Depp vs Heard: violência doméstica, drogas e áudios polémicos
Chegou ao fim a terceira semana do julgamento que opõe o ator Johnny Depp à ex-mulher, a atriz Amber Heard. Depp acusa Heard de difamação e pede 47 milhões de euros de indemnização, garantindo que nunca bateu na ex-mulher. A atriz processou-o de volta, com um pedido de indemnização de cerca de 84 milhões de euros.
O litígio em tribunal nasceu de um artigo de opinião que Heard escreveu para o Washington Post, no qual se autodenominou vítima de violência doméstica, numa coluna do prestigiado jornal norte-americano. No texto, a atriz não menciona o nome do abusador em questão, mas o espaço temporal a que aponta incide sobre o período em que teve uma relação com Johnny Depp.
O popular ator, então um dos mais requisitados em Hollywood, processou a ex-mulher por considerar que o texto prejudicou a sua reputação e carreira, tendo sido dispensado pela Disney do papel como Jack Sparrow, da famosa trilogia Piratas das Caraíbas, segundo conta o The Guardian.
Nas sessões já realizadas até agora, a equipa de advogados de Heard retratou Johnny Depp como um parceiro abusivo, propenso a uso excessivo de drogas e álcool. Do outro lado, os advogados de Depp apresentam as alegações de violência doméstica de Amber Heard como uma "farsa" e como uma estratégia calculada para arruinar a reputação do ator.
Isaac Baruch, amigo de infância de Depp, foi chamado a depor na primeira semana. Baruch afirmou nunca ter presenciado nenhum tipo de violência doméstica vindo de qualquer membro da relação.
Questionado sobre uma discussão que o casal teve a 21 de maio de 2016, Baruch afirmou que Heard foi ao seu encontro no dia seguinte, dizendo-lhe que Depp tinha sido violento, tendo-lhe atirado com um telemóvel e agredindo-a.
"Eu estava a olhar para Amber e não via nada... Não vi um corte, uma negra, inchaço. Apenas a cara de Amber", lembrou o amigo do casal sobre esse dia. Baruch insistiu, também, que a atriz não estava a utilizar maquilhagem.
Também testemunharam no tribunal David Kipper, contratado em 2014 para tratar o vício de opioides de Depp, e Laurel Anderson, terapeuta de casal.
Kipper afirmou nunca ter visto violência física entre o casal, apesar de mostrar preocupação pela (falta de) sobriedade do ator, assim como com o impacto que os telefonemas entre Depp e Heard teriam no comportamento dele.
Por outro lado, Anderson defendeu que o casal cometeu o que a mesma considerou ser "abuso mútuo".
Mas o momento alto do julgamento até agora foi a altura do depoimento do ator norte-americano, numa sucessão de perguntas que durou dias.
O ator abordou o famoso tema das drogas e álcool, contado que cresceu com uma mãe abusadora com os mesmos vícios e atribuindo-lhe a culpa. Depp explicou que começou por tomar os comprimidos da mãe, com 11 anos, para se acalmar, acrescentando ainda que, ao crescer, nunca tomou nenhum tipo de droga ou álcool para se "divertir", mas sim com o objetivo de relaxar.
Depp afirmou na sala de audiência que, após ter tido o seu dedo cortado numa discussão com Amber Heard, em 2015, jurou nunca mais se drogar com opioides, independentemente de quão desconfortável ou dorido estivesse, e que manteve essa promessa.
Afirmando que as alegações que Heard fez de violência doméstica eram "diabólicas", o ator referiu ter sido "um choque completo" ser confrontado com as denúncias da ex-mulher. "Houve discussões e coisas dessa natureza, mas nunca cheguei ao ponto de bater na Sra Heard, de maneira alguma, nem nunca bati em ninguém na minha vida", acrescentou.
"Não importa o resultado final deste julgamento, quando as acusações sobre mim foram feitas, quando isso aconteceu, eu já perdi...", desabafou Depp no segundo dia em que foi chamado a depor.
Um dos momentos mais comentados sobre a relação do casal é o episódio em que Amber Heard terá defecado na cama do casal.
O ator contou ao júri que, após ter avisado Heard de que planeava pedir o divórcio, foi ao centro de Los Angeles para recolher alguns dos seus pertences e ter uma conversa com a atriz.
O tópico era uma foto que o ator tinha visto, após ter mudado de casa, que mostrava fezes no seu lado da cama. A foto foi-lhe mostrada por um dos seus seguranças e Depp acusa a ex-mulher de o ter feito, enquanto a atriz culpa os cães.
O ator afirmou, ainda, que a sua resposta inicial foi rir-se. "Eu estava fora de casa, era uma situação tão bizarra e tão grotesca que tudo o que eu conseguia fazer era rir", acrescentou.
O ator descreveu com pormenores a discussão que teve com Amber Heard durante a qual a atriz lhe terá atirado com uma garrafa de vodka, cortando-lhe parte de um dedo. "Ela agarrou a garrafa e atirou-a contra mim", contou.
"Não senti nenhum tipo de dor no início", admitiu. "Senti calor e como se algo estivesse a pingar pela minha mão abaixo." Quando olhou para a mão, foi surpreendido pelo ferimento. "Estava a olhar diretamente para o meu osso. Havia sangue por todo o lado", diz Depp.
Em tribunal, foi passada uma gravação áudio em que se pode ouvir a atriz a admitir uma agressão contra Depp.
O áudio retrata uma conversa em que o ex-casal discute se Amber agrediu Depp. "Tu disseste-me para o fazer. Tu disseste-me "faz isso"", afirma Heard no áudio. "Deste-me um murro", responde Depp. "Desculpa se não te bati na cara com um estalo "em condições". Eu estava a bater-te, não a dar-te murros. Não levaste um murro", adiciona Heard.
Johnny Depp terminou o seu testemunho defendendo que é ele a vítima de violência doméstica na relação, tendo sido divulgada outra gravação áudio em que se ouve Heard a dizer ao ex-marido: "Conta ao mundo Johhny, diz-lhes: eu, Johnny Depp, um homem, sou vítima de violência doméstica, e vê quantas pessoas vão acreditar em ti ou ficar do teu lado".
O julgamento está agendado para, pelo menos, seis semanas de duração, contando ainda com o testemunho de Amber Heard, assim como mais amigos e familiares.