Exclusivo Finalmente os filmes hibernados
O cinema nacional terá alguns filmes que estavam à espera de melhores dias após o trauma da pandemia. Filmes hibernados que nos trazem o trabalho de nomes como Marco Martins, Vicente Alves do Ó, Edgar Pêra ou Fernando Vendrell. Este vai ser um ano também para reconquistar os grandes festivais.
Ainda há filmes portugueses filhos da covid guardados para 2023. São escolhas dos seus distribuidores e produtores e não será por isso que terão menor impacto. Um deles, Amadeo, biografia do pintor Amadeo Sousa Cardoso, estreia-se já em janeiro e marca o regresso de Vicente Alves do Ó, cineasta de outros biopics (Florbela Espanca, Al Berto), ele que já tem o seu Os Fabelmans rodado - Malcriado, o próximo, é uma espécie de autorretrato e, se houver calendário, também poderá ser visto já este ano. De Amadeo destaca-se o trabalho do seu protagonista, Rafael Morais, sereno e tranquilo a dar corpo e muita alma ao nosso pintor revolucionário. Oportunidade também para ver uma das últimas atuações de Rogério Samora, ator que também estará no elenco de Sombras Brancas (previsto para abril), de Fernando Vendrell, outro dos filmes nacionais feito durante a pandemia. Uma bela evocação ao escritor José Cardoso Pires, brilhantemente interpretado por Rui Morrison. Trata-se de um drama em dois tempos: a recordação da juventude de Pires e o seu processo de recuperação após um enfarte, o que é o mesmo que dizer que é uma adaptação de De Profundis, Valsa Lenta.
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Vendrell filma o fascínio sobre um tempo e um homem. Um filme tão gentil como arriscado - nem sempre toma rumos fáceis. Bem lançado, pode suscitar um entusiasmo relevante perante um dos grandes vultos da nossa literatura. Antes, já em janeiro, dois títulos distintos: Frágil, de Pedro Henrique, e A Noiva, de Sérgio Tréffaut. O primeiro é um mergulho radical sobre as noites de Lisboa e uma perdição de uma certa juventude dos "afters" - parece a sinopse de Verão Danado, de Pedro Cabeleira, mas não tem os mesmos tempos de cinema, enquanto A Noiva é uma viagem até ao mistério que é a vocação de jovens europeus que se converteram em voluntários da causa do Daesh. Esteve no Festival de Veneza, na secção Horizontes, e funciona como uma espécie de consagração para este cineasta, que se recusou a fazer um "filme à Netflix" para construir uma perturbante visão que não dá explicações.