Às vésperas da terceira edição do Meo Kalorama no Parque da Bela Vista, em Lisboa, os estabelecimentos das proximidades do recinto preparam-se para os três dias do festival que se inicia hoje e segue até a madrugada de sábado (31). A Pastelaria Parque da Bela Vista, situada em frente ao local onde o festival estará instalado nos próximos dias, é uma das únicas opções para os festivaleiros se concentrarem para comer ou beber antes do evento e que, nos dias de Meo Kalorama, tem a sua dinâmica adequada à demanda.“Para o festival, mudamos um pouco a estrutura: não deixamos a parte de dentro aberta, fica muita confusão. Fazemos duas bancas aqui à porta, uma para vender senhas em pré-pagamento e outra para levantar as cervejas, outras bebidas e também sandes e bifanas que fazemos aqui dentro”, conta Filipa Costa, funcionária da pastelaria..Filipa Costa da pastelaria Parque da Bela Vista.Paulo Alexandrino.Para Filipa, o Meo Kalorama traz aspetos positivos para as finanças do café, embora, por outro, atrapalhe um pouco a vida dos moradores e de quem trabalha na região..“Por um lado é bom, porque é o único café mesmo perto do parque. Portanto, as pessoas acabam por recorrer a nós e isso evidentemente melhora as finanças nestes dias. O complicado para pessoas como eu, que não vivo aqui, é efetivamente chegar no meu local de trabalho; fica quase impossível parar o carro. Fora para pessoas idosas aqui do bairro, que também têm a vida dificultada durante o festival”, completa Filipa, que deixará a pastelaria aberta até às 23.00 horas nos dias de Meo Kalorama..Bairro do Armador, perto do Parque da Bela Vista.Paulo Alexandrino.Em outro estabelecimento próximo ao recinto, um minimercado perto da parte de trás da pastelaria, Cátia Costa, enquanto atende aos clientes habituais, afirma que o abastecimento do minimercado é prejudicado com as imediações do parque rodeadas de gente nos dias de festival.“O festival atrapalha os negócios. Não podemos ir à avenida principal receber alguns produtos, fica fechada. Portanto, não recebemos tudo o que costumamos receber nos dias normais e de manhã acaba por faltar coisas para os nossos clientes aqui do bairro”, diz Cátia que, durante o M Kalorama, encerra o estabelecimento às 17.00 horas para evitar confusões e falta de estoque. Enquanto Cátia fala, Elvira Marques, uma das clientes habituais da mercearia, intervém também preocupada. Aos 80 anos, Elvira vive num dos prédios que ficam em frente ao parque: “Uma barulheira tão grande, Jesus. Felizmente este ano não tivemos o Rock in Rio”, diz aliviada. A residente, que faz tratamento de hemodiálise, faz coro ao discurso de Cátia sobre a problemática do fecho da Avenida Arlindo Vicente nos dias de festival..“Os bombeiros têm de me buscar e me trazer aqui, tanto na quinta-feira, quanto no sábado. E não sei como é que vão fazer com isso fechado. É bom que a polícia deixe passar, mas ainda não me avisaram nada”, diz Elvira..Outros residentes e trabalhadores do bairro reclamam da falta de uma contrapartida financeira para quem ali vive. No Rock in Rio, por exemplo, Elvira afirma que os moradores das imediações do Parque da Bela Vista recebiam dois bilhetes por casal. Já no Meo Kalorama, recebem um desconto de 50% para os bilhetes, algo que, para Elvira, não é grande vantagem: “São muito caros, para nós não vale a pena”, afirma. O bilhete diário tem o preço de 65 euros e passe para os três dias do festival custa 160 euros, mais as taxas (cerca de 171 euros).Mesmo preocupada, Elvira mostra bom humor ao falar do festival, especialmente por ver a zona onde vive “animada por jovens”. “Nós, que já estamos velhotes, até gostamos de ver essa juventude toda. Ver gente nova faz bem. Já tenho 80 anos, portanto alegra-me ver a zona viva, a receber tantos jovens que vêm cá para se divertir. Então, mesmo com o barulho, são só três dias, aguento. Desde que me busquem para fazer o tratamento, está tudo certo”, finaliza.