"Encontros na Cidade Proibida descreve viagem dos irmãos Francisca e Luís ao tempo do imperador Kangxi"
Foto: Paulo Spranger

"Encontros na Cidade Proibida descreve viagem dos irmãos Francisca e Luís ao tempo do imperador Kangxi"

Livro de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada será apresentado neste sábado em Lisboa. Wang Suoying, professora de língua e cultura chinesas, explica coleção editada pela Fundação Jorge Álvares.
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Qual o sentido de Cidade Proibida, o palácio no centro de Pequim. Que importância tem para a história chinesa?

O palácio imperial proíbe a entrada sem autorização, pelo que em chinês, a expressão “jincheng/cidade proibida” é sinónimo do palácio imperial. Mas o nome chinês da atual Cidade Proibida leva ainda o adjetivo “zi/púrpuro”, sendo Zijincheng, ou Cidade Proibida Púrpura. Esse adjetivo tem origem na astrologia. Os antigos astrólogos chineses dividiam o céu estrelado em várias zonas, sendo Ziweiyuan/Cidade Púrpura a zona central, com o Palácio Púrpura habitado por Deus do Céu. Os imperadores chineses consideravam-se “filhos do céu”, pelo que o imperador Yongle da dinastia Ming, que mandou construir a Cidade Proibida, incluiu “púrpura” no nome do seu palácio. A construção, que servia de palácio dos últimos 24 imperadores, foi classificada em 1987 como património mundial cultural. Representa não só um período importante da história chinesa como também o esplendor da arquitetura tradicional chinesa. Tendo subido ao trono em 1402, Yongle decidiu mudar a capital de Nanquim para Pequim, a fim de melhor controlar o país, resistir à invasão mongol e desenvolver o Nordeste. Mandou construir “o maior complexo de palácios que existe no mundo”, “em madeira, numa zona sísmica”, sem usar pregos ou parafusos, com as estruturas encaixadas umas nas outras na perfeição; “apesar de ter havido na zona vários terramotos, não houve uma única derrocada”.  

Este livro Encontros na Cidade Proibida é uma boa introdução ao tema?

Sim. O livro, escrito por Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada e editado pela Fundação Jorge Álvares, descreve uma viagem ao tempo do reinado de Kangxi, da dinastia Qing, que os dois irmãos Francisca e Luís fizeram, encontrando-se com os jesuítas Tomás Pereira e Gabriel, o imperador Kangxi e a princesa Rongxian, quando visitavam a Cidade Proibida. Fornece também informação histórica sobre a Cidade Proibida, os jesuítas, etc.

Esta coleção, da autoria de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada, tem já outros títulos. Quer explicar quais são?

Os outros são Missão Impossível (2014) e Navio Mistério, a Nau do Trato (2021). Todos os livros da coleção partilham a característica de combinar uma emocionante aventura protagonizada pelos seus jovens personagens com conteúdos históricos, tornando assim a sua leitura fácil, envolvente e ao mesmo tempo educativa.

O livro não tem fins comerciais. Qual o objetivo da Fundação Jorge Alvares?

A Fundação Jorge Álvares pretende preencher lacunas no conhecimento dos jovens sobre as relações de mais de 500 anos entre Portugal e a China e, com este livro em particular, revelar o papel dos jesuítas na História do relacionamento entre o Ocidente e o Oriente. Tal como aconteceu com os dois livros anteriores, este foi oferecido a mais de 1500 bibliotecas escolares e colégios privados em Portugal inteiro. A iniciativa está a ser atualmente divulgada em Macau. Os três livros da coleção encontram-se disponíveis em versão e-book na Biblioteca Digital da FJA, podendo ser gratuitamente descarregados através de https://jorgealvares.com/biblioteca-digital/.

Que outras atividades tem esta Fundação com o nome do primeiro português a chegar à China?

Gostaria de esclarecer primeiro que “Jorge Álvares” pode referir-se a dois homens distintos, ambos com relevância para as relações Portugal-China no século XVI. Um foi, como refere, o primeiro português a chegar à China e o outro, um rico mercador de Freixo de Espada à Cinta, envolvido no comércio luso-sino-nipónico. A Fundação Jorge Álvares, presidida pela Dra. Maria Celeste Hagatong e que completou 25 anos em dezembro de 2024, tem como missão reforçar o relacionamento luso-chinês através de Macau. É o principal mecenas do Centro Científico e Cultural de Macau [CCCM], apoiando exposições, conferências, publicações e fazendo investimentos no próprio CCCM, por exemplo, a instalação definitiva da Biblioteca “Fundação Jorge Álvares” e do acervo documental em 2022, a criação do Fundo Documental dos Governadores de Macau em 2023 e a Galeria dos Governadores de Macau em 2024. Nestas três iniciativas a Fundação Jorge Álvares despendeu mais de meio milhão de euros. Além disso, a Fundação Jorge Álvares atribui prémios e bolsas de estudo, financia projetos e promove iniciativas para fortalecer laços entre as comunidades macaenses no mundo. No total, a Fundação Jorge Álvares apoiou 23 exposições, 80 edições e 83 conferências, tendo investido cerca de cinco milhões de euros em atividades em Portugal e Macau.

A apresentação é neste sábado. É aberta ao público?

Sim, aberta ao público, sábado a 29 de março, às 15h30, na Associação Portuguesa dos Amigos da Cultura Chinesa, Rua Sarmento de Beires, 1, Areeiro, com alunos da Escola Chinesa Molihua a ler o livro em português e em chinês, além da sessão de autógrafos das autoras. Sejam bem-vindos ao evento. 

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