Filmtwist, a plataforma portuguesa sem medo dos gigantes

Diogo Bivar é o português que sonhou em ter uma plataforma cem por cento nacional. Sonhou e conseguiu: a Filmtwist, lançada em abril, está cada vez a crescer mais e tem para a semana exposição na Comic Con Portugal. Streaming que é feito para os fãs do terror e fantasia.

Diogo Bivar, programador de cinema de várias distribuidoras, portuguesas e internacionais, teve uma utopia: será que há público para a primeira plataforma portuguesa? Ainda por cima uma plataforma de cinema de género, o que nestes dias é o mesmo que dizer de cinema de terror e extremo?

A resposta, o mercado estará a dar-lhe por estes dias. A verdade é que a Filmtwist torna-se na maneira mais fácil de ver um cinema de arte e ensaio de género sem ser por via de pirataria mais preguiçosa. É o que é... Tem a ver com as contradições do mercado português, mas quando se pensa na primeira plataforma portuguesa de cinema é realmente a Filmtwist: a Opto aposta sobretudo nas séries e nos telefilmes e a Filmin, apesar de gestão nacional, é uma plataforma espanhola....

"O que posso dizer é que desde abril estamos a crescer, há cada vez mais gente a aderir à subscrição todos os meses. Agora lançámos as apps e ainda crescemos muito mais..., quase que arriscaria dizer que em dez dias duplicámos o que conseguimos nos últimos meses".

Numa altura em que em Portugal o consumidor tem de pensar: "ai, meu Deus: tenho os filmes da Fox na Disney + mas também faço questão de assinar a Prime Video, Sky Showtime, Netflix, a HBO Max e ainda a Filmin, já para não falar da Apple TV + e novas investidas de Hollywood", o que se responde quando localmente alguém investe em ter direitos de filmes que mesclam cinema de terror americano e do mundo ? Haverá dinheiro para tudo? "O mercado está saturado, mas, no nosso caso não haverá concorrência direta para filmes de género e, muito menos filmes de terror. Apostamos em filmes de cinema extremo, mas também em comédias com motivos satíricos... Estamos ainda a construir um catálogo e para o ano vamos ter coisas fortes", sublinha este amante do cinema de horror.

Além de inéditos, o prato forte da casa, a Filmtwist está a recuperar títulos de culto que há muito não apareciam no mercado, contratualizando clássicos de qualidade e não esquecendo o cinema português: Mutant Blast, de Fernando Alle, está finalmente em carteira, bem como curtas-metragens escolhidas pelo MOTELx. Filmes das "majors" americanas só mais para o futuro mas a ideia em investir em clássicos dos anos 1970 ou 80 já é uma realidade. Olhando para o catálogo, percebe-se que há ainda raridades, curiosidades e até filmes de série B que ganham o seu próprio encanto de serem "tão maus que ficam bons". Entre as novidades, destaca-se o cinema oriental com um título como A Idade das Sombras, de Mil-jeong, O Interminável, da dupla Aaron Moore e Justin Benson, ou Terrifier - O Início, de Damien Leone, o tal filme de terror que iniciou uma nova franchise. Um catálogo dividido entre terror, ficção-científica e thrillers e que no meio encontra comédias extremas como por exemplo Laranjas Sangrentas, de Jean-Christophe Meurisse, umas das surpresas do ano nos cinemas nacionais.

Na verdade, esta plataforma arrancou em abril mas era para ter arrancado antes. Diogo e alguns investidores só conseguiram operacionalizar a coisa mais tarde devido a direitos e outros constrangimentos. Não será fácil conseguir direitos para centenas de títulos, sobretudo quando o mercado português tem um colete de forças grande com os canais TVCine e há ainda a HBO Max a começar também a ir buscar muitos títulos independentes... "Quando tive a ideia há uns anos atrás só havia a Netflix. Agora, claro, o mercado está sobrecarregado e cabe às pessoas começar a fazer escolhas. No nosso caso, os fãs de filmes de género, não têm que fazer grandes escolhas: aqui temos a papa feita a nível de catálogo, por muito que a Netflix também tenha alguns filmes de género, mas muitos deles muito pouco interessantes e que já rodaram demasiado em canais e outras plataformas ou que não têm qualquer notoriedade. Enfim, é só para cumprir número. Na Filmtwist a quantidade não é tão importante - a prioridade é a qualidade e satisfazer os fãs deste género".

Se é verdade que pesquisando os títulos deste canal de streaming não se vê ainda aqueles filmes que estiveram em festivais recentes, isso também passa por dores de crescimento próprias das plataformas. Diogo explica: "No começo, a Netflix, a Sky Showtime ou a própria Disney, não tinham um catálogo inicial forte. Connosco é igual, não podemos de repente enfiar lá milhares de filmes... Os direitos não estão logo disponíveis e há que gerir isso. Além do mais, as pessoas também não têm tempo de ver tudo. Todos os meses colocamos cerca de 12 títulos novos. Até ao fim do ano vamos ter mais de 200 filmes!".

APOSTAS FILMTWIST

Besta

de Michael Pearce

Pequena produção britânica que em 2017 se tornou numa coqueluche no circuito dos festivais, tendo projetado os seus dois jovens atores, Jessie Buckley e Johnny Flynn. Uma história sobre uma jovem de uma comunidade remota inglesa que se sente atraída por um forasteiro com má fama. Entre o estudo de personagem e o thriller invisível, Beast é um filme para nos gelar a espinha e perguntar-nos à alma a razão pela qual temos tanta atração pelo fruto proibido.

Green Room

de Jeremy Saulnier

Este é um dos grandes filmes de culto disponíveis no catálogo. Um slasher que espantou a Quinzena dos Realizadores em 2015 e que nos coloca perante uma banda punk presa numa sala de espetáculos onde o público são skinheads sanguinários. Filme de extremos que provoca um efeito de carrossel de nervos. Com uma interpretação memorável de Anton Yelchin.

Deixa-me Entrar

de Tomas Alfredson

Talvez seja o filme sueco que faz figura de clássico na década anterior. Em 2008 chegava de mansinho esta história infantil sobre um primeiro amor. Uma criança vítima de bullying fica amiga de uma estranha rapariga que é, afinal, um vampiro. Poético, sereno e de uma beleza intemporal, Let the Right One In é um objeto que importa sempre rever.

dnot@dn.pt

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