É provável que ninguém pense em Baby Reindeer, um dos fenómenos Netflix do último ano, como uma série britânica ou... escocesa. Acima de qualquer pontinho no mapa, na altura da estreia, todas as atenções mediáticas se voltaram para o tema do stalking e para a desenvoltura do criador e protagonista, Richard Gadd, que conseguiu fazer de um trauma pessoal densa matéria dramática no pequeno ecrã. Mas vale a pena notar que não só Gadd é um comediante escocês, como parte da história se passa em Edimburgo, onde tudo começou na vida real - por isso, sim, senhoras e senhores, Baby Reindeer tem definitivamente uma costela escocesa.Serve este exemplo para dizer que, entre as séries que nos vão chegando do Reino Unido, é muito raro distinguir-se a ficção britânica de origem escocesa (exceção feita a Outlander, um drama histórico ambientado na Escócia), sendo Dept. Q um dos poucos casos em que se tem sublinhado a específica identidade da produção. Escocesa, bem entendido. Estreia ainda recente na Netflix, este é um dos melhores títulos do momento na plataforma, um thriller com a sua malha detetivesca a envolver-nos na frieza da psicologia criminosa sob o céu cinzento de Edimburgo.Baseada no primeiro livro da série homónima do escritor dinamarquês Jussi Adler-Olsen, e criada por Scott Frank (o mesmo autor de Gambito de Dama), Dept. Q põe em marcha aquilo que poderá ser um mecanismo ficcional para várias temporadas. No coração nebuloso de nove episódios deparamos com o mau-feitio aliciante de Carl Morck, um detetive da polícia escocesa (já sobejamente comparado ao Dr. House) a quem é oferecida uma cave e uma pilha de casos arquivados, que ele, autodenominado génio, deve tentar resolver... Mesmo que ainda esteja a lidar com uma complexa situação de trabalho que o afetou psiquicamente. Quem quer ajudar Morck nesta tarefa? Um sírio com um passado interessante em investigação e uma colega desajustada no departamento: duas personagens secundárias (e afinal, não tão secundárias assim) que garantem a solidez de uma dinâmica infalível, encabeçada por Matthew Goode.Outras séries escocesas a descobrir:VIGIL Onde ver: Disney+.Este êxito da BBC já vai na segunda temporada e começou por ser uma peça de alta tensão em águas profundas: na sequência de uma morte dentro de um submarino chamado Vigil, a detetive Amy Silva (Suranne Jones) é convocada para uma sigilosa investigação no interior desse navio de guerra submerso, que se tornará uma dupla experiência de claustrofobia, entre estranhos obstáculos ao seu trabalho e memórias traumáticas. Ao longo de seis excelentes episódios, que complementam o funcionamento interno do submarino com parte da investigação em terra, vai-se montando o puzzle de um mapa emocional, à medida que a paranoia a bordo atinge níveis trepidantes. A nova temporada, sem sinais de confinamento, vira-se para outro contexto militar: a força aérea.THE NESTOnde ver: Disney+ .No mesmo catálogo de streaming encontramos este exemplar drama doméstico com acentuados contornos de thriller. Ambientado em Glasgow, The Nest desfia a história enigmática de uma jovem de 18 anos que surge na vida de um casal abastado, com problemas de fertilidade, oferecendo-se para carregar no seu ventre o bebé de ambos, naquilo que virá a ser um caso muito obscuro de gestação de substituição... Sem conhecerem nada do passado de Kaya (Mirren Mack), que os consegue convencer de um suposto desejo de “altruísmo bem pago”, Emily e Dan (ele um autêntico self-made man local) deixam-se levar na armadilha da, porventura, pior decisão das suas vidas.E daí, mais vale não nos precipitarmos no julgamento das personagens: os cinco episódios desta minissérie dão muitas voltas e põem a narrativa humana acima dos clichés de vítimas e vilões.DINOSAUR Onde ver: Filmin.Se a ideia é antes saborear uma boa comédia escocesa, Dinosaur (também com Glasgow em pano de fundo) enche as medidas. Chegou no final do último ano à Filmin e surpreende, desde logo, pela proposta: uma sitcom que retrata o autismo a partir de uma pessoa autista na vida real. Com argumento coassinado pela própria Ashley Storrie, que interpreta Nina, uma paleontóloga a trabalhar no Museu e Galeria de Arte de Kelvingrove, a série de seis episódios anda à volta da notícia de casamento da irmã da protagonista - por sinal, a sua melhor amiga - e os efeitos dessa perspetiva de mudança na lógica quotidiana e afetiva de Nina.Recheada de um humor tão peculiar quanto o é a realidade de alguém neuroatípico, Dinosaur traz ao ecrã a aventura dos pequenos fenómenos do dia-a-dia, contada por quem olha o autismo sem tabus.
