Do melodrama à rotina televisiva
Tendo como base o romance do húngaro Milán Füst (publicado em 1942), A História da Minha Mulher, de Ildikó Enyedi, evoca um velho fantasma da produção europeia: a acumulação redundante de meios. Ou ainda: a coprodução de vários países (Hungria, Alemanha, França e Itália) servida com diálogos em... inglês.
O ponto de partida possui uma sedutora vibração romanesca. Esta é a história de Jacob Störr, capitão da Marinha, que durante uma conversa com um amigo aposta que irá casar-se com a primeira mulher que entrar no café onde se encontram... Chega Lizzy e, pouco tempo depois, já estão casados.
Gijs Naber, intérprete de Jacob, consegue, pelo menos, expor o misto de lucidez e loucura que vai assombrando a sua personagem. No papel de Lizzy, Léa Seydoux aplica o mesmo tom excessivo, algo gratuito, que tem marcado alguns dos seus títulos mais recentes (com destaque para France, de Bruno Dumont). O saldo é inevitavelmente paradoxal: Enyedi procura os faustos do grande melodrama europeu, mas na sua evidente qualidade industrial A História da Minha Mulher fica-se por uma rotineira competência televisiva.
João Lopes