A carreira de sucesso de Graham Nash - cantor britânico (mais tarde também americano), guitarrista e autor de canções - teve início aos vinte anos com a criação da famosa banda The Hollies, em parceria com o seu inseparável amigo de infância Allan Clarke. Os dois tinham feito o normal percurso dos miúdos desta idade, iniciando e abandonando vários projetos como os Two Teens (em 1958, emulando os Everly Brothers, que muito admiravam), Ricky & Dane Young (nomes artísticos), The Guyatones (quando adquiriram guitarras elétricas) e finalmente The Fourtones, incorporando bateria, baixo e guitarra solo. Foi a partir desta formação que nasceram os Hollies (cujo nome homenageava secretamente Buddy Holly), levando Nash e Clarke já uma tarimba de quatro anos de palco. As gravações de estúdio sucederam-se, assim como um êxito crescente que levou a banda além-fronteiras, com sucessos como Carrie-Anne ou Stop, stop, stop, escritos em parceria por Clarke, Nash e Tony Hicks..Mas o nome de Nash viria a ganhar notoriedade sobretudo depois de deixar o grupo britânico, em 1968, para integrar um inovador projeto na América, com Stephen Stills (ex-Buffalo Springfield) e David Crosby (ex-Byrds), do que resultou a criação da instantaneamente famosa banda Crosby, Stills & Nash (CSN), em breve convertida em quarteto, com Neil Young (CSNY)..Com estes músicos Nash partilhava a aura de sucesso das respetivas bandas de onde provinham, mas também o desejo ávido de criar algo de novo na efervescente cena musical da época, nomeadamente introduzindo uma importante componente de harmonia vocal - de que todos tinham bastante experiência - que produzia uma magia sonora realmente surpreendente e inebriante. Algumas canções, acompanhadas ou não por guitarras elétricas, bateria, órgão e outros instrumentos, chegavam a ser cantadas a três vozes praticamente desde o início ao fim. Por outro lado, Bob Dylan tinha desencadeado uma revolução no processo de escrita das letras, quebrando as normas do que dizer numa canção ou como o fazer, o que influenciava inexoravelmente os autores de canções da sua geração (e das seguintes também)..Naturalmente que uma banda de estrelas nem sempre é uma constelação estável, nomeadamente quando há um permanente consumo de substâncias tóxicas (fumadas e inaladas) em quantidades referidas pelos próprios como enormes (Nash, Wild Tales, 2013), o que afetava a perceção musical e minava a relação entre os músicos. Por estas e outras dificuldades, o percurso de Nash na América reflete uma variedade de projetos que, no fundo, giravam em torno de uma mesma estética musical e contavam com os mesmos músicos..Rezam as crónicas que o avassalador sucesso do primeiro álbum dos CSN, intitulado precisamente Crosby, Stills & Nash (1969, 4X Disco de Platina e 1 Grammy) - juntamente com a atuação no mítico Festival de Woodstock - determinou que o primeiro álbum dos CSNY, Déjà Vu (1970, 7X Disco de Platina) fosse gravado debaixo de uma enorme exigência musical e pressão comercial. O desgaste que esta fase da carreira produziu nos quatro músicos foi tal que resultou no afastamento entre todos - e temeu-se que fosse o fim dos CSN/CSNY - mas acabou por definir uma espécie de matriz que vigorou ao longo dos mais de cinquenta anos seguintes: a alternância entre projetos a solo, em duo (em praticamente todas as combinações possíveis entre eles) e, consoante as roturas e as reconciliações, na formação inicial CSN ou, mais raramente, como CSNY..Se Nash não se destaca como um excecional instrumentista ou compositor - por comparação com a referência suprema que eram os Beatles - ninguém lhe tira o mérito de ter realmente introduzido originalidade nas temáticas das suas canções, dando inúmeros hits ao grupo, como os clássicos Teach Your Children ou Our House. Quem se lembraria de escrever canções sobre a educação das crianças, ou sobre as doçuras da vida doméstica à lareira, com dois gatos ronronando no quintal? Quem faria uma canção sobre uma viagem de comboio em Marrocos, com encantadores de serpentes a bordo, como o estrondoso sucesso Marrakesh Express? Quem se atreveria a escrever Just a Song Before I Go na meia hora que antecedia a saída de casa para apanhar um avião, instigado pela aposta de um amigo cético?.Por ocasião do lançamento do terceiro LP a solo, Earth & Sky (1980), a revista portuguesa Música & Som (M&S 57) dedica a Graham Nash um artigo em página dupla, salientando os seus sucessos e um pouco do que na época se conseguia saber sobre uma estrela cintilando do outro lado do oceano. Realça a sua sobriedade enquanto autor - I am a simple man/ so I sing a simple song, tal como Nash expressa numa canção - mas espelha também a sua personalidade enquanto ator na cena musical em que decorria a respetiva carreira, dando de facto uma imagem do homem cujos pares têm reconhecido como conciliador, solidário e um verdadeiro gentleman..A fotografia ocupou uma importante parte da vida deste músico, que a ela se dedicou desde a juventude, tendo publicado muito recentemente The Photography of Graham Nash (Titan Books, 2021), onde apresenta uma retrospetiva do seu percurso nesta área ao longo de mais de cinco décadas. Alguns meses antes tinha saído um livro infantil, Our House, baseado na sua canção homónima, revelando a intensa atividade deste jovem que faz 80 anos neste dia 2 de fevereiro e que tem concertos a solo programados até outubro de 2022..Se durante anos se mantinha acesa a esperança de voltar a ver em palco os CSN/CSNY, com o passar do tempo (e o decréscimo das capacidades vocais e instrumentais) essa possibilidade torna-se mais remota. Subsiste o desencanto pela sua precoce saída de cena devido às eternas zangas, ofensas e birras entre os músicos/amigos, que parecem comportar-se como miúdos. A prenda de aniversário de Graham Nash bem podia ser os CSN/CSNY de novo em harmonia..dnot@dn.pt