É provável que ninguém pense em Baby Reindeer, um dos fenómenos Netflix do último ano, como uma série britânica ou... escocesa. Acima de qualquer pontinho no mapa, na altura da estreia, todas as atenções mediáticas se voltaram para o tema do stalking e para a desenvoltura do criador e protagonista, Richard Gadd, que conseguiu fazer de um trauma pessoal densa matéria dramática no pequeno ecrã. Mas vale a pena notar que não só Gadd é um comediante escocês, como parte da história se passa em Edimburgo, onde tudo começou na vida real - por isso, sim, senhoras e senhores, Baby Reindeer tem definitivamente uma costela escocesa.Serve este exemplo para dizer que, entre as séries que nos vão chegando do Reino Unido, é muito raro distinguir-se a ficção britânica de origem escocesa (exceção feita a Outlander, um drama histórico ambientado na Escócia), sendo Dept. Q um dos poucos casos em que se tem sublinhado a específica identidade da produção. Escocesa, bem entendido. Estreia ainda recente na Netflix, este é um dos melhores títulos do momento na plataforma, um thriller com a sua malha detetivesca a envolver-nos na frieza da psicologia criminosa sob o céu cinzento de Edimburgo.Baseada no primeiro livro da série homónima do escritor dinamarquês Jussi Adler-Olsen, e criada por Scott Frank (o mesmo autor de Gambito de Dama), Dept. Q põe em marcha aquilo que poderá ser um mecanismo ficcional para várias temporadas. No coração nebuloso de nove episódios deparamos com o mau-feitio aliciante de Carl Morck, um detetive da polícia escocesa (já sobejamente comparado ao Dr. House) a quem é oferecida uma cave e uma pilha de casos arquivados, que ele, autodenominado génio, deve tentar resolver... Mesmo que ainda esteja a lidar com uma complexa situação de trabalho que o afetou psiquicamente. Quem quer ajudar Morck nesta tarefa? Um sírio com um passado interessante em investigação e uma colega desajustada no departamento: duas personagens secundárias (e afinal, não tão secundárias assim) que garantem a solidez de uma dinâmica infalível, encabeçada por Matthew Goode.Outras séries escocesas a descobrir:VIGIL Onde ver: Disney+.Este êxito da BBC já vai na segunda temporada e começou por ser uma peça de alta tensão em águas profundas: na sequência de uma morte dentro de um submarino chamado Vigil, a detetive Amy Silva (Suranne Jones) é convocada para uma sigilosa investigação no interior desse navio de guerra submerso, que se tornará uma dupla experiência de claustrofobia, entre estranhos obstáculos ao seu trabalho e memórias traumáticas. Ao longo de seis excelentes episódios, que complementam o funcionamento interno do submarino com parte da investigação em terra, vai-se montando o puzzle de um mapa emocional, à medida que a paranoia a bordo atinge níveis trepidantes. A nova temporada, sem sinais de confinamento, vira-se para outro contexto militar: a força aérea.THE NESTOnde ver: Disney+ .No mesmo catálogo de streaming encontramos este exemplar drama doméstico com acentuados contornos de thriller. Ambientado em Glasgow, The Nest desfia a história enigmática de uma jovem de 18 anos que surge na vida de um casal abastado, com problemas de fertilidade, oferecendo-se para carregar no seu ventre o bebé de ambos, naquilo que virá a ser um caso muito obscuro de gestação de substituição... Sem conhecerem nada do passado de Kaya (Mirren Mack), que os consegue convencer de um suposto desejo de “altruísmo bem pago”, Emily e Dan (ele um autêntico self-made man local) deixam-se levar na armadilha da, porventura, pior decisão das suas vidas.E daí, mais vale não nos precipitarmos no julgamento das personagens: os cinco episódios desta minissérie dão muitas voltas e põem a narrativa humana acima dos clichés de vítimas e vilões.DINOSAUR Onde ver: Filmin.Se a ideia é antes saborear uma boa comédia escocesa, Dinosaur (também com Glasgow em pano de fundo) enche as medidas. Chegou no final do último ano à Filmin e surpreende, desde logo, pela proposta: uma sitcom que retrata o autismo a partir de uma pessoa autista na vida real. Com argumento coassinado pela própria Ashley Storrie, que interpreta Nina, uma paleontóloga a trabalhar no Museu e Galeria de Arte de Kelvingrove, a série de seis episódios anda à volta da notícia de casamento da irmã da protagonista - por sinal, a sua melhor amiga - e os efeitos dessa perspetiva de mudança na lógica quotidiana e afetiva de Nina.Recheada de um humor tão peculiar quanto o é a realidade de alguém neuroatípico, Dinosaur traz ao ecrã a aventura dos pequenos fenómenos do dia-a-dia, contada por quem olha o autismo sem tabus.