Descobrir o litoral português interpretado por artista romeno através de uma técnica japonesa
O jeito para o desenho notou-se logo quando era criança e vivia em Galati e, conta Roland Pangrati, os pais sempre incentivaram essa sua veia artística, acabando por formar-se na Faculdade de Artes de Bucareste. Agora, quem estiver em Lisboa vai poder descobrir as criações do artista romeno, um dos mais inovadores do seu país, graças à exposição “Caminho da Água e da Pedra”, que mostrará pinturas de Pangrati em que este usou a técnica japonesa Nihonga para retratar, de forma muito pessoal, o litoral português. “Descobri esta técnica, a Nihonga, numa primeira visita que fiz ao Japão em 2018. É uma técnica antiga, que consiste em pintar com rochas esmagadas, como a malequita, com conchas esmagadas também, de ostra, com possível adição ainda de partículas de cobre, prata e ouro. Tudo isto é misturado com uma cola especial chamada Nikawa. E a pintura é feita em papel Washi, um papel feito de forma tradicional, por artesãos muito especializados, e que usa fibra de Kozo, uma árvore japonesa. O método de fabrico do Washi é considerado património imaterial da humanidade pela UNESCO”, explica Pangrati, de 49 anos, que esteve antes em Portugal, em fevereiro, para percorrer quase todo o litoral e inspirar-se para os trabalhos que vão estar expostos de dia 10 de maio a 20 de junho no Instituto Cultural Romeno (ICR), em Lisboa, de segunda a quinta-feira das 10 às 14 e às sextas feiras das 10 ao meio dia.
“A história desta exposição começa com a inauguração de outra exposição em maio de 2019, na Universidade de Galati onde fiquei encantado com a abertura da exposição “Ressonância” do artista Roland Pangrati, altura em que percebi que gostaria de trabalhar com ele. Mais tarde, depois de mais conversas com o Roland, decidimos comemorar os 50 anos de democracia em Portugal, através do que mais gostamos, nomeadamente uma exposição de pintura a ela dedicada. Considerando o tema que consideramos representativo, escolhemos Roland Pangrati porque tem o dom de apresentar as paisagens representativas da costa portuguesa numa visão artística única, aliada a uma técnica de pintura extremamente rara no continente europeu, nomeadamente uma técnica tradicional japonesa que contribui de uma forma única para apresentar as encantadoras belezas naturais de Portugal”, conta Dinu Gindu, diretor do ICR, que acompanhou o artista na sua viagem por Portugal para ver, fotografar e filmar as paisagens marítimas que inspiram as pinturas.
“Fiquei muito impressionado pela costa portuguesa, pela beleza do encontro entre a terra e o mar, o azul selvagem do Oceano Atlântico”, sublinha Pangrati, que até viu uma das ondas gigantes que hoje em dia dão fama mundial à Nazaré. A Roménia, o mais oriental dos países latinos, no outro extremo da Europa, também tem litoral, mas banhado pelo Mar Negro.
Há trabalhos inspirados na costa Vicentina, também na Boca do Inferno, perto de Cascais, ou no litoral da Nazaré. E as dimensões podem ser de vários metros ou pequenos quadros. Uma das características da Nihonga é a fluorescência da pintura, acrescenta o artista romeno, que estudou na Faculdade de Artes de Tóquio para aprender o domínio técnica. A exposição foi organizada pelo ICR e pela embaixada da Roménia, mas teve a embaixada do Japão em Lisboa como parceira, pois Pangrati é um dos artistas europeus que se tem destacado na promoção do Nihonga. “Há mais alguns artistas a usar esta técnica na Europa, mas no meu caso procuro inovar aplicando também técnicas ocidentais”, afirma o artista, de regresso agora a Lisboa já com os seus trabalhos.
A fluorescência permitida pela Nihonga pode ser apreciada tanto com a luz do dia, como de noite, e por isso, explica o diretor do ICR, “vamos ter uma sala escura nesta exposição, para os visitantes poderem ter uma experiência mais completa”. Gindu conta ainda que procurou aprender junto do embaixador japonês em Portugal, Ota Makoto, mais sobre a Nihonga: “sua excelência impressionou-nos profundamente pelo seu conhecimento das técnicas e materiais tradicionais da pintura, bem como pela filosofia do ato artístico. Além disso, há outros dois elementos que deram origem a este projeto, elementos que ligam culturalmente Portugal, Japão e Roménia, nomeadamente a tradição dos laços diplomáticos entre o Japão e Portugal e o facto de Roland ter sido designado como o artista que realizou, em 2022, a exposição de pintura “A Lua brilha igual, que comemorou 100 anos de relações diplomáticas entre a Roménia e o Japão.”
“Caminho da Água e da Pedra”, que tem como curadora Cristina Simion, inclui parte sonora, pois à medida que se vão vendo as pinturas, vai sendo possível ouvir música composta por Eugen Dan Dragoi. “É uma experiência que creio que os portugueses vão apreciar. Vão poder ver as rochas na pintura. O efeito é uma espécie de 3D”, acrescenta Pangrati, num desafio a que se visite a exposição. O ICR fica em Alfama, na rua do Barão, 10.