adaptado, montagem, cenografia
JUDAS AND THE BLACK MESSIAH (6)
- actor secundário (Daniel Kaluuya)
- actor secundário (Lakeith Stanfield)
- argumento original, canção, fotografia
MINARI (6)
- realização (Lee Isaac Chung)
- actor (Steven Yeun)
- actriz secundária (Yuh-Jung Youn)
- argumento original, música
NOMADALAND (6)
- realização (Chloé Zhao)
- actriz (Frances McDormand)
- argumento adaptado, montagem, fotografia
SOUND OF METAL (6)
- actor (Riz Ahmed)
- actor secundário (Paul Raci)
- argumento original, som, montagem
OS 7 DE CHICAGO (6)
- actor secundário (Sacha Baron Cohen)
- argumento original, montagem, fotografia, canção
UMA MIÚDA COM POTENCIAL (5)
- realização (Emerald Fennell)
- actriz (Carey Mulligan)
- argumento original, montagem
dnot@dn.pt
